O impacto das lawtechs no mundo jurídico
A necessidade aliada ao investimento só pode resultar no que os especialistas em inovação chamam de epifania tecnológica, quando a combinação de tecnologias abre novos mercados, como o que aconteceu com o Uber. E será que, nós advogados, estamos preparados para isso?
terça-feira, 21 de novembro de 2017
Atualizado em 17 de novembro de 2017 16:38
A tecnologia evoluiu de tamanha grandeza que muitos especialistas acreditam que ela vá impactar principalmente os empregos nos próximos anos. Antes de entrar em como a tecnologia irá impactar o mundo do Direito, quero trazer um fato, que apesar de já amplamente discutido, exemplifica bem como em pouco tempo um mercado pode se transformar pela tecnologia.
O surgimento do aplicativo Uber mudou a forma como o mundo vê o mercado dos táxis. Um segmento que, desde o surgimento do automóvel, vinha sedimentado e em algumas localidades como Londres (Inglaterra) e Nova Iorque (EUA) se tornado parte do turismo da cidade com seus carros pretos e amarelos, respectivamente, está aprendendo a lidar com uma nova realidade. Um carro particular que presta o mesmo serviço por meio de um aplicativo, que conecta pessoas a motoristas.
Assim como o Uber transformou o mercado de transporte, as LegalTechs ou LawTechs também vão mudar a forma como os advogados atuam. Hoje, o Brasil concentra 1 milhão de advogados atuantes e mesmo com esse volume de profissionais, a Justiça ainda é morosa - temos 100 milhões de ações tramitando na Justiça. E para quantas delas você não usou um modelo de inicial padrão? Com certeza muitas, certo?
Um fato é que muitos profissionais já trabalham assim e para isso a tecnologia é um substituto infinitamente mais eficiente e barato que uma pessoa. E é aqui que surge um grande risco para quem não se atualizar.
Já existem muitos fundos de investimento de olho nesse mercado. As startups voltadas para a área jurídica receberam 15 milhões de dólares de investimento nos últimos anos e estima-se que devam ser investidos mais R$ 2,5 bilhões nos próximos cinco anos.
A necessidade aliada ao investimento só pode resultar no que os especialistas em inovação chamam de epifania tecnológica, quando a combinação de tecnologias abre novos mercados, como o que aconteceu com o Uber. E será que, nós advogados, estamos preparados para isso?
Posso afirmar que não! Mas, vamos ver como esse futuro se desenha. Como já mencionei, muitos escritórios já possuem sistemas que auxiliam o advogado, principalmente em causas repetitivas. O Big Data analisa problemas já definidos, fornecendo respostas precisas e definitivas e interagindo com os humanos por meio de comandos e teclas.
Estima-se que em um futuro próximo, o sistema seja tão inteligente a ponto de manipular informações sem que uma pessoa tenha determinado o problema de forma precisa, conversando em linguagem humana. É assim que o Watson, famoso computador desenvolvido pela IBM, já funciona.
Mas, digamos que a Inteligência Artificial ainda esteja longe da nossa realidade. Vejamos então como algumas startups já estão mexendo com o mercado. Citamos no começo desse artigo que existem hoje na justiça brasileira cerca de 100 milhões de processos ativos e concordamos que a mediação surge como alternativa para tentar diminuir essa fila, certo? Além do mediador não precisar ser advogado, já existem startups focadas em realizar mediações on-line. Segundo dados de uma dessas empresas, um conflito resolvido pela mediação, pode ser até seis vezes mais barato do que entrar no Judiciário. Será que seu cliente não vai tentar esse novo formato?
Com certeza vai! E é por isso que precisamos buscar novos formatos para nossos negócios e atuação, oferecendo valor onde realmente agregamos, que é no conhecimento para identificar novas interpretações de legislação.
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*Ricardo Nicoletti é advogado do escritório Pires & Gonçalves - Advogados Associados.