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Adeus às ilusões

"Há que se estar muito atento às ilusões. Elas se agregam às esperanças, mas não são esperanças". Confira a crônica.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Atualizado em 1 de novembro de 2012 14:16

A esperança muitas vezes se transmuda em tantas promessas que a ilusão, movida a ansiedades, vai ocupando os espaços até então exclusivos das expectativas.

A esperança é um sentimento de fé, uma certeza imaginária e absoluta acenando acréscimos benfazejos aos seus sonhos.

Expectativas são as esperas, longas esperas, umas assim, outras nem tanto.

O perigo é quando isso tudo parece estar tão perto que nem a janela de vidro que o pássaro aqui ao meu lado insiste em bicar.

Eu aqui em silêncio, concentrado, e o pássaro bicando a janela de vidro me interrompendo e, agora, já não mais com o batuque do seu bico na janela de vidro, mas com o seu canto insistente como se me pedisse para abrir a janela e deixar que venha até aqui.

Levanto os olhos e me viro para a janela e vejo que não é um só, são dois ou três pássaros. Já conto cinco os que balançam os galhos fazendo caírem pétalas das flores da espirradeira.

Não sei por que esse nome horrível, espirradeira, numa arvore que nesse clima do ano nos presenteia flores tão lindas, umas brancas, outras rosas.

Estando tudo aparentemente tão perto, aparentemente alcançável, quem vem para dominar o campo demarcado? A ilusão. E ela nos faz sonhar intermitentemente, cochilando, acordado, com sono ou sem sono, de todo jeito.

A ilusão se presta muito ao serviço do amor e muito mais ainda ao serviço da paixão. Amor e paixão são diferentes, sim.

Paixão é incêndio devastando as florestas íntimas de cada ser. Amor é o que fica de depois, é brasa acesa, queimando forte e lentamente. Carinho e respeito são os oxigênios da brasa que mantém o amor aceso.

Há que se estar muito atento às ilusões. Elas se agregam às esperanças, mas não são esperanças. As ilusões se confundem com as expectativas, mas com certeza não as são.

Não podemos deixar que as ilusões nos acalentem aos sonhos. Muitas vezes elas encostam no nosso sono e depois quando despertamos é que temos a noção do pesadelo.

Sonhar é ótimo, de preferência estando acordados. Assim podemos trabalhar buscando alcançar o sonho. Não deixar que a esperança escapula, não perdê-la de vista, não confundí-la com o verde de algum gafanhoto, isso tudo é indispensável para mantermos as expectativas sob premissas viáveis.

Dizer adeus às ilusões é saudável, colega.

Muitas vezes chega esse momento ao nosso tempo e nem nos apercebemos. Iludidos, reagimos sem autonomia, como dependentes das promessas com as quais, constataremos um dia, nos enganaram.

Quando a ilusão é produto da trapaça que nos pregam, e nos pegaram de mau jeito em nossa boa fé, a verdade não demora muito a repor em nós aquela confiança perdida na nossa intuição.

Aí, colega, não basta só dizer bom dia a todos e a todas. As ilusões já estão desmascaradas, mas levamos tempo, um tempão, para nos desvencilhar.

Desiludir-se, eu sei, não é fácil assim. Muitas vezes estamos tão mal acostumados com aquelas fantasias e ate os fantasmas decorrentes nos parecem gentes boas.

Então, colega, se aquela ilusão já não te serve e só te ataranta queimando o teu crédito, o que te resta agora é desiludir-te. Retomar a esperança, resgatar aqueles princípios sadios, retocar o sonho e seguir trabalhando.

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*Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA






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