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Cabeças

Como funcionam as cabeças de nossas principais lideranças no campo das decisões políticas e econômicas?

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Atualizado em 22 de novembro de 2013 14:31

Com a aproximação do fim do ano, com o Natal e suas festas, talvez fosse interessante divertir o leitor com um texto menos sisudo e menos acadêmico, que apontasse algumas verdades, mas em tom de brincadeira.

Lembrei-me de escrever algo a respeito das cabeças que iluminam nossa vida pública, na política, na economia, na cultura, na mídia?

Como funcionam as cabeças de nossas principais lideranças no campo das decisões políticas e econômicas? Por exemplo,

ANTONIO DELFIM NETTO - Esta é uma cabeça das mais curiosas. Mistura sabedoria com forte tempero de humor, o raciocínio matemático com muitas tintas da cultura, a aceitação do novo aliada às lições permanentes da história, o profissionalismo maduro com a inclinação lúdica, a inesgotável capacidade analítica com a malandragem da ironia. Sua formação teórica é sólida o suficiente para desconfiar dela, descobrindo e ensinando que a teoria é importante, mas que na prática a teoria é outra.

De certa feita atrevi-me a denunciar que a cabeça de Delfim Netto é uma jabulani, a bola de futebol da Copa de 2010, caracterizada por mudar de percurso durante o trajeto. Parece coisa "sobrenatural", no dizer de Luiz Fabiano, pela sua imprevisibilidade.

Não sei se o brilhante economista gostou, nem se entendeu o que eu quis dizer: que sua cabeça se move em várias direções, contando com as variáveis tanto quanto com as permanências, dando prova de agilidade mental superior. Um de seus conselheiros é o "velho Niccolò" (Maquiavel). Mas não é nenhum "pragmático" primário, e sim intelecto dos mais complexos e indevassáveis.

Delfim começou como tecnocrata, mas sua vocação política sempre foi poderosa e o empurrou para a condição de estadista. Sua formação humanística nunca se comparou com a de Roberto Campos, formado na cultura clássica e humanística, com muito latim e grego. Mas Delfim, que tinha uma biblioteca numerosa e variada começou cedo a dedicar-se a outras leituras que não os tratados de matemática (que lê como romances), reduzindo sua diferença com Campos.

LULA - A cabeça de Luís Inácio Lula da Silva é a cabeça de perfeito sindicalista, alimentada com muita testosterona. Cabeça de sindicalista é a que leva o jogo da ação direta às últimas consequências. É cabeça muito violenta, que não admite nenhum obstáculo em seu caminho. Obstáculos tais como a lei, a justiça, a norma, a parte contrária, a oposição, o parlamento, os tribunais, os instrumentos de mediação, em suma, as instâncias indiretas.

É preciso remontar à história. Por volta de 1900, grupos de sindicalistas franceses começaram a guerra contra as instâncias indiretas para resolver conflitos sociais e políticos. Nada de dar a volta pelo que dispõe a lei e a ordem, nada de perder tempo com a mediação do parlamento ou dos tribunais. Todos objetivos se conquistam pela ação direta, sem participação de qualquer outra instância, pela violência, se necessário. Este foi o início da mentalidade sindicalista que se espalhou para os países industrializados e dura até hoje, inclusive no Brasil.

A ação direta é inimiga de todas as instituições, e Lula foi um eversor de instituições: anulou a personalidade do Legislativo à força de cooptação dos parlamentares e das medidas provisórias; minou o Executivo mediante a centralização brutal das decisões; só não conseguiu comprar o Judiciário, que levou a cabo o Mensalão, sob seus protestos de bovino enfurecido.

Cabeça alimentada por abundante irrigação de testosterona, responsável por seu linguajar de caudilho sertanejo, vozeirão arrogante, recheado de lances de mau gosto beirando a obscenidade.

DILMA ROUSSEFF - A "presidenta" não se sabe por onde pegar. Ninguém descobriu ainda o que vai por sua cabeça, nem o que ela pensa, nem o que ela quer, exceto fazer de tudo ("fazer o diabo") para ganhar a reeleição. Na dificuldade de vislumbrar o que vai por sua mente, a solução será descritiva, quer dizer, retratá-la pelo lado de fora, tomar sua cabeça não pelo que encerra, mas pelo que exibe exteriormente.

Comecemos pelo penteado. É uma obra de arte que está a merecer um prêmio internacional. Nem Maria Antonieta, nem Maria de Médici, nem Madame du Barry, com todo o esplendor da corte de Luís XV, ostentaram com tanta galhardia um penteado tão glorioso quanto o da nossa suprema governante.

Seguem-se as orelhas presidenciais, femininas, bem torneadas, sempre atentas às palavras do marqueteiro Santana e de Lula, embora menos atentas às vozes do povo que sucumbe ao peso crescente da inflação, da desordem econômica, do fracasso educacional e da mediocridade de expectativas no futuro. Adeus à utopia de um horizonte incitante.

Finalmente, os cenhos da "presidenta", sempre prontos a se fecharem quando contrariada nas suas expectativas ou por algum ministro mais descuidado.

FERNANDO HENRIQUE - Fernando Henrique Cardoso é uma das cabeças mais bem formadas do país. Em sua fisionomia e em seu porte já demonstra ser o que é - uma soma de qualidades ancestrais e modernas, sugerindo que ele mesmo, sua pessoa, deve seu sucesso à vocação de ser um mestre das somas, e não das divisões. Em sua presença transparece, de longe, o charme do mulato, a energia de seus antepassados militares, o porte dominante, com algo de imperial, e o dom da palavra irresistível, seja em público ou no diálogo familiar com poucos participantes. FHC tem o dom de enxergar sempre um pouco mais à frente do que o comum dos mortais.

O sociólogo, o acadêmico, o intelectual são, apenas, o cartão de visita de sua verdadeira personalidade, o homem de ação, o Executivo da cabeça aos pés, que se serve da formação universitária como o instrumento de sua atividade política original e criativa animada pelo sopro do titanismo dos construtores de nações.

JOSÉ SERRA - Serra é outro superdotado. Tem o mesmo nível intelectual de Fernando Henrique, enorme apetite de leitura, das mais variadas, incluindo muita obra de ficção e poesia. E uma capacidade de trabalho desmedida, que chega às raias do monstruoso. Sua relação com o tempo é muito especial e produtiva. Dêem-lhe um mês e ele faz o trabalho de um ano; dêem-lhe um ano e ele entrega realizações de cinco anos.

Faz parte de sua baixa pulsação com o tempo, aquela calma inalterável de quem vive como se tivesse todo o futuro ao seu dispor. Pode parecer dificuldade de tomar decisões, mas não é o caso. Ele não tem pressa porque está sempre esperando o momento favorável, aquilo que os gregos chamavam khairos. O político tem que agir na hora certa, nem antes, nem depois. Deve estar em sintonia com o khairos se quiser ganhar suas apostas. Aristóteles sabia disso e dizia ser a política uma ciência khairológica. E vá discutir com Aristóteles quem tiver coragem. Tudo na vida tem sua hora. Hora de pedalar calmamente de bicicleta, e hora de arremeter estrada afora na vertigem da velocidade.

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* Gilberto de Mello Kujawski é procurador de Justiça aposentado, escritor e jornalista.





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