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Como mensurar o êxito nas mediações?

Podemos dizer que a medição cumpre seu papel e pode ser considerada exitosa, sempre que conseguir levar os mediandos a refletirem sobre suas verdadeiras questões.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Atualizado em 3 de maio de 2017 08:43

Essa pergunta traz reflexões importantes especialmente no âmbito das mediações familiares, foco desse artigo.

Nesses contextos, o conflito aparente ou noticiado nem sempre é o que os mediandos buscam objetivamente resolver, isto é, não é o real motivo em razão do qual as partes procuraram a mediação.

Isso acontece porque a mediação é um processo de comunicação, e na medida em que essa comunicação se torna mais plena e eficiente - consequência natural da mediação conduzida com competência, com a essencial vontade das partes - novas circunstâncias e perspectivas se abrem.

Em virtude dessa abertura de enfoque trazida pelo processo de mediação, identificam-se outras questões do relacionamento entre as partes, que passam a representar possíveis pontos de êxito, inclusive para a resolução de outros conflitos já existentes.

Essa dinâmica é bastante semelhante à potencialização da percepção dos indivíduos que passam por processos de coaching, área na qual também atuo, e cujas técnicas prestam especial auxílio, se aplicadas com consciência na mediação.

Por exemplo, uma revisão de alimentos pretendida pelo pai pode trazer consigo a preocupação com o desenvolvimento da autonomia, voluntariedade e felicidade do filho, além da oportunidade de se reconectar, conversar abertamente e expor suas preocupações, tanto para o filho quanto para a mãe.

Em outros casos, a mãe, que busca a justiça para contestar a diminuição da pensão alimentícia, quando, na verdade, essa foi a forma que encontrou para conversar com o pai da criança sobre a preocupação com o caminho que o filho adolescente está trilhando e pactuar novas formas de cuidado.

Outros fatos que me chamaram atenção foi a de irmãos que discutiram por diversos anos devido ao xingamento que um deles fez a um prestador de serviço à família e que foi tomado, pelo outro, como tendo a si dirigido e de empresas nas quais, sob um aparente conflito societário, escondem-se razões emocionais.

A mediação valoriza o diálogo na busca de alternativas e na transformação do conflito o que só pode ser trabalhado diante da confiança dos mediandos nos mediadores. A confiança no mediador deve ser buscada no primeiro encontro, já que é pressuposto, para que a medição se inicie, e fundamenta-se na postura de imparcialidade, serenidade e confidencialidade demonstrada pelo mediador. Essa questão que merece especial relevo, especialmente, nos ambientes judiciais como ocorre atualmente, em que as partes não passam por um processo de escolha dos mediadores, como fariam no âmbito privado, sendo atendidas por mediadores designados unilateralmente pelo Poder Judiciário, em qualquer de suas representações.

Em contrapartida, a confiança entre os mediandos, muitas vezes, em situações ocorridas no âmbito do Poder Judiciário, em atendimento a nova legislação processual não pode ser pressuposta. Muitas vezes, ela deverá ser construída pelo trabalho dos mediadores, pois em que pese a presença dos mediandos ser considerada um bom sinal quanto à possibilidade do desenvolvimento da mediação, certo é que, na maioria das vezes, não é o que se verifica.

Assim o mediador, que é o de facilitador do diálogo, procura antes de tudo buscar a instauração da confiança das partes entre si e delas no processo de mediação. Para isso, utiliza técnicas que permitem a legitimação das partes, a empatia, a capacidade de decisão e muitas vezes, o resgate dos relacionamentos. Uma mediação feita com rigor ético e técnico, privilegiando o tempo de cada um, sem a busca ferrenha por acordo que se enfatize, não é o objetivo dela, faz com que a confiança se instale, possibilitando que cada um dos envolvidos tenha a oportunidade de trazer o que de fato o aflige, medos, inseguranças, anseios; abrindo espaço para que os sentimentos mais genuínos possam ser acolhidos e validados. Como o diálogo se dá a partir de cada mediando, valorizando o protagonismo, possibilita também, que a comunicação seja construída isenta de julgamentos, baseando-se em ações que visem o futuro, trazendo um novo olhar sobre as dificuldades de cada um e fazendo com que as partes entendam as perspectivas um do outro.

Cabe ao mediador encontrar na fala dos mediandos a abertura para o diálogo, conferindo as necessidades, escutando com todos os sentidos o que os mediandos trazem, observando não só as palavras, mas a postura corporal, o olhar, a respiração, a atitude quando o outro fala e assim, traduzir ou facilitar para que o não dito possa ser expressado. Deixar que os sentimentos sejam exteriorizados para que depois resgatem o poder de decidir o que e como cada um deseja resolver o conflito, a partir da real necessidade e possibilidade de cada indivíduo. Diante de uma dificuldade aprender a auto escutar-se, encontrar suas reais necessidades e anseios, e, ao mesmo tempo, o que o outro busca é o primeiro passo para o êxito.

Trata-se de relações personalíssimas que são continuadas, razão pela qual é fundamental que o trabalho seja desenvolvido tendo em vista permitir um convívio de qualidade, que impeça desastres familiares ou empresariais.

Sendo assim, podemos dizer que a medição cumpre seu papel e pode ser considerada exitosa, sempre que conseguir levar os mediandos a refletirem sobre suas verdadeiras questões.

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*Adriana Nobis é mediadora do Instituto de Mediação Luiz Flávio Gomes.

Instituto de Mediacao Luiz Flavio Gomes

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