Ano novo à Mandela
A aproximação do novo ano faz com que as pessoas mudem seus olhares e comecem a ver o mundo pelos olhos do coração.
domingo, 29 de dezembro de 2013
Atualizado em 26 de dezembro de 2013 10:35
A aproximação do novo ano, como num passe de mágica, faz com que as pessoas, num repente, mudem seus olhares e comecem a ver o mundo pelos olhos do coração. O próprio ambiente das luzes coloridas, os enfeites com seus apelos, os votos reciprocamente trocados, proporcionam um clima de esperança com força suficiente para espantar para bem longe as ameaças que nos espreitam e alcançar um lugar de paz. Talvez até mesmo aquele sonhado por Mandela na sua luta em busca da liberdade e felicidade de seu povo, gesto que surpreendeu o mundo porque as pessoas não estavam mais acostumadas com a solidariedade, a fraternidade e a busca da felicidade, mesmo à custa de muito sacrifício.
O movimento de alegria sempre traz a vontade de modificar o mundo estranho e conturbado em que vivemos, cada um quixoteando à sua maneira e investindo contra os moinhos de vento que se apresentam em suas andanças. Quer dizer, cada um repete as velhas fórmulas para modificar os erros acumulados e calcificados de uma sociedade que, ao que tudo indica, caminha à deriva. Não há uniformização do pensamento. Cada um recita o texto que lhe cabe no drama ou na comédia, dependendo da vida que leva. Assim, nesta composição enviesada, o que se vê são notas musicais isoladas ziguezagueando os eus em busca do coro de nós. E faz lembrar o que dizia o Cavaleiro da Triste Figura: quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha junto é o começo da realidade.
Basta lançar uma pedra em um pequeno lago com águas serenas e observar na sequência que as ondas lentamente se propagam e alcançam a outra margem. E não param. E quanto maior a pedra, maiores as ondas. Retornam em revezamento e neste vai e vem dão uma nova imagem àquele remansoso lago. Tudo em razão de um pequeno movimento. Faz lembrar que o
Em tempos de wikiLeaks, em que se publicam informações confidenciais de governos ou empresas, com base em fontes anônimas, a pessoa, na sua individualidade, na dimensão "do si contra sigo mesmo", entoada por Guimarães Rosa, deveria propor uma reinvenção começando pela prática de bons atos, mesmo que sejam simples, ter paixão e entusiasmo para erguer a bandeira da tolerância construtiva, e sentir dentro de si a força que projeta para o exterior. Como um apóstolo que levou adiante e propagou a proposta divina, suficiente para abrir a porta das boas novas. É um trabalho incessante e continuado de aprimoramento para descobrir novos caminhos, indicar atalhos e iluminar a zona de penumbra.
A proposta é simples e não exige qualquer protocolo para sua execução: se cada um procurar apagar as avessas pegadas deixadas pelas anteriores, irá exercer bem-vinda influência para a prática do bem, um verdadeiro arauto a anunciar por todos os ventos os valores fundamentais do bem viver, há muito cantado por Justiniano. Já que se fala tanto em projeto nas relações humanas, pode ser rotulado como projeto de embelezamento do mundo. Uma verdadeira obra desenfreada de entusiasmo e solidariedade de talentos tendo à frente como arquiteto Aquele que despertou o sentimento humanitário do amor para se conquistar uma vida com abundância e bem-aventurança.
Um simples ato que seja significativo faz com que cada um se torne personagem da maravilhosa aventura da vida e coloque em seu espírito a tonalidade da fé e esperança e entre no novo ano com o coração contrito e a alma em festa. Assim, lançando a pedra, por pequena que seja, você irá patrocinar uma nova realidade, transformando a vida em uma sucessão prazerosa de atos simples que culminarão na multiplicação dos elevados projetos da humanidade.
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* Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de Justiça aposentado, mestre em Direito Público, com doutorado e pós-doutorado em Ciências da Saúde. Advogado e reitor da Unorp - Centro Universitário do Norte Paulista.