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A (re) humanização da advocacia

Revistamo-nos de humanização e empatia em favor até de sua própria sobrevivência, não transformando a nossa profissão num oceano vermelho - um ambiente hostil de competição acirrada e sem valores éticos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Atualizado em 15 de fevereiro de 2019 16:43

Empatia, origem no termo grego empatheia, que significava "paixão". A empatia consiste em, de acordo com o dicionário Aurélio, em uma identificação intelectual ou afetiva de um sujeito com uma pessoa, uma ideia ou uma coisa.

Os maiores líderes da atualidade insistem em nos ensinar que, antes de procurarmos uma profissão, precisamos procurar nossa paixão. Pois bem, considerando que você leitor e leitora, encontraram a sua na advocacia, é que proponho uma reflexão: colocar-se no outro lado da mesa, sentir o que a parte sente, suas angústias, medos, dúvidas e as alegrias.

Esta inversão de papéis é o ponta pé inicial necessário para a adoção de novas práticas, que transformem a letra fria da lei em um acompanhamento profissional muito próprio. Essa aproximação com o cliente é um poderoso instrumento para atingir melhores e maiores resultados: a partir do momento que o advogado compreende verdadeiramente a atribulação do cliente, a tendência natural é lutar com mais convicção, tem-se mais foco no objetivo final.

A prática da humanização não faz do advogado um tolo, faz dele um profissional comprometido com a responsabilidade, que é acima de tudo, social. Lidamos todos os dias com vidas: sejam liberdades, direitos fundamentais, essenciais, e, mesmo quando não são, constitucionalmente falando, são do ponto de vista individual da parte. Não cabe ao advogado fazer apontamentos e julgamentos do que é mais ou menos grave. Do que é mais ou menos importante. Se há uma pessoa sentada diante de você confessando seus piores pecados, dividindo seus maiores desesperos, quem somos nós a julgar a significância da circunstância? 

Não há como fugir que estamos vivendo a bordo de uma revolução industrial em que se converge a tecnologia e a informação. Com isso, traz-se a carência inóqua pelos títulos. As titularidades de um profissional se fazem importante diante da concorrência bem como para o próprio crescimento, mas esta corrida não deve se sobrepor aos valores humanos. É preciso resgatar o requisito primeiro da advocacia, a paixão, para só assim ser possível restaurar o espírito humano, aconselhador e conciliador diante do cliente.

Reflexões se fazem necessárias: se o advogado se permitir a mudança de papel momentaneamente? Se conseguir enxergar a história por trás de uma ação judicial? Com essas respostas, podemos internalizar outro questionamento:

Os meus clientes têm o prazer em me ter como procurador? Ou estou sendo somente uma obrigação de pagar honorários?

Temos vivido tempos de constantes conflitos que exigem reafirmações de valores, de ética e de princípios. Por implicar em um limiar árduo entre se fazer escutar e através da sua voz dar sentido ao direito do cliente, é que é preciso entender quem está do outro lado.  Esse posicionamento é essencial para o desenvolvimento eficaz do nosso trabalho, reverberando em um atendimento resolutivo, proativo e mais célere.

Revistamo-nos de humanização e empatia em favor até de sua própria sobrevivência, não transformando a nossa profissão num oceano vermelho - um ambiente hostil de competição acirrada e sem valores éticos.

Rui Barbosa sob esse prisma nos deixa uma importante lição: "Não fazer da banca balcão, ou da ciência mercatura. Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis. Servir aos opulentos com altivez e aos indigentes com caridade. Amar a pátria, estremecer o próximo, guardar fé em Deus, na verdade e no bem".

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*Glicia Galdino Pacheco é advogada, especialista em penal e processo penal, e direito francês.

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