Pandemia, quarentena e o ajuste das velas no mercado jurídico
Apesar de existirem vários estudos e exemplos sobre aumento de produtividade utilizando essa tecnologia, escritórios de advocacia ainda de utilizavam bastante das reuniões presenciais, baseados no conceito da privacidade e segurança, mas novamente os acontecimentos forçaram uma mudança de hábito.
sexta-feira, 8 de maio de 2020
Atualizado às 10:54
Existe um antigo pensamento que diz: "O pessimista se queixa do vento; O otimista espera que ele mude; O realista ajusta as velas." (atribuído à William George Ward) e que se encaixa perfeitamente na análise do momento que estamos vivendo.
Tenho acompanhado com bastante atenção o teor das publicações nas mídias sobre a sociedade, economia, saúde, negócios etc., classificando-as na minha mente basicamente em duas grandes categorias: as otimistas e as pessimistas.
As otimistas são extremamente importantes neste momento tão difícil e que tem nos ajudado a manter as esperanças, nos dando um pouco mais de suporte emocional. Frases do tipo: "tudo vai passar" "juntos venceremos", "aguente firme", "sairemos mais fortes" , etc. são de cunho absolutamente emocional, importantes repito, mas não nos fornece nenhuma ferramenta pratica que nos possa auxiliar a enfrentar os desafios atuais e futuros.
As pessimistas, na sua maioria se referem às previsões sombrias quanto à recessão que se avizinha e noticiando números alarmantes de desempregados , empresas em dificuldades econômicas, sem falar obviamente dos números da própria doença. Seguindo o mesmo raciocínio, são informações também muito importantes que devem ser dadas, mas que só acrescentam mais ansiedade e medo na grande maioria das pessoas e novamente não nos dá nenhuma ferramenta para nos ajudar.
Na prática temos que tentar sair da catarse e começar tomar atitudes para o enfrentamento e como já comentei anteriormente, precisamos separar claramente as duas fases principais desse nosso ajuste interno.
Na primeira, o ajuste se baseia numa tática de sobrevivência, quando devemos tomar toda e qualquer atitude que estiver ao alcance para tentar manter nosso negócio "em pé" (já discutido em artigo publicado)
A segunda é ajustar as velas (para aqueles que conseguirem passar pela primeira) e é também extremamente desafiadora, mas tem uma única vantagem: está nos dando um pouco mais de tempo para pensar e fazer os ajustes.
O grandes desafios para se planejar para o futuro próximo são: primeiro que não temos nenhuma referência de experiências anteriores para nos basear e nos ajudar a prever como as coisas serão e segundo; também não temos a menor ideia de quanto tempo isso vai durar (Fabio Coelho, presidente do Google cita em entrevista ao Estadão no último dia 30/04 "Quem tiver prazo para a retomada está jogando na loteria").
Uma coisa é certa: o novo normal não será nem de perto parecido com o normal que vivíamos há alguns meses e para enumerar as dúvidas que estão na mente de todo gestor de Escritórios de Advocacia cito apenas algumas mais importantes:
- Quais atividades econômicas que meu negócio está mais ligado e como isso me afetará ?
- Quais, dos meus clientes, serão mais afetados e como isso impactará minhas receitas?
- Como será o compartimento dos atuais e novos clientes em relação à contratação de novos serviços ?
- Como ficarão meus concorrentes?
- Quais mudanças comportamentais impactarão a minha equipe ?
Apesar de existirem muito mais dúvidas do que certezas, algumas coisas já vêm se delineando como possíveis mudanças que se incorporação no dia-a-dia dos escritórios.
O chamado "home office" aparentemente é um deles; Até pouquíssimo tempo atrás, uma grande maioria de escritórios já vinham provendo essa facilidade a seus colaboradores, porém apenas utilizada de modo esporádico e por alguns mais tecnológicos. Os acontecimentos forçaram a utilização em massa dessa forma de trabalho e de novo repetindo, não sabemos ainda como isso de acomodará no futuro. Provavelmente num patamar muito mais intenso do que no passado recente.
As reuniões virtuais realizadas por vídeo conferência também foram outra mudança imposta pela quarentena e que surpreendeu bastante, não pelo fato de ser novidade e sim por ter se mostrado mais eficiente que as reuniões presenciais. Pasmem!
Apesar de existirem vários estudos e exemplos sobre aumento de produtividade utilizando essa tecnologia, escritórios de advocacia ainda de utilizavam bastante das reuniões presenciais, baseados no conceito da privacidade e segurança, mas novamente os acontecimentos forçaram uma mudança de hábito. Conversando com várias pessoas que utilizam essa facilidade, tem sido reportado (sem nenhuma comprovação cientifica) que as reuniões virtuais tendem a ser muito mais objetivas, rápidas e com menos distrações. Aquela famosa olhadinha no celular enquanto outra pessoa está falando, torna-se muito mais difícil nas reuniões virtuais, pois estamos sempre "cara-a-cara".
Essas duas mudanças (se persistirem definitivamente no futuro) representam apenas a ponta do iceberg sobre tudo o que efetivamente será alterado e novamente, não temos a menor ideia do que virá, mas devemos utilizar o tempo que nos foi imposto para pensar e ajustar as velas do negócio
- Desenvolver um trabalho interno profundo de autoconhecimento do seu negócio (utilizando ferramentas de planejamento estratégico, tais como análise SWOT, analise OKR, matriz BCG, etc.).
- Repensar seu planejamento estratégico anterior se existir, ou elaborar urgentemente um atualizado.
- Rever sua política de investimentos em tecnologia, aumento significativamente seu budget com foco em telecomunicações.
- Analisar friamente sua estrutura de custos e despesas e tentar minimizá-la ao máximo, não caindo na tentação e simplesmente diminuir a folha de pagamento.
- Rever ou criar processos de avaliação de desempenho de setores, equipes, profissionais, sócios, etc., sempre com o intuito de focar energias e minimizar ineficiências.
- Rever (ou criar) sua estrutura e procedimento decisórios para tornar seu negócio mais ágil e eficiente.
- Extrair o maior números possível de dados e informações relevantes e confiáveis para o embasamento na tomada de decisões ("data centric management")
- Tentar criar novos produtos ou serviços atraentes e competitivos (mais baratos)
- Rever suas políticas, táticas e investimentos em marketing e comunicação institucional.
- Fazer tudo o que for possível para se aproximar mais dos clientes e fidelizá-los (com eventuais sacrifícios financeiros).
Tudo isso parece e é obvio, mas infelizmente, nos tempos de vacas gordas, vários escritórios de advocacia se descuidaram de alguns desses pontos. Ajuste suas velas urgentemente!
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*José Paulo Graciotti é consultor e sócio da GRACIOTTI Assessoria Empresarial.