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Teremos um novo governo

Não demorará muito, deveremos ter outro governo, com Dilma ou sem ela.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Atualizado às 09:18

No último fim de semana, o ex-presidente Lula da Silva anunciou em alto e bom som que "acabou o Lula paz e amor". Ademais, soaram vozes pelos recantos do local da convenção que comemorava os 36 do Partido dos Trabalhadores (PT) que pregavam a desforra contra a administração da presidente Dilma Rousseff que "teria traído o partido". Dois fatos significativos. Nem tanto.

Agora a "condução coercitiva" de toda a família Lula da Silva, do núcleo de pessoas ao redor do ex-presidente e o acesso às dependências de diversos locais onde poderão ser encontrados documentos que ampliarão investigações e, quiçá, novas prisões, é sinal de que o processo político agora é apenas guiado pela "Operação Lava Jato". Por ora, a capital do país é Curitiba e o presidente desta estranha República é o Juiz Sérgio Moro.

Do ponto de vista da Política, entendida como modus vivendi da civilização humana, o Brasil dá o pior exemplo. De fato, a ideia grega virou uma esculhambação grosseira: a política aqui é forma de obtenção de benefícios privados a partir da administração do que é público. É isso e ponto final. Nossa Alethea.

Os fatos de hoje são gravíssimos para a política nacional. Encerram um período, senão do ponto de vista formal, certamente do ponto de vista material dos fatos. O governo Dilma Rousseff está cercado, não consegue mais ter funcionalidade e propor políticas. Quanto mais executá-las. Há aqueles que creem que poderemos esperar 2018. Infelizmente, a normalidade não é mais possível. Até lá, há mais, muito mais!, a perder que esperar. Em termos que o mercado financeiro gosta: o valor presente líquido dos fluxos da política entre hoje e 2018 é muito menor que derrubar via impeachment o governo hoje. Não precisa ser matemático para entender. Basta ler os jornais.

O país, sua sociedade e, sobretudo, os detentores do poder real, econômico e político, não se importarão mais com a forma jurídica ou as razões de fundo para que seja realizado o impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Agora é isto ou a ausência real de governabilidade. Há chance concreta de partirmos para a anarquia. A Política é trágica quando não é essencial.

A reação do mercado, este animal incorpóreo que se ocupa em ser a representação organizada e informada da opinião pública, vai reagir eufórico. As cotações são para cima, o risco-país cairá, a taxa de câmbio se valorizará e os juros futuro cairão dos píncaros para a estratosfera. A ausência de funcionalidade do governo é tão grande que não é exercício hercúleo fazer previsões.

O problema de tudo isso é que ainda não sabemos que comporá a cena política. A corrupção está alastrada, os seus partícipes estão espraiados no governo e no Estado, os partidos políticos são casas de negócios e a distinta sociedade assiste a tudo inerte.

Michel Temer e sua tropa são apenas uma parte minoritária do Congresso Nacional. Obedecida a Constituição Federal, o vice-presidente assumirá na ausência forçada ou não da Presidente da República. A legalidade será seguida, mas pode ser apenas aparente.

Por estas horas, agora mesmo, as lideranças da oposição e os políticos que ainda tem os cadarços do Poder na mão estão a se articular. Desta feita é provável que a oposição se companha com o vice-presidente e siga na direção da rampa do Planalto.

Haverá reação do Partido dos Trabalhadores (PT) - creio que é o que lhe resta. Será violenta no limite no qual a sociedade lhe permitir. Não nos enganemos: ninguém cai mais na armadilha de que há vilões e mocinhos. O PT terá de ir às ruas, mesmo que o melhor diagnóstico lhe indique que deveria ficar em casa. É isso ou nadinha.

Não demorará muito, deveremos ter outro governo, com Dilma ou sem ela. Mais provável a segunda hipótese. Não é certo que teremos um país melhor. O vazio é maior que se imagina. Exceto nas celas da Polícia Federal.

A República está em risco.

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*Francisco Petros é advogado, sócio-responsável pela área societária e de mercado de capital do escritório Fernandes, Figueiredo, Françoso e Petros Advogados e economista, pós-graduado em finanças. Trabalhou por mais de 25 anos no mercado de capital, em instituições financeiras brasileiras e estrangeiras. Foi presidente da APIMEC - Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000-2002).

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