Riscos calculados
Num recente encontro à noite no Palácio da Alvorada entre Lula e Dilma na conversa entre os dois houve uma subida de tom. Ministros na sala ao lado ouviram a voz rouca, inconfundível, perguntar a Dilma - você sabe a coisa errada que eu fiz, não sabe? Foi botar você aí..."
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Atualizado em 22 de abril de 2015 16:18
Claro que não é só a vontade de assegurar a continuação de programas que, se interrompidos ou extintos, resultará em danos irreparáveis ao povo em geral o que leva um governante a fazer o diabo numa campanha eleitoral e, por conseguinte, o seu sucessor.
A catapora das reeleições sem limites que por contágios bolivarianos grassara em alguns mapas aqui do lado debaixo do equador encontrou um Lula nadando de braçadas num segundo mandato e, ao mesmo tempo, instituições republicanas fortemente imunizadas contra qualquer quebra da ordem constitucional.
Diferente do cenário tropical em que se bronzeava o Lula foi o que se deu bem antes com Juscelino, eleito num único turno sem a exigência de maioria absoluta e que só tomou posse porque teve ao seu lado, nos golpes e contragolpes indispensáveis à ordem constitucional, o General Lott, um soldado exemplar.
Vargas, o verdadeiro criador do Estado brasileiro, pensou em Juscelino, então Governador de Minas, para sucedê-lo e, assim, não deixar caírem as conquistas sociais, dentre outras, no campo econômico e na produção industrial, que com mãos firmes e coração largo lograra implantar.
Vendo da sua janela no Palácio do Catete que uma simples greve de estudantes contra o aumento nas passagens de bondes o imobilizava no Rio de Janeiro passando incertezas ao País, Juscelino caiu fora e tratou de construir Brasília.
Brasília deu o mote do que ainda faltava em forma física ao sonho de Vargas - a inderrogável integração nacional.
A realidade dos custos arregalou os olhos dos críticos da economia, mas nem por isso, inclusive inflação alta, Juscelino decaiu na popularidade.
Tinha votos no Congresso para aprovar uma emenda de reeleição e votos populares para ser reeleito. Não aceitou. Ainda tinha capital de tempo. Poderia voltar a ser Presidente dali a cinco anos.
Juscelino, que como todo bom mineiro de bobo não tinha nada, sabia em cálculos exatos do turbilhão que viria a espalhar desafios pelo período seguinte.
Lançou o General Lott para Presidência tendo como Vice outro grande brasileiro - Osvaldo Aranha, braço direito de Getúlio. Ambos sem chances ante o Jânio, que empunhando uma vassoura prometia varrer a bandalheira.
Juscelino então calculou o risco - esse maluco ganha, não vai dar conta do recado, será melhor para eu voltar que os meus candidatos percam.
O maluco venceu e não aguentou sete meses. As esquerdas que mantinham distância do Jânio não deixaram o Jango governar. Em 1964, veio o golpe militar que deu no que deu. Juscelino foi cassado, preso, exilado, morto num acidente controvertido.
E o Lula o que fez? Pensou - eu ponho no meu lugar essa mulher que não sabe nada de politica e vou dar as cartas. Daqui a quatro anos eu volto. Nem ele deu as cartas, nem ela abriu mão da reeleição. Foi reeleita e pela Operação Lava Jato já se sabe como.
Num recente encontro à noite no Palácio da Alvorada entre Lula e Dilma na conversa entre os dois houve uma subida de tom. Ministros na sala ao lado ouviram a voz rouca, inconfundível, perguntar a Dilma - você sabe a coisa errada que eu fiz, não sabe? Foi botar você aí..."
Pensa agora Lula em voltar. Pensa.
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*Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA.