Cicatrizes digitais
Hoje em dia, além das cicatrizes físicas, os jovens adultos tem de lidar com outro tipo de marca: as cicatrizes digitais. Resta saber qual das duas será mais dolorosa.
quarta-feira, 8 de abril de 2015
Atualizado em 7 de abril de 2015 11:42
Aos 39 anos de idade, ainda carrego diversas cicatrizes pelo corpo que me lembram o quanto a minha infância e adolescência foram agitadas. São marcas de pontos cirúrgicos e feridas curadas frutos de escorregões durante brincadeiras, divididas de bola no futebol e outras tantas atividades de "risco".
Hoje em dia, além das cicatrizes físicas, os jovens adultos tem de lidar com outro tipo de marca: as cicatrizes digitais.
O melhor filme que assisti sobre estas cicatrizes virtuais foi o documentário canadense nominado "Facebook Follies".
No documentário o diretor Geoff D'Eon relata histórias de pessoas que foram vítimas do próprio conteúdo postado na rede social Facebook.
Foi o caso do canadense Ray Lam que se candidatou para concorrer a uma vaga de deputado na Colúmbia Britânica - Vancouver. A sua campanha ia muito bem até um dos seus adversários políticos garimpar fotos antigas postadas no Facebook pelo próprio Ray. As fotos eram do período da High School e numa delas o candidato está segurando um dos seios de uma amiga ao dançar com ela. Claramente se tratava de uma brincadeira entre colegas de escola.
Porém, a mídia, os eleitores e partido não foram complacentes com o candidato e ele se viu obrigado a desistir da eleição.
Caso semelhante, relatado no documentário, foi o da candidata a vereadora pela cidade de Dublin na Irlanda. Durante a campanha política, adversários políticos da jovem candidata Emma Kiernan, conseguiram uma foto antiga postada no Facebook. A foto foi tirada em um bar, por volta das 2h da manhã, e nela Emma é vista em pose sensual juntamente com as amigas. Elas estão vestidas e visivelmente se tratava de uma zombaria, contudo as repercussões foram muito negativas.
Ao contrário da história de Ray Lam, Emma foi eleita para o cargo de vereadora, tudo com muito custo devido à divulgação da foto.
Eu poderia terminar este artigo com algum tipo de lição de moral de como os jovens devem lidar com as redes sociais e com os conteúdos postados nelas, entretanto não sou ingênuo.
Quando jovem fui alertado sobre diversos riscos, mas fui ao encontro deles. Algo extremamente natural e inerente à adolescência.
Assim, os futuros adultos deverão suportar as cicatrizes físicas e digitais da juventude. Resta saber qual das duas cicatrizes será mais dolorosa. Nesta seara, o suposto direito ao esquecimento não irá ajudá-los.
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*Frederico Meinberg Ceroy é promotor de Justiça do MP/DF e presidente do Instituto Brasileiro de Direito Digital - IBDDIG.