Cartão de Natal
O ideal se revela dentro de você e o mundo é o palco ilimitado para conquistá-lo.
domingo, 25 de dezembro de 2016
Atualizado em 22 de dezembro de 2016 15:14
Novamente se aproxima o Natal, com todo seu ritual religioso, familiar e social. É o momento em que as pessoas entram na periódica hibernação espiritual para ajustar as coisas e palavras nos seus devidos lugares, pois durante um longo período com borrascas e caminhos tortuosos, vieram a se deslocar e saíram do eixo desejado. Assim, nesta época de confraternização, quando o mundo adquire a consciência de que a fraternidade é a grande arma para proporcionar a efusão de espíritos e transformá-los em abraços afetuosos, é hora de pedir colo a Deus e fazer a súplica para renascer como uma inesperada novidade no universo.
Para anunciar a boa nova, nada melhor do que enviar um cartão de natal, aquele que vem com uma foto e com as efusivas mensagens. É certo que já caiu no esquecimento, no desuso e se encontra na contramão de direção em razão de tantos instrumentos midiáticos à disposição, num clicar de dedos. Acontece que não quero acrescentar arrouba a seu nome, junto com outras siglas, desconfigurando-o, tornando-o distante e até mesmo desconhecido na minha agenda.
Mas, mesmo assim, valorizando a moda antiga, aquela que guarda nas linhas e entrelinhas todos os sinceros votos que brotam das raízes mais profundas de cada um, segue o cartão, de caráter permanente e não transitório, que carrega os dizeres apropriados para a época. Você deve imaginar que são os mesmos do ano anterior, muitos dos quais você não conquistou, algumas vezes por desídia sua, outras por fatores alheios, como, por exemplo, a crise econômica e política do país, que de certa forma atuam negativamente no meio social. Tudo bem. Mas o reiterar é insistir para que tudo dê certo.
É o momento para renovar os votos de paz e prosperidade, não só para as pessoas com as quais você convive, mas sim com abrangência à humanidade. Afinal, dependemos dela para qualquer projeto de felicidade. Assim, meu amigo com nome e identidade firmados nos bons propósitos, lanço minha breve reflexão, com base na proposta que Jesus fez a Nicodemos: nascer de novo.
Para tanto, é necessário traduzir com a necessária ênfase a grandiosidade do espírito humano e fazer prevalecer a solidariedade como a cartilha única de virtudes e predicados, acompanhada dos cânticos de graça entoados no mais harmonioso canto gregoriano.
Assim, nesta trilha, desejo a você que continue seu caminhar, sem queimar etapas, passo a passo, com a bandeira da renovação hasteada e inflada pelos ventos da esperança e espiritualidade. Quanto mais distante você avançar e conquistar novas paragens, fazendo as pausas às vezes necessárias, terá colaborado para que muitos outros sigam seu exemplo.
Apesar das pitonisas proclamarem momentos tempestuosos à frente, tenha sempre em mente que a sua coragem será determinante e capaz mesmo de acender um facho de luz iluminando seus passos, guiando-o com segurança e pulverizando a semente do bem em várias direções.
Procure sempre ultrapassar a grandeza dos melhores exemplos. Seria um absurdo descriminar Beethoven pela sua surdez e considerar Van Gogh um louco após cortar sua orelha. Jamais perca sua capacidade de sonhar e de se encarnar no que realmente gostaria de ser. O ideal se revela dentro de você e o mundo é o palco ilimitado para conquistá-lo.
Não se deixe seduzir demasiadamente pelo dinamismo da tecnologia, que é apenas um instrumento para facilitar sua vida e não o regente que dita as regras do pensar, até então de exclusividade do homem, que agora se vê entrincheirado e hipnotizado pelas telas dos computadores e celulares, transformando-se em produto do seu próprio tecnicismo, despojado de sentimentos. Seja realmente o senhor deste maravilhoso latifúndio que é a vida humana em que cada um vai recitar o texto e entoar o canto de seu personagem. Ninguém pode ser considerado um verso solto num poema inexistente.
Termino, desta forma, o cartão de Natal. Não precisa responder. Votos que brotam do fundo do coração carregam o efeito bumerangue e retornam para mim. Feliz Natal.
__________
*Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de Justiça aposentado, mestre em Direito Público, pós-doutorado em Ciências da Saúde. Advogado e reitor da Unorp.