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Filhos do nada

Os recursos estão acabando. As torneiras estão mesmo secando e a agricultura precisa da água para alimentar o mundo. Esquerda e direita passaram a ser apenas direções cardinais e discurso político vazio.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Atualizado em 13 de maio de 2015 11:36

A minha geração, que hoje tem entre 40 e 55 anos de idade, é filha do pós segunda guerra e da guerra fria, que não vivenciou o conflito mundial, mas que temeu quando criança as bombas da URSS.

Entre vivência e conhecimento, e isso se aprende nas aulas de filosofia, vai uma boa diferença.

Não é visceral a nós, com essa faixa etária, a segunda grande guerra, mas é familiar, pelos reflexos e comentários de nossos pais e avós.

Há uma predisposição cultural que desse convívio decorre, de que comunistas comem criancinhas e que não medem esforços para nivelar a sociedade por baixo, enquanto a elite dominante do Politburo vive às largas, fazendo o que quer.

Daí decorre uma igual predisposição a aceitar os EUA, vencedores da guerra, como um modelo factível a qualquer um que por eles tenha torcido nos maravilhosos filmes de guerra de época.

Em cima dessa camada cultural que é cronológica é que estão os fatos e a leitura que se faz da literatura político-social, que não é visceral, mas justaposta à primeira camada.

Hoje não há bipolaridade ou ameaça nuclear global premente, que me fez muitas vezes ir dormir pensando se acordaria vivo no dia seguinte.

Também não há mais o esforço de parte a parte pela ideologia de arregimento antes praticada pelos partidos socialistas mundo a fora, ou os golpes da CIA pelo globo.

Após o Vietnã, com a queda do muro de Berlim e com uma China escravocrata mas pragmática na economia o que se vê é a vitória dos que tem, dos que ganham, sobre os que supostamente deveriam pensar de forma diversa e assim pregavam divorciados da prática.

Então o que se tem é muita gente e pouco espaço econômico para que todos vivam bem no mundo... As crianças famélicas da África, as crianças na indústria Chinesa, a exploração sexual dos menores no nordeste brasileiro...

Aí há um descompasso real, ou aparentemente real, com o sistema vigente.

Ocorre que no Egito antigo só eleitos e bem nascidos viviam bem, idem na Grécia antiga, Roma, idade média com os nobres e o clero, até o Renascimento.

A revolução da classe média dos artesãos, ou seja, da indústria e serviço privados, trouxe novo alento para a imobilidade social.

Então as ideias de Marx se tornaram realidade e o povo para o povo quis governar-se e foi um banho de sangue inicial, seguido da mais profunda elitização da sociedade, onde pouquíssimos decidiam o destino de muitos do alto de seu luxo, sem dar qualquer exemplo real de que essa era a vida para todos.

O ocidente não ficou atrás e, para o americano comum, carro casa e emprego eram viáveis, mas o modelo sempre foi insustentável em termos globais, inclusive porque para um ganhar outro tem que perder. É o que vemos na África.

Concomitantemente o capitalismo e a superpopulação impuseram, aos olhos dos direitos humanos, novo desafio, desta feita ambiental.

Os recursos estão acabando. As torneiras estão mesmo secando e a agricultura precisa da água para alimentar o mundo.

Esquerda e direita passaram a ser apenas direções cardinais e discurso político vazio.

Quando se olha para o mapa agrícola do mundo vem à mente algo como o capitalismo verde, ou agrícola, e a ONU.

Isso porque há a clara sensação do insustentável, quando ou poucos vão se acastelar ou muitos vão compartilhar.

O que me ocorre é um sistema de cotas globais, garantindo preço mínimo dos produtos essenciais aos países em que esses produtos sejam ambientalmente viáveis.

Assim como garantia de compra por preço mínimo dos produtos ambientalmente compatíveis com a biota local.

Tal acordo global teria o efeito de garantir o mínimo recurso aos países em que a fome grassa, entregando possibilidade de planejamento econômico a partir da premissa do preço mínimo versus demanda global.

É claro que os demais países poderiam produzir as mesmas commodities, mas aí como complemento ao excedente necessário. Cada país faria sua lista de vocações econômicas ambientalmente consideradas.

Se a vocação de um país desértico for a tecnologia, então teria seu lugar garantido na cadeia global de produção de bens e serviços.

Essas as linhas mais básicas de um capitalismo verde, onde a livre iniciativa e o mérito individual estariam protegidos com um mínimo de ordem, considerando o contexto global, livre de um discurso destro ou canhoto que não tem mais lugar na realidade.

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*Eduardo Dietrich e Trigueiros é advogado do escritório Newton Silveira, Wilson Silveira e Associados - Advogados.

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