Educação à distância: entregar o que é prometido
Os consumidores que contratam o serviço possuem grande papel nessa luta, e devem denunciar quando os cursos não entregam aquilo que prometem, para que seja possível combater essa prática e proporcionar uma educação de qualidade a todos os brasileiros.
terça-feira, 5 de junho de 2018
Atualizado em 23 de setembro de 2019 17:10
Com a chegada da internet e das novas tecnologias, tornou-se mais fácil o acesso à educação. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, parte da população pode concluir sua formação no ensino superior através de cursos à distância ou das modalidades semipresenciais oferecidas por algumas universidades.
Essa iniciativa permitiu que mais pessoas pudessem ter acesso à educação especializada e ensino de qualidade em universidades de renome, podendo desempenhar a profissão escolhida.
O problema centra-se em algumas empresas que visam apenas o lucro e viram no sistema educacional um mercado a ser explorado. A partir desse raciocínio, parte dos fornecedores desses cursos desvalorizam o compromisso pedagógico em detrimento dos ganhos, e acabam subtraindo o conhecimento necessário a formação dos alunos. Ou seja, os cursos não entregam o que prometem aos consumidores.
Nas modalidades semipresenciais, por exemplo, metade do conteúdo é lecionado pelos professores presencialmente em salas de aula e a outra parte é trabalhada através de exercícios e atividades on-line. O aluno sabe que não terá sempre a presença física do professor, mas o conteúdo deve ser cumprido.
Aquele que como eu transitam no meio educacional, percebemos que os professores não conseguem concluir o ensinamento da matéria. Dessa maneira, o estudante recebe apenas 50% do conteúdo, já que atividades via internet não suprem a necessidade do ensinamento com um educador especializado.
Em outros casos, a obtenção de conhecimento pode ser ainda menor. Em um modelo distinto, a instituição de ensino pode criar módulos, aglutinando disciplinas em um mesmo grupo. Quando isso é somado a modalidade semipresencial os cursos são capazes de entregar apenas menos da metade do aprendizado necessário.
Com essa situação, as pessoas saem com um diploma na mão, mas não tem formação técnica para exercer a profissão.
Além dos prejuízos aos estudantes, os professores, que já são uma classe desvalorizada e remunerada irrisoriamente, não conseguem concluir o ensinamento do conteúdo e recebem ainda menos pelas aulas. Como consequência, profissionais cada vez menos preparados são contratados para educar.
Tudo isso é responsável por criar uma bola de neve: os estudantes não estarão preparados para atuar no mercado de trabalho, os clientes procurarão profissionais formados há mais anos, por não constar nos diplomas e histórico escolar se o indivíduo fez um curso à distância ou semipresencial, o que gerará mais precariedade na formação dos jovens.
Por isso, deve-se rever algumas dessas políticas educacionais. A solução não é, jamais, demonizar a tecnologia, já que ela foi responsável por levar a educação a quem antes não tinha acesso, tendo grande papel social. Mas é preciso que ocorra a denúncia das instituições que perdem de vista sua missão pedagógica.
Os consumidores que contratam o serviço possuem grande papel nessa luta, e devem denunciar quando os cursos não entregam aquilo que prometem, para que seja possível combater essa prática e proporcionar uma educação de qualidade a todos os brasileiros.
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*Luiz Antônio Nazareth é sócio do escritório Fonseca, Iasz e Marçal Advogados Associados.