Ano novo. De novo.
Assim é que, findo o ano, nada mais justo desejar que o próximo seja melhor.
domingo, 31 de dezembro de 2017
Atualizado em 27 de dezembro de 2017 16:26
Nesta época do ano, as pessoas se cumprimentam augurando um novo ano feliz, com muita paz, saúde, enfim, votos que deixam transparecer os sentimentos que invadem nosso interior. Não que seja por obrigação, mas sim espontaneamente, motivadas pela liturgia da comemoração. É sempre bom desejar ao próximo, principalmente àquele com que se tem um envolvimento mais significativo, votos de um ano novo feliz. Desejar tudo de bom de novo no novo ano, nada mais é do que um exercício repetitivo, até mesmo com certa aparência de insistência, mas conjugada com uma grata satisfação de prazer, ou até mesmo desejos com padrão bumerangue. Na verdade, o calendário gregoriano é que traça as regras e vai demarcando nossas vidas em etapas comemorativas.
Assim é que, findo o ano, nada mais justo desejar que o próximo seja melhor. Pensando até mesmo no louvável progresso anual da humanidade. Quanto mais tempo passar, maior será o estágio de aperfeiçoamento e purificação do homem, afastando-o, definitivamente, do agourento pensamento de Schopenhauer, no sentido de que o homem é precário demais para ser levado a sério. Quanto maior for a carga positiva que revestir o pensamento humano, mais rica e fecunda será a vida. Nesta linha, é o tempo que faz toda a diferença. Não adianta quixotear contra o tempo. "Nós somos os tempos, bradava Santo Agostinho, quais formos nós tais serão os tempos. Vivamos bem e os tempos serão bons."
E pode-se cogitar também que tudo aquilo que foi tentado e não passou de uma mera frustração, deve ser retomado no ano que se aproxima, desde que represente um ideal de realização, um exercício de persistência. O segredo não reside em aceitar a derrota, mas em saber lidar com ela. Aprende-se com o erro. O acerto, se por um lado traz dividendos, por outro é ingrato, pois delimita o potencial de cada um, não possibilitando uma nova investida, por mais estranho que possa parecer. O certo é definitivo, o erro, provisório, e propicia várias tomadas de posições, facultando estabelecer estratégias de atuação para sair do patamar de insatisfação. Não adianta tatear o futuro em busca de respostas. O importante é ter o presente lado a lado, acólito inseparável, vivenciá-lo em toda sua intensidade, fazer tratativas de intimidade e encontrar-se no labirinto em que habita.
Aquilo que foi alcançado nada mais é do que o resultado da dedicação de cada um, devendo ser preservado no interior de uma concha protetora e mantido como um troféu, representando a conquista de um elevado projeto de vida. Daí é que nasce o criador, o idealizador, o vitorioso. Aquele que não entope de promessas os ouvidos carentes, mas preenche e sacia o vazio do coração e do corpo. Aquele que se apresenta como a mola propulsora da verdadeira mudança.
O pouco que for extraído será significativo para cada um e para todos que o cercam, fortalecendo o espírito corporativo e edificando o altruísmo coletivo. Se o homem tiver a consciência de sua finitude será um construtor da obra duradoura que poderá legar ao próximo, ressuscitando as potencialidades do espírito e não vivendo como pequenos personagens no país imaginário de Lilipute, do romance Viagens de Gulliver.
Feliz tudo de novo é um voto de confiança e realização de um grande projeto chamado homem, que tem como objetivo único viver em harmonia e realizar suas aspirações. Resta torcer para que, nesta pirâmide ascendente, todos os dias sejam de conquistas e glórias e que o ser humano continue sendo o personagem principal desta aventura maravilhosa chamada vida. Se cada um recitar o texto que lhe cabe no drama ou na comédia, representando o personagem que ambiciona ser, sem ziguezaguear em busca de identidades fictícias, vale lembrar a esperança cantada pelo Cavaleiro da Triste Figura: quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha junto é o começo da realidade.
De novo, bem-vindo ano novo!
*Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de justiça aposentado, mestre em Direito Público, pós-doutorado em ciências da saúde, advogado, reitor da Unorp e membro ad hoc da CONEP/CNS/MS.