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A presidenta e a mosquita

Mosquito chegou fazendo logo um bom serviço ao governo, induzindo a nação a pensar menos no que mais aporrinha - a crise politica, a crise econômica, e tal.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Atualizado em 19 de fevereiro de 2016 10:32

Quem não ouviu ou não leu, não sabe o que perdeu.

Na mobilização nacional contra o mosquito, o Rio de Janeiro foi contemplado, mais uma vez com a fala, como sempre, desengonçada conquanto sapiens da presidenta.

Assim:

"A mosquita, ela, é a mosquita que põe em média 400 (quatrocentos) ovos. Se você considerar que a mosquita transmite também o vírus, que é ela que pica, que é ela que provoca a contaminação das pessoas. Portanto, se for uma senhora grávida, uma moça grávida, o que acontece? Há um grande risco de a criança, se isso ocorrer nas primeiras semanas de gestação, ter microcefalia".

É possível que nem Zaratustra, diante de tão ameaçadora realidade, fosse capaz de tão reveladoras constatações.

Quando, ainda na escola primária, nos ensinaram sobre os gêneros dos animais aprendemos, por exemplo, que o feminino de jacaré não é jacarôa, mas jacaré-fêmea. Do mesmo modo, o masculino da girafa não é girafo, mas girafa-macho. E tal.

Se essa novidade está em alguma nova cartilha do MEC, nada nesse sentido chegou ainda ao nosso conhecimento. Mas a nossa presidenta falou.

Os botões do Mino certamente ainda seguem questionando.

Ora, se o inimigo espalhador dos vírus dessas terríveis doenças, dengue e microcefalia, afora outras, não é o mosquito macho, mas sim um mosquito fêmea, ou simplesmente mosquita, como assim classificou a nossa também bióloga presidenta, querendo eliminar o malfeito da mosquita capaz de por ovos que nem codornas, mas numa quantidade descomunal de 400 em tempo recorde, melhor então não seria perseguir o macho causador de tanto estrago à vida das pessoas e aos cofres do governo?

Eis aqui um grande desafio a despertar a argucia de tantos cientistas que, a estas alturas, se entregam a incansáveis buscas laboratoriais do antidoto necessário à produção de uma vacina.

Até a chegada do atual Ministro da Saúde ao cargo, ele um politico que antes foi médico de hospício e professor de psiquiatria, pouco se ouviu dos noticiários da chamada mídia nativa sobre essa devastação da mosquita em nossa terra de amores, alcatifada de flores, onde a brisa fala amores. E tal.

É fato que o mosquito, agora transexualizado pela presidenta em mosquita, chegou fazendo logo um bom serviço ao governo na medida em que chamando a atenção para um valor maior, no caso a saúde pública, induz a nação a pensar menos no que mais aporrinha - a crise política, a ilegitimidade do atual governo e da maioria do Congresso, a crise econômica. E tal.

Voltando à descoberta da mosquita pela presidenta. Como a estas alturas separar mosquito de mosquita e assim, matando os machos, impedir a reprodução através das fêmeas, desprezando antiga lição que as aparências enganam?

Soubemos há pouco que na Inglaterra um galinha foi parando de botar ovos e, aos poucos, foi aumentando a crista até que se danou a cantar como galo. Há peixes hermafroditas, ostras que mudam de sexo pouco antes de se acasalarem.

Estudos científicos comprovam que insetos também se aqualiram dependendo do que lhes possa ser mais vantajoso. É possível que a presidenta ao estudar o Aedes aegypti e suas variações tenha constatado que o mosquito virou mosquita nesse instante bidimensional.

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*Edson Vidigal é advogado. Foi presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.

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