A morte de Eduardo Campos e o cenário eleitoral
A morte de Eduardo Campos é, tragicamente, o mais importante fato político da atual campanha eleitoral.
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Atualizado às 08:27
A morte de Eduardo Campos é, tragicamente, o mais importante fato político da atual campanha eleitoral. Dentre os principais candidatos certamente Eduardo Campos era a "novidade" da eleição presidencial. Não propriamente em função de sua trajetória política, nascida em meio de uma das mais importantes oligarquias políticas do Nordeste, a do governador Miguel Arraes - que morreu também nesta mesma data. Eduardo Campos, jovem político da geração pós-64, procurava ocupar um espaço político entre o denominado lulismo e o eixo direito da política brasileira, ilustrado pelo mineiro Aécio Neves. Sua vinculação com a ex-candidata à presidência Marina Silva, muito embora se revestisse de ausência de identidade política entre ambos, poderia assumir a feição de uma espécie de "terceira via" na atual corrida eleitoral. Até a ocorrência deste triste episódio, a probabilidade de Campos ampliar a densidade de votos era baixa. Estava evidente que as eleições caminhavam para uma polarização entre o discurso político "burocrático-empresarial" de Aécio Neves e a "plataforma social" de Dilma Rousseff, embora esta última não encarne o lulismo na sua essência.
A morte de Eduardo Campos assumirá uma feição importantíssima, a despeito de seu fraco desempenho nas pesquisas eleitorais até agora. Marina Silva deverá ser a candidata do PSB à presidência e, com isso, transformará a corrida eleitoral atual num debate muito mais aceso a respeito do desenvolvimento e da política. A candidata Marina Silva contará com a herança de cerca de 20% dos votos da eleição de 2010, bem como esgarçará os votos à esquerda e à direita do eleitorado brasileiro. Para Marina Silva, o desenvolvimento é uma questão ideológica e pode ser calcada em novas bases, dentre as quais, envolvendo o tema da sustentabilidade social e ambiental. Daí decorre, em contraposição à sua moderna visão política, a alusão de "sonhática" à candidata, termo este que carrega uma perspectiva de transformação e, paradoxalmente, de empecilho ao desenvolvimento econômico e à finança. Portanto, não se deve subestimar o efeito dramático e imenso que a morte de Eduardo Campos tem sobre a atual política brasileira.
É difícil projetar a significação, digamos, "numérica" da troca de Campos por Marina. As pesquisas informarão rapidamente estes efeitos. Vale alertar que não dá para simplesmente verificar as pesquisas antigas e projetar o futuro. O evento dramático da morte de Campos trará elementos novos ao imaginário popular e, com certeza, afetarão a substância do voto (aspecto qualitativo) e não apenas o percentual (aspecto quantitativo). Arrisco-me a afirmar que a polarização eleitoral pode se alterar. Marina tem todos os ingredientes para assumir a feição oposicionista ao governo. Note-se que os votos de Marina não serão um legado perfeito de Campos. Os votos de Marina serão extraídos, como já dissemos, à direita e à esquerda do candidato pernambucano, ou seja, será vista como mais oposicionista que Aécio Neves e mais "social" que Dilma. Trata-se de um novo total de votos. O eleitor deverá se acomodar em novas bases e à luz de novos fatos. A política é construída racionalmente e emocionalmente, mas é decidida nos detalhes. Quem imaginaria que a escolha de Marina Silva em ir para o PSB poderia desembocar neste destino? Não fosse a "Rede" inviabilizada pela Justiça Eleitoral, não seria Marina a candidata com enormes chances de mudar o cenário eleitoral. Tudo pode mudar.
Há também o cenário de uma vitória de Dilma Rousseff ganhar a eleição em primeiro turno. As pesquisas indicarão a situação atual, mas isto será decidido muito mais em função do comportamento político de Marina Silva face aos novos fatos que pelos cálculos aritméticos dos institutos de pesquisas.
A pergunta adicional e relevante que surgirá, logo à frente, será em torno programa econômico de Marina Silva. Sabe-se que este tem um caráter evidente de conservadorismo, em função do perfil dos economistas que a assessoram (Eduardo Gianetti da Fonseca e André Lara Resende), bem como elementos que apontam para o futuro, notadamente nas questões de vanguarda como no caso da ecologia, da matriz enérgica e dos programas sociais.
O comportamento das elites perante o novo marco desta eleição será igualmente importante. Eduardo Campos estava inquieto com o apoio financeiro à sua campanha. Marina Silva, por conta da tragédia que se desfralda, pode ter mais apoio. A palavra está com o eleitor que recebe esta notícia como um novo ponto de partida no inquietante jogo eleitoral do Brasil de hoje.
Vamos continuar refletindo sobre estas questões e informaremos os nossos eleitores a respeito de nossas percepções.
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*Francisco Petros é economista, pós-graduado em Finanças. É Bacharel em Direito. Foi Presidente da APIMEC-SP (Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais).