A missão materna de proteger
A causa do desarmamento é comentada a partir da perspectiva da missão materna de proteger.
terça-feira, 12 de março de 2013
Atualizado em 11 de março de 2013 15:21
Aqueles que me conhecem sabem que sou uma mãe pouco convencional. Bem diz meu filho que eu, mais velha, parecerei a mãe do "Meu malvado favorito" e quem viu o filme entenderá. Apesar de toda minha esquisitice, reconheço em mim alguns traços próprios de fêmea com filhotes. Acredito piamente que de todas as armadilhas biológicas impostas ao sexo feminino, de longe a mais poderosa é a missão de proteger as crias. Quem não lembra da mãe que salvou literalmente "a unha" o filho das garras de um jacaré em Everglades?
Com tal instinto, desde o nascimento do meu primeiro filho, me dedico à tarefa de me auto-educar buscando evitar perigos para eles... Nada de baldes cheios d'água onde poderiam se afogar, blusões com capuz que poderiam enroscar no escorregador, distância de qualquer animal selvagem no circo, vigilância absoluta na praia, companhia para atravessar a rua e subir no elevador...Tudo é risco para a mãe atenta, hiper-protetora e neurótica. Nesta jornada de preservação de minha descendência desenvolvi uma mania pouco saudável, mas útil - ler jornais à procura de informações sobre infortúnios alheios que possam me alertar para que nada aconteça aos meus rebentos.
Tenho sofrido verdadeiramente com pais que esquecem os filhos nos carros, perdem as crianças em acidentes domésticos, que não souberam como socorrê-los de um engasgamento, entre outros acontecimentos lamentáveis.
Mais recentemente a leitura de casos relacionados com armas tem me chocado em especial. Pais que, assustados, atiraram nos filhos adolescentes que voltavam de festas. Assim, acompanhei a notícia do para-atleta que, pensava-se, confundiu a namorada com um ladrão. Quanto a este fato, há inúmeras dúvidas a serem esclarecidas, mas juntamente com a reportagem de Pistorius, havia um link para um caso semelhante, o de Rudi Visagie, jogador de rugby sul-africano que alvejou a filha de 19 anos achando se tratar de um ladrão de carros. O comentário dos jornalistas em ambos os casos era que, na África do Sul, devido à violência, é comum as pessoas terem armas em casa. Em muitos países é fácil o acesso a elas e no Brasil, também em razão da violência, há quem procure se defender possuindo revólveres, espingardas ou outras armas de fogo. Imagino a dor de um pai ao se dar conta que causou a morte de um filho. Uma drástica inversão do curso da natureza e uma culpa extrema, possivelmente insuperável.
Reflito... Não seria melhor ter de fato o carro roubado? Ser assaltado e mesmo morto por qualquer tipo de bandido em lugar de ter a existência destroçada por um engano? No caso de uma discussão, acabá-la em choro convulso e não com tiros? Penso que qualquer coisa seria preferível a tais tragédias. É preciso banir as armas e nós precisamos nos mobilizar para isso acontecer. No meu coração, espero que haja cada vez mais cidadãos levado a causa do desarmamento. Nos lugares onde existe tanta criminalidade, não é o cidadão comum que deve se entrincheirar em sua morada, mas sim a sociedade que deve exigir o melhor treinamento e remuneração de policiais, estes homens e mulheres que têm a dura missão de proteger as pessoas, missão esta que nós, mães, conhecemos muito bem!
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* Alessandra Raffo Schneider é Diretora Jurídica da Suzlon Energia Eólica do Brasil e integrante do Jurídico de Saias
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