O senhor pode tudo
Era uma vez, em um Reino distante, um homem desconhecido do povo que foi chamado e nomeado pelo Rei para ocupar um dos cargos mais importantes do Reino, o cargo de ministro da Corte Constitucional.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Atualizado em 3 de dezembro de 2013 16:23
Era uma vez, em um Reino distante, um homem desconhecido do povo que foi chamado e nomeado pelo Rei para ocupar um dos cargos mais importantes do Reino, o cargo de ministro da Corte Constitucional. Este homem continuava praticamente desconhecido até que um dia ele passou a ser o relator de um importante e afamado processo que tramitava naquela Corte por força de três ou quatro acusados. A partir de então, este homem começou a praticar atos que o tornariam conhecido, com o apoio dos meios de comunicação e de quase todo o povo. Chegando ao ponto da máscara com seu rosto se tornar um dos adereços mais vendidos e usados na festa popular daquele Reino, conhecida como carnaval. Com sua popularidade em alta, este homem passou por cima de todos os princípios que deveriam nortear os ministros da Corte. Passou a ofender seus pares, a desrespeitar jornalistas e, até mesmo, a imprensa que outrora o apoiou. Este homem - "senhor pode tudo" -, já afrontou a Casa Legislativa, já escarneceu dos advogados, sem falar das arbitrariedades cometidas durante o famigerado processo, que por ele foi "fatiado". Entre bate-bocas, ofensas e falta de decoro para o cargo o "senhor pode tudo" passou a ocupar a presidência desta Suprema Corte. Por pouco o "senhor pode tudo", ainda, não tomou a coroa do Rei, ou melhor, da Rainha que agora era quem reinava.
Um belo dia um plebeu muito preocupado com os rumos que o Reino estava tomando, principalmente, com os poderes ilimitados do "senhor pode tudo", lembrou-se o plebeu de um poema que havia aprendido com seu humilde pai e resolveu, sem saber a origem certa deste poema, enviá-lo para os demais ministros daquela alta e prestigiosa Corte, enviou, também, para a Rainha e para o Chefe da Casa Legislativa o seguinte poema:
"Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim: não dizemos nada. Na segunda, já não se escondem. Pisam as flores, matam o nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada".
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas ou fatos da vida real terá sido mera coincidência.
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* Leonardo Isaac Yarochewsky, advogado criminalista do escritório Leonardo Isaac Yarochewsky Advogados Associados.