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A literatura do Direito na era digital

Juliana Ono

É errado pensar que os livros físicos acabarão, até por conta de estudiosos e admiradores que preferem as versões impressas, e não há tecnologia que reverta esse hábito.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Atualizado em 11 de outubro de 2019 16:49

Não é novidade que os avanços da tecnologia trouxeram uma nova visão de mundo para as pessoas de diferentes países e culturas. Mudaram profundamente hábitos de trabalho, lazer, mobilidade, relacionamentos, consumo... a lista é infinita. O volume de informação e a praticidade oferecida por esses avanços também têm mudado um dos hábitos mais tradicionais e antigos do mundo: a leitura. Cada vez mais, a literatura impressa tem perdido espaço para os conteúdos digitais, disponíveis em diferentes plataformas e gadgets. Essa realidade também nos conduz a repensar a dinâmica de algumas profissões, em especial a do Direito, conhecida pela necessidade intensa e constante de busca por conhecimento e referências específicas, o que tem feito com que editoras busquem tecnologias alternativas para atrair e apoiar esse público.

Segundo uma pesquisa da PwC, a venda de livros físicos no país decresce 1% ao ano. Dado preocupante, se pensarmos que a mesma instituição indica que a maior receita ainda vem do impresso. E esse cenário se agrava ainda mais quando percebemos que boa parte das universidades brasileiras, para reduzir os espaços físicos das suas bibliotecas, passaram a comprar as versões digitais das editoras.

Por outro lado, no início deste ano, o IDC afirmou que, entre 2016 e 2017, a venda de smartphones aumentou perto de 10% no Brasil. Já a compra de tablets segue decrescendo cerca de 13% no mundo. Além disso, o Google detectou que em três anos, o consumo de vídeos via internet cresceu 90% entre os brasileiros.

Com esses números, nós podemos concluir que a população brasileira tem consumido diversos conteúdos via celular. Esse novo comportamento tem levado os "internautas" a adquirir combos de plataformas digitais, onde a um baixo custo mensal, é possível acessar um portfólio variado de filmes, documentários, músicas e seriados. E com todas essas facilidades, as livrarias sentiram a redução do fluxo de pessoas em seus pontos de venda.

A internet, sem dúvida, nos dá o poder de acessar as mais diferentes temáticas. Porém, ela não pode oferecer ao leitor a curadoria dessas informações ou assegurar que esses dados sejam confiáveis. Com os conteúdos técnicos, a falta desses dois elementos pode prejudicar não só o aprendizado como até decisões profissionais do pesquisador. Por esses motivos, algumas livrarias e editoras passaram a adotar os ebooks, para assim disponibilizar as suas edições no formato digital.

No caso dos juristas e estudantes de Direito, essa situação se agravaria ainda mais, por conta dos muitos materiais pesquisados serem sobre legislação. Mesmo com essa insegurança em relação à fonte desses dados, até para tornar mais dinâmicas as pesquisas de trabalho, advogados passaram a consumir esses materiais por meio de plataformas tecnológicas. Um bom exemplo dessa mudança é o que a revista dos Tribunais, selo editorial da Thomson Reuters, tem feito para inovar junto aos seus consumidores. A editora, que há 106 anos publica livros voltados ao Direito, passou a publicar títulos do seu portfólio em seu blog, redes sociais e vídeos, que são disponibilizados gratuitamente em sua plataforma. Porém, antes de publicados, todos os assuntos passam por uma curadoria criteriosa, mantendo a qualidade técnica que a fez ser referência na área.

Outra importante tecnologia criada pela revista dos Tribunais é o aplicativo Proview, que quando "baixado" em smartphones e iPhones, possibilita o acesso, na íntegra, às versões digitais do selo, e a todos os conteúdos relacionados a um determinado tema. Essas soluções podem tornar a rotina dos advogados mais prática, para que esses profissionais possam se dedicar a outras atividades e causas que precisem de mais atenção.

É errado pensar que os livros físicos acabarão, até por conta de estudiosos e admiradores que preferem as versões impressas, e não há tecnologia que reverta esse hábito. Mas é certo afirmar que a literatura e a tecnologia coexistem, e tendem a tornar mais fácil o dia a dia dos leitores.

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*Juliana Ono é advogada e diretora editorial e de conteúdo da Thomson Reuters.

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