Empreender e morar nos Estados Unidos: você está pronto para este desafio?
A ideia com este artigo não é desmotivar ou tão pouco afirmar que esse sonho só é possível para quem dispõe de grandes quantias. Mas é preciso entender que a realidade americana mudou muito.
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Atualizado às 15:51
É crescente a quantidade de famílias que se mudam ou que planejam morar nos Estados Unidos. Para custar a sobrevivência no novo país, querem montar um negócio de qualquer natureza. E, para o meu espanto, muitos chegam sem qualquer tipo de estrutura ou sem saber por onde e como começar. Muitos acham que uma padaria, por exemplo, tem demanda em todos os lugares e, na prática, não é assim. Não adianta vir com espírito aventureiro achando que tudo dará certo.
Mudar-se para qualquer lugar do mundo não significa apenas jogar tudo dentro de uma mala, comprar as passagens e dizer tchau. É necessário que se tenha uma consciência de que há outras pessoas e inúmeros fatores envolvidos como visto, moradia e trabalho. Se a mudança também envolver a criação de um negócio, é preciso levar em consideração o auxílio de um profissional que tenha embasamento jurídico, que lidam com isto todos os dias. Esses são habilitados a munir essas famílias ou empreendedores de situações e necessidades reais, sem ilusões ou promessas.
Muitos brasileiros veem atraídos com o sonho de ficar ricos, andar de jato particular. Posso afirmar que isso não existe mais. Não desta forma, até porque é preciso trabalhar muito para manter um bom padrão de vida e alguns costumes se confrontam com a cultura brasileira como horários, pontualidade, não ter um período determinado para o almoço entre outras coisas que, em um primeiro momento até chocam, mas depois é possível se habituar a elas.
E esse novo aprendizado faz parte de um exercício diário de superação. Entretanto, quem consegue ultrapassar essa fase prospera. Mas antes de tudo é preciso saber até onde disposto e preparado para começar uma nova história. E esse capítulo não dá para escrever somente com força de vontade e determinação.
O primeiro ponto é saber exatamente como é o lugar para onde se deseja ir, ou seja, conhecer a fundo o país. Aconselho a ficar ao menos 30 dias para conhecer comércio, escolas, moradias, mercados e tudo mais que estiver relacionado ao seu dia a dia e de sua família. Depois, se achar que os seus costumes estão alinhados com aquele novo estilo de vida, converse com um profissional para que ele analise todo o quadro e possa apontar qual tipo de visto pode ser aplicado e até mesmo qual país melhor atende as expectativas.
É muito comum grupo de empresários se reunirem para debater sobre esses temas e participar de uma roda destas, inicialmente, pode ocasionar um total desencontro de informações, gerando medo e ansiedade. Sempre tem alguém com palpite errado sobre isto. Então, mais uma dica, não comente com ninguém qual o seu status e vá até o final nos seus planos e siga o seu planejamento.
Outro erro muito comum: os recém-chegados sempre vão pela cabeça dos outros e seguem certas tendências. Por exemplo, brasileiro busca abrir empresa de manutenção de piscina ou limpeza. O meu conselho é ir atrás de coisas novas, e, de fato, empreender usando a criatividade. Pense no diferencial e faça algo diferente do que todo mundo está fazendo.
Além de todos os fatores já citados, há a questão da adaptação, principalmente para quem tem filhos pequenos. É preciso alinhar todas as questões de visto, negócio, moradia com o calendário escolar. O ideal é vir três meses antes do início do ano letivo.
Eu sempre mostro a realidade da forma como ela é e não de como as pessoas acreditam que seja. Um tempo atrás, conheci um casal que queria se mudar para os Estados Unidos. Na época, eles tinham dois filhos e a esposa estava esperando o terceiro. A família possuía um montante de 20 a 30 mil dólares. Eu disse na época que com este valor eles poderiam abrir uma empresa no Brasil e contratar uma consultoria para ajudá-los. Explique que, uma família de cinco pessoas, é preciso no mínimo uma casa de três quartos. Isso significa, em um lugar barato, 1.200 dólares, lembrando que inicialmente esse valor é multiplicado por três por exigência do contrato de locação.
Há a compra de móveis, taxas de ativação das prestadoras de serviço. Já estamos em quase 8 mil. Se o marido ou esposa solicitarem visto de estudante, soma-se mais 1.500 da matrícula e mais 500 da mensalidade. Na primeira semana já foram embora 10 mil.
Diante destes números, eu recomendei que ficassem no Brasil para se estruturarem melhor, porque na pior das hipóteses, poderiam contar com o suporte da família. Mesmo assim, eles vieram. A esposa teve uma complicação na gravidez e ficou internada. O bebê nasceu e correu tudo bem, mas o hospital mandou uma conta de mais de 100 mil, o que gerou uma série de outros problemas. Ficaram sem dinheiro, não conseguiram aplicação de visto e tiveram que ir embora.
A ideia com este artigo não é desmotivar ou tão pouco afirmar que esse sonho só é possível para quem dispõe de grandes quantias. Mas é preciso entender que a realidade americana mudou muito. Antes, já na faculdade era possível solicitar o social security e ter acesso à linhas de crédito de até 50 mil dólares. Eu fico muito preocupado quando vejo pessoas vindo para os Estados Unidos pensando em uma realidade que não existe. Buscar o melhor é louvável, mas é preciso tomar muito cuidado, não existe um visto que se adapte às pessoas e sim o contrário. Há muita oferta de emprego, mas para quem está devidamente documentado. Sair de onde está para lidar com uma insegurança ainda maior, não é o caminho. Observe, estude, pesquise. Analise se migrar é realmente a situação ideal para você e sua família.
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*Daniel Toledo é advogado e sócio fundador da Loyalty Miami.