Stones & U2 Advogados
Assim como no rock, o tempo da reinvenção e da advocacia 4.0 já começou.
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
Atualizado às 11:52
Não... Mick Jagger, Bono Vox e seus velhos companheiros de estrada não decidiram abandonar a música e fundar uma banca de advogados com sede em Londres e Dublin. Não... Porém, é impossível não olhar para as duas maiores bandas em atividade no mundo do rock. É inquestionável que os Rolling Stones e o U2 sejam ótimos exemplos de longevidade e sucesso. Eles inspiram a pensar em trabalho de equipe bem sucedido. E é esse o tema deste artigo.
A primeira banda, ninguém contesta, é formada por dinossauros gigantes do rock contemporâneo - os setentões provocadores Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts. Formado na Inglaterra em 1962, os Rolling Stones estão entre as bandas mais antigas em turnê. Em mais de 50 anos de carreira, hits como "Satisfaction", "Start Me Up", "Sympathy for the Devil", "Jumping Jack Flash", "Miss You" e "Angie" fizeram dos Stones uma das mais emblemáticas bandas do rock mundial. Tiveram seus altos e baixos, claro, mas o mais incrível é que eles deram a volta por cima e continuam eletrizantes, trazendo inovações a cada trabalho e fazendo o que eles sabem de melhor: o rock n'roll de raiz.
A segunda, conclamada como a maior (pelos shows) e melhor (em atividade), tem em sua composição Bono Vox, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen, Jr., e foi formada em Dublin (Irlanda) em 1976. Esses quatro colegas de colégio disseram certa vez que só são bons porque tocam juntos já que sozinhos, modestamente se consideram músicos medianos. Eles são também conhecidos pela sua participação ativa em causas políticas e de defesa dos direitos humanos, em especial o líder da banda, Bono. Com mais de 40 anos de atividade, suas músicas se tornaram verdadeiros hinos: "Sunday Bloody Sunday", "Pride (in the name of love)", "Miss Sarajevo", "Beautiful Day", "One", "With Or Without" e "I still haven't found what I'm looking for".
Duas bandas diferentes na forma e na música que fazem, mas talvez não na essência, se focarmos o trabalho em si que realizam e o que conseguem atingir com esse trabalho. Inovação, carisma, disciplina, foco, posicionamento, personalidade e espírito de equipe são atributos fáceis de detectar tanto nos Stones como no U2.
E o que isso tem a ver com a advocacia? Bem, se estamos falando em trabalho de equipe, tem tudo a ver!
Imagine dois escritórios de advocacia: um que reúna grandes pensadores do meio jurídico, cujos nomes se tornaram relevantes razões técnicas e de ordem profissional (claro!); e outro que agregue profissionais medianos que funcionem muito bem juntos em virtude da complementariedade que cada um significa para o outro.
Qual das duas bancas será mais bem sucedida, reconhecida e alcançará a longevidade? O escritório das estrelas do Direito? Ou o dos profissionais medianos que trabalhem bem juntos? Ou ambas? Respostas difíceis para perguntas difíceis.
Porém, a chave do sucesso, se traçarmos um paralelo entre as bandas de rock e as bancas de advogados, está em "como" o trabalho será realizado. Deve haver um foco, vocação reconhecida, persistência quase obsessiva, disciplina espartana e vontade, mas muita vontade de querer realizar algo importante juntos porque todos ali gostam do que fazem. Estar no lugar certo e na hora certa também conta, claro. Mas de nada adiantará se os ingredientes que citamos não estiverem presentes.
Também irá contar a atenção que é dada às pessoas e suas respectivas funções. Muitas vezes estamos com as pessoas certas e não nos damos conta disso. Afinal, cada um de nós é um talento. Porém, quando não observarmos com atenção, acabamos colocando pessoas erradas em funções erradas. De que adianta forçar um advogado estudioso, circunspeto e fechado na captação de clientes? De que adianta determinar uma função mais reflexiva e estratégica para aquele que gosta de movimento, de interagir com pessoas e se comunicar? Claro que muito pode e deve ser aprendido durante uma carreira, uma vida, mas sempre seremos o que somos na essência. Respeitar a individualidade e o potencial de cada um dentro da equipe catapulta os resultados para o alvo que foi traçado.
Escolher as pessoas certas para seguirem conosco na jornada também é fundamental. Boas doses de pesquisa, análise, intuição e informação podem ajudar nessa hora. Na base do chute ou do Q.I. (quem indica) sua banca nunca chegará às paradas de sucesso. O elemento humano é que vai fazer toda diferença.
Os escritórios do nosso exemplo podem sim ser bandas, digo, bancas bem sucedidas. Não importa se formada por estrelas ou bons companheiros de trabalho. Se cada um souber ao certo a sua função e der chance para o outro brilhar também; se cada um souber que existe um objetivo comum a ser perseguido; se cada um souber controlar seu ego e respeitar o grupo; se cada um souber que sozinho é força isolada e menos potente que dentro de uma equipe; se cada um capacitar seus olhos para enxergar o que o cliente quer; se cada um sair da teoria e for para a prática, fazendo do dia-a-dia o palco de boas atitudes que gerem resultado; se isso tudo acontecer, dificilmente não acontecerá o sucesso.
Os Rolling Stones e o U2 já ganharam sua imortalidade, pois o trabalho que realizam em equipe, com cada integrante atingindo a melhor performance possível em sua respectiva função: vocal, guitarra, baixo, bateria, piano etc., com o olhar atento ao que o público quer, sem medo de ousar e ser únicos, mantendo-se antenados com o que acontece na atualidade, os fizeram construir músicas clássicas do rock moderno. Isso tudo porque eles souberam se reinventar no transcorrer de suas décadas de sucesso.
Assim como no rock, o tempo da reinvenção e da advocacia 4.0 já começou. Então, reúna a sua equipe, trace um objetivo, crie suas teses, organize o trabalho e performe para o seu público. It's only rock 'n roll and we like it!
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*Lara Selem é advogada, escritora, palestrante e consultora especialista em Planejamento Estratégico e Sociedades de Advogados. Sócia-fundadora da Selem Bertozzi Consultoria.