Alegria
O mundo anda meio assim, em carências de afetividades e de bom humor, um tanto desligado das coisas do amor.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Atualizado em 30 de abril de 2013 14:56
Presta atenção no outro que vem ali. Agora esboça um sorriso e arrisca lhe desejar um bom dia. Verás que o gesto na reciprocidade, quando muito, é mecânico. Não vem com emoção, com aquele agá de humanidade.
Tenho notado as pessoas, no geral, um tanto ensimesmadas, mal humoradas, muito invocadas e me pergunto se não é de hoje que elas andam assim ou se eu é que só agora, melhor dizendo ultimamente, passei a prestar mais atenção.
Aqui, acolá, alguém, talvez só para confirmar a exceção da regra, retribui com um olhar tímido, quase sonegando o sorriso, como se assaltado por algo tão inusitado e de tamanha surpresa.
O mundo por estas bandas anda meio assim, em carências de afetividades e de bom humor, entretido com outras e outras preocupações, um tanto desligado das coisas do amor.
Os catadores de noticias não se interessam muito pelas coisas mais disponíveis ao sentido melhor da vida. O crime, a catástrofe, a tragédia, sim, interessam. O amor, o sorriso e a flor, não.
Falar em flor, e no caso aqui é mais que isso, é um buquê, não compreendo porque chamam de núcleo duro ao pequeno grupo agora na cúpula do nosso governo encabeçado por essas mulheres que nos melhoram o olhar na televisão.
Por que núcleo duro e não núcleo rosa ou algo assim mais suave, alcatifado de flores, onde a brisa fala amores nas lindas tardes de abril, tão primaveris? Por que esse mau gosto de alcunhar de núcleo duro esse conjunto de mulheres tão inspiradoras, tão românticas e tão varonis?
Os catadores das noticias ruins nos impingem esses despautérios que a gente, quase todo dia, ouve no rádio ou lê nos jornais de que a nossa presidente se aborreceu com uma coisa, que a nossa presidente anda irritada com aquilo, que a nossa presidente não quer nem ver a cara do fulano e coisas que tais.
Até parece ser prazeroso difundir essa falácia de que há um mau humor oficial se espraiando e eu até me pergunto se isso tudo não é gênero, armação de marqueteiro ou conspiração da direita que, agora na rosa dos ventos, enche as redações de Brasília.
Ou se não é mesmo uma tentativa de querer levar nós outros ao dogma de que agora há um novo estilo no poder, jeito muito diferente e zangado nas razões de ser, o que então vem a ser? Lógico que é tudo intriga da oposição, tudo conspiração da direita. Ou das esquerdas ainda não contempladas.
O que eu te garanto é que até onde eu a conheço, pessoalmente, e de longa data, a nossa presidente não tem nada a ver com essas coisas mal humoradas que, incluindo os cobradores de emendas e outras sinecuras, andam falando pela aí. Ela é de sorrir bacana e de dar um bom dia irradiante, sim.
As recordações que tenho dela é de uma pessoa doce, suave, de íris cor de mel, culta, bem educada, mas que, como todo insurgente da nossa geração, gosta de política, sim, e de história e de poesia, que é fã do Chico e do Caetano, que adora o rock do Bono do U2, as letras do Belchior e do Raul Seixas e as canções do Zeca Baleiro. E em tempos remotos de um dance in day.
Ainda não estás sendo filmado, ó cara. Aproveita e escancara um sorriso alegre e grita - boom diiiaa! Alegria, alegria pessoal, alegria!
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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA