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Oposições

Só o exercício permanente e livre do contraditório pode deter como numa vacinação em massa os surtos do totalitarismo.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Atualizado às 09:56

Sem o direito de discordar não há contraditório e sem o contraditório não há democracia.

Aceitar como se fosse um dogma a predominância de uma única ideia pronta e acabada sem discuti-la é abrir mão da racionalidade inerente à condição humana.

Sempre que um Povo se queda à verdade única ditada por algum poderoso do momento abre-se uma perigosa senda para o totalitarismo.

Contraditar não é apenas opor a duvida, a desconfiança, exercitar a coragem e sangrar o medo.

É da maior importância, suscitar ideias inspiradoras que amplamente discutidas e só então aceitas possam condensar-se, por exemplo, em proposta alternativa de políticas públicas.

Numa democracia como a nossa ainda em construção nunca haverá espaço para o totalitarismo das oposições raivosas que supõem poderem se impor pela raiva e no grito.

A intolerância às ideias novas brotadas na contramão da ortodoxia predominante vira doença que por contagio pode anestesiar mentes fazendo com que as pessoas, tendo perdido a razão, se deixem manipular passivamente.

Só o exercício permanente e livre do contraditório pode deter como numa vacinação em massa os surtos do totalitarismo.

Sempre que o Povo se desencanta com os políticos que encarnaram suas esperanças a demagogia se anima e a raiva dos aproveitadores e oportunistas muito agradece.

Temos que refletir em busca de explicações lucidas sempre que o desencanto coletivo despontar e for se ampliando que nem os raios do sol se impõem rasgando as nuvens.

Como diria Eça de Queiros via Conselheiro Acácio - "as consequências vêm depois...".

Na democracia o desencanto coletivo sempre tem a ver com o resultado das urnas.

Mas quem colocou o voto lá? A maioria manipulada sob a verdade única do coronelismo eletrônico, portanto, mal informada e paupérrima em suas condições de vida digna e, por isso mesmo, aberta como um deserto a todas as esperanças.

Ocorre-me agora usar aquela expressão preferida pelo negão sempre que ele quer afirmar negando a alguém alguma coisa - não vislumbro!

Pois eu também, no caso aqui da carência de contraditórios seguros e responsáveis, não vislumbro seriedade na politica feita à base da verdade única e da raiva gritada.

Ao ponto a que chegamos neste estado de coisas, que é um estado de muitas coisas ruins e quase em nada um estado de direitos, o desencanto coletivo começa a piscar em luz amarela de intensidade forte o seu primeiro e enorme sinal de alerta!

Apesar de todas as pesquisas eleitorais, manipuladas ao gosto de quem as encomenda e paga, o que se sabe agora de base confiável porque cientifica é que muito mais que a metade dos eleitores inscritos sequer sabe ainda em quem votar nas próximas eleições.

Vamos nos dar as mãos não apenas como quem num fim de semana veste roupa branca e vai ao parque abraçar as arvores em sinal de protesto contra a degradação do meio ambiente e depois volta para casa e depois não acontece mais nada.

Vamos nos dar as mãos em atitude de fé e de confiança no presente porque todo dia faz bom tempo para a união em busca de ideias novas e inspiradoras à consolidação de propostas confiáveis e eficazes para essa realidade horrível que queremos transformar. Com todo o respeito.

Como advertiu Gandhi, "olho por olho e o mundo acabará cego". Vamos nos dar as mãos também como quem reza o Pai Nosso no momento mais sublime da missa.

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Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA.

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