Muiér Sapiens
Quem vê Dilma de hoje, pelo lado de fora das cercanias do Palácio, pedalando sua bicicleta, calçando tênis, óculos escuros e capacete especial, dificilmente se lembraria da antiga Dilma.
terça-feira, 7 de julho de 2015
Atualizado em 6 de julho de 2015 10:25
O Carlos foi dos primeiros a proclamar que com essa dieta do argentino a Dilma ficou não só mais magra como também mais bonita.
Mas o Carlos não é uma pessoa comum, é um cidadão consciente dos seus direitos, um legalista, profissional do direito, aliás, muito bem casado.
Pai de uma bem sucedida operadora do direito, levada a onde está por méritos próprios aferidos em concurso público, o Carlos partilha com sua ex-parceira de armas e lutas as alegrias que recolhem todo avô e avó amorosos ao se reencontrarem com um neto ou neta. Gabriel, o neto, já beira os 5 anos de idade.
Quem vê a Dilma de hoje, pelo lado de fora das cercanias do Palácio, pedalando sua bicicleta, calçando tênis, óculos escuros e capacete especial, como ordenam os legisladores do Denatran, dificilmente se lembraria da antiga Dilma, a pedestre matinal da península sul, que percorria sem pressa o mesmo itinerário antes percorrido pelo Dirceu, pelo Palocci, pela Gleise.
Quando pelas mãos do Dirceu a Dilma saiu de Porto Alegre para a equipe de transição para o primeiro mandato do Lula, ela saiu-se tão bem nos preparatórios do novo Governo que o Lula não hesitou em nomeá-la para cuidar das Minas e das Energias.
Depois, com o Jefferson provocando um tremor no Palácio, a alguns pontos acima da escala Richter, o Dirceu voltou à Câmara e de lá saiu sem o mandato de Deputado e inelegível por oito anos. Começava a novela do mensalão.
Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma consolidou-se na confiança do Presidente até que, não havendo clima no Brasil para um terceiro mandato consecutivo como havia para o Chaves na Venezuela, o Lula em meio à gloria do seu maior pique de popularidade a catapultou a Dilma, lançando-a candidata à sua sucessão.
No nordeste, onde o Governo transbordava popularidade mais que o sistema Cantareira dos inundáveis tempos, mas ninguém sabia quem era a Dilma, não foi difícil associa-la ao Lula. Logo ela virou a mulher do Lula.
- Em que você vai votar?
- Ora, na mulher do Lula.
Numa região de tanto atraso politico votar na mulher do Presidente é normal. Tantos não já votaram na mulher do Governador, no filho do Presidente, na filha do Senador?
E como a mulher do Lula, a Dilma foi em frente improvisando seus discursos psicodélicos.
No Piauí um repórter estranhando seu jeitão desengonçado e tom de fala mais para o aumentativo, não mediu indiscrição. Ela respirou fundo, encarou o rapaz dizendo que era até avó. Depois da coletiva, iriam resolver isso lá fora. Quer dizer, chamou para o bogue.
- Eu tenho cara de poste? A pergunta impressa sobre uma foto dela saiu numa capa da revista Época.
Com cara de poste ou não, amamentando com carinho o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ou não, a Dilma mãe do PAC foi eleita a primeira mulher Presidente.
Agora estamos aí, o Governo e, por via de consequência, todos nós, metidos nesse parangolé dos infernos e a Dilma nem pode falar em herança maldita porque tudo de ruim no testamento quem fez foi ela.
O que a Presidenta hoje pode falar e o faz com a segurança, firmeza, bom humor e desenvoltura de quem está mesmo por dentro do assunto tem a ver com suas últimas incursões antropológicas.
Coisas que nem o Darci, que dedicou a vida a amansar índio, jamais imaginou. Olha aqui o ode à mandioca, em puro dilmês:
- Então, aqui, hoje, eu tô saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil. Aqui tem uma bola (de folha de banana, presente de uma índia), uma bola que eu acho que é um exemplo. Ela é extremamente leve, já testei aqui, testei embaixadinha, meio embaixadinha... bom, mas a importância da bola é justamente essa, é símbolo que nos distingue.
- Nós somos do gênero humano, da espécie sapiens, somos aqueles que tem a capacidade de jogar, de brincar, porque jogar é isso aqui. O importante não é ganhar e sim celebrar.(...) Então, para mim, essa bola é o símbolo da nossa evolução, quando nós criamos uma bola dessas, nos transformamos em homo sapiens ou mulheres sapiens (nada a ver com homem sapo ou mulher sapo).
Com essa dieta argentina, que a Cristina ainda não sobretaxou, a Dilma - quer queira ou não Lula - é nosso orgulho e troféu de vingança contra a Alemanha. Eles tem lá um bocado de coisas de primeiro mundo - educação de qualidade, segurança pública no melhor padrão, produto interno bruto lá em cima, inflação lá embaixo. A Alemanha tudo isso e muito mais. Eles tem a Ângela Merkel.
Nossa vingança por tudo, inclusive pelo 7 a 1 contra o Brasil no final da Copa do Mundo, é agora podemos ver com todo orgulho nas fotografias tiradas nos G7, G8 ou 10 do planeta a nossa Presidenta lado a lado com a Merkel.
E quem é hoje a coisinha mais bonitinha do Lulinha? A Dilminha, é claro.
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*Edson Vidigal é advogado, foi presidente do STJ e do Conselho da Justiça Federal.
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