A Difícil Missão de Ser Aprovado em um Concurso Público no Brasil
Parte da razão está associada ao perfil da nossa sociedade.
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Atualizado em 27 de agosto de 2015 12:45
Para tratar de um tema que deve afligir 99% dos candidatos inscritos nos concursos públicos no país, eu gostaria de usar o título "Por que o brasileiro não é aprovado em concursos públicos". Mas sei que com isso eu "causaria" mais que ajudaria, em alusão à gíria paulista que quer dizer "estar causando confusão".
Grosseiramente, poderia informar que a grande causa para a massiva reprovação dos candidatos, que resulta até no não preenchimento das vagas disponibilizadas pelo edital, em alguns casos, é o despreparo. Mas isso não curaria a ferida que acabei de abrir ao dizer que boa parte dos candidatos que presta concurso não conquista a aprovação.
Parte da razão está associada ao perfil da nossa sociedade. Somos naturalmente apaixonados e crentes, tendo ainda uma pitada de brasilidade que nos permite deixar tudo para a última hora. E com tais características, acabamos por menosprezar a magnitude de um edital diante do prazo que é disponibilizado para o preparo dos desavisados.
Já em minha defesa e resguardando a postura daqueles que estão na fila da aprovação, estudando há anos, percebo que o número de inscritos, na grande maioria dos concursos, poderia ser bem menor, caso houvesse uma crise de consciência nos crentes da aprovação milagrosa.
Peguemos o exemplo do concurso da Defensoria Pública do Estado de São Paulo: o edital foi publicado no dia 8/8 no Diário Oficial do Estado de São Paulo, prevendo provas de primeira fase no dia 27/9. Perceba que são 49 dias entre publicação do edital e a primeira prova. Não há como pensar em preparação para um concurso de elevado grau de dificuldade em tal prazo.
Com 13 disciplinas e um programa de 15 páginas, que inclui conhecimentos do novo e do velho Código de Processo Civil, estamos falando de mais de 3500 pontos a serem estudados no nível de conhecimento que supera o razoável. Ou seja, com muita dificuldade um candidato teria condições de acertar uma questão desse concurso após ter o primeiro contato com a disciplina, sem nem mesmo conhecer a jurisprudência dos Tribunais Superiores e, eventualmente, do TJ/SP.
A exigência dos 3 anos de prática jurídica nos dá uma baliza para informar aos interessados que a preparação para um concurso desse porte leva mais de um ano, e não poucos dias como pensam alguns românticos. Só os conhecimentos da graduação, por melhor que ela tenha sido, não garantem a aprovação do candidato que ficou sem estudar no último triênio. A mera revisão dos pontos já demandaria mais tempo do que os quase 50 dias disponíveis.
É por isso que não somos aprovados (nós, os românticos, não os que estão na fila, estudando arduamente nas bibliotecas do país). Alçar um cargo tão desejado, como é o de Defensor, bem como os de Promotor ou Juiz, exercendo o Direito com maestria, a exemplo do que se vê na atuação do Juiz Sérgio Moro, demanda tempo e amadurecimento sobre os conteúdos, os modos como se falam. E para estar íntimo com esse material, não há outro remédio senão muita dedicação.
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*Leonardo Pereira é diretor acadêmico do IOB Concursos.