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Amazônia S/A e o Amazonas que eu conheço. Quem sabe você não se anima e vai lá conhecer?

Apesar de se saber que a Amazônia tem a maior concentração de biodiversidade da Terra e a maior bacia hidrográfica do mundo, ainda há um desconhecimento no resto do Brasil a Amazônia.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Atualizado em 9 de abril de 2015 14:36

A televisão brasileira começou exibir o excelente "Amazônia S/A", documentário sobre a região norte do Brasil. Trata-se de do cineasta Estevão Ciavatta, diretor de alguns programas de televisão, como 'Brasil Legal', 'Central da Periferia' e 'Um Pé de Quê? e de alguns filmes do cinema nacional, como 'Nelson Sargento no Morro da Mangueira' e 'Programa Casé - o que a gente não inventa não existe'.

Na televisão, o documentário foi dividido em cinco de episódios de 10 minutos cada. No 1º capítulo, Ciavatta mostrou que apesar de se saber que a Amazônia tem a maior biomassa florestal do planeta, a maior concentração de biodiversidade da Terra e a maior bacia hidrográfica do mundo, ainda há um desconhecimento no resto do Brasil sobre o que se passa na Amazônia.

Eu conheço bastante a região da Amazônia, já fui a quase todos os Estados da Região Norte, da Região Centro-oeste e também ao Estado do Maranhão, mas tenho um carinho especial pelo Estado do Amazonas. Fui a esse Estado umas vinte vezes, a maioria a trabalho. Nessas viagens, pude percorrer o Rio Amazonas de ponta a ponta, da cidade de Nhamundá na divisa com Pará até Tabatinga, na fronteira do Brasil com a Colômbia.

Viajei em embarcações grandes, em lanchas rápidas e também em barquinhos pequenos. Passei por um banzeiro que me fez rezar uns quinhentos pai-nosso e umas duzentas ave-maria, com medo do barco virar, e não virou. Em outra dessas viagens, conheci um menino, de seus lá 10 anos, que atravessou o Rio Amazonas em um barquinho pequenininho. Garoto corajoso, eu não faria isso de jeito algum. As viagens de barco me ensinaram que as distâncias também podem ser medidas em horas, não apenas em quilômetros.

Também vi a Vitória Régia, peixe voador, Boto, experimentei o Guaraná milagroso da Cidade de Maués e andei de "tuc tuc" em Tabatinga. Vi a eletricidade chegar em uma casa lá no meio da floresta, na beira do rio, distante umas 5 horas da cidade mais próxima, o que é muito bom, afinal, com luz elétrica é possível ter geladeira e conservar mais os alimentos. É muito obra do meu amigo Radyr, quanto orgulho eu tenho dele.

Em algumas cidades do Amazonas eu vi crianças brincando de roda, o povo jogando dominó na beira da calçada. Aprendi a gostar de tambaqui, compreendi que o Festival do Boi-Bumbá de Parintins tem um significado bem diferente do Carnaval "daqui debaixo". Em Parintins não há adversários, não há inimigos. Os que torcem para o Boi Caprichoso chamam o Boi Garantido de Boi Contrário e vice-versa. Quando um se apresenta, a torcida do outro boi fica calada, em um silêncio contagiante.

Foram verdadeiras epopeias. Quando começávamos a viajar, a gente era logo avisado do que teríamos pela frente: "olha, nessas cidades aí para aonde vocês vão não pega celular, quando pega, pega muito mal. Internet então, nunca se ouviu falar". Eu, nascido e criado em Belo Horizonte, custava a acreditar nisso tudo, afinal no sudeste essas tecnologias fazem parte do nosso dia a dia.

No meio de uma das viagens, subindo um afluente do rio Amazonas no caminho entre Parintins e Maues, paramos em uma cidade para pernoitar. Chegando na pousada, perguntei se havia internet disponível, precisava responder meus e-mails, falar com a minha mulher. A dona da pousada, apressada em acolher o seu hóspede, respondeu sem titubear: "tem internet sim, meu senhor". Agradeci pela prontidão, peguei a chave, entrei no quarto, abri meu notebook, que não detectou nenhuma rede disponível. Cansado, sujo, e com raiva, retornei até a dona da pousada e resmunguei que não pegava internet coisa nenhuma. A sra. balançou a cabeça, meio tímida e concordou comigo. Mas em seguida ela me disse, toda segura de si: "meu senhor, internet não pega não, mas a Globo, a Globo pega". Toda vez que eu conto essa história eu solto um sorriso gostoso como se estivesse repetindo aquele momento, chegando naquela mesma pousada e perguntando se "pegava" internet.

Tenho muita saudade dos meus companheiros de viagem, que acabaram virando amigos. Saudades do Thiago, do Esmael, do Dr. Reigival, do Josefran, da Dona Martha, da Márcia, da Juliana, do Luiz e da Carla e de tantos outros amigos que deixei por lá. Bem disse o Poeta amazonense Thiago de Mello no seu belíssimo "Os Estatutos do homem": no Amazonas, vale a vida. Fiquem atentos, ainda serão exibidos outros episódios do documentário do cineasta Estevão Ciavatta. Vale a pena sintonizar a TV para conhecer mais o a região norte do Brasil. Quem sabe você não se anima e vai lá conhecer? Eu já estou me preparando para a minha próxima viagem, na contínua busca da vida verdadeira.

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*Leandro Eustaquio é coordenador do departamento de Direito Ambiental da banca Décio Freire e Associados. Mestre em Direito Público pela PUC/MG e professor de Direito Ambiental.


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