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Rita Levi-Montalcini completou 100 anos: uma vida gloriosa

Nascida em Turim no dia 22 de abril de 1909, Rita desde menina mostrou um forte sentimento de paixão pelo estudo e de absoluta independência quanto ao modo de viver da sua família, rebelando-se contra a severidade paterna e o indisfarçável controle comportamental, que os submetia às tradições de sua família.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Atualizado em 6 de maio de 2010 13:07


Rita Levi-Montalcini completou 100 anos: uma vida gloriosa

Jayme Vita Roso*

"O pensamento não tem fronteiras:
Ele vai pra onde o coração o conduz"
Chmouël Yossef Agnon

Nascida em Turim no dia 22 de abril de 1909, Rita desde menina mostrou um forte sentimento de paixão pelo estudo e de absoluta independência quanto ao modo de viver da sua família, rebelando-se contra a severidade paterna e o indisfarçável controle comportamental, que os submetia às tradições de sua família.

Terminando os estudos preliminares, confessou mais tarde que sua vocação pela medicina adveio de uma prematura e dolorosa experiência com a morte de uma pessoa muito querida. Já formada, ainda jovem, depara-se com o castrador decreto de Mussolini (1938), conhecido como "Manifesto da Raça". Através dele os judeus residentes na Itália tiveram suas atividades acadêmicas e profissionais barradas.

Pouco tempo atrás, o autor desse artigo viu uma notificação recebida por um médico judeu na Itália, proibindo-o de exercitar a profissão. O texto da carta era permeado de citações, de leis e concluía com uma verdadeira interdição à vida. Realmente a quem foi dirigida essa mensagem deve ter sofrido um profundo abalo, pois foi submetido a uma castração no mais profundo do seu ser. Mas Rita não se atemorizou. Logo em seguida, durante a guerra, conduziu experimentos em um laboratório instalado na sua residência. Nele estudou o crescimento das fibras dos nervos em embriões de galinhas que serviram para suas experiências posteriores.

Sua família mudou para Florença em 1943, durante o auge do conflito, em virtude dos sangrentos combates e da perseguição sofrida por serem judeus. Na Toscana, Rita também em casa, montou um rústico laboratório. Terminada a guerra, em 1945, todos retornam a Turim novamente. Foi grande a coincidência pois também voltou a essa cidade o grande escritor Primo Levi.

Rita aberta ao mundo, em 1946 vai trabalhar na cidade de São Luiz (EUA), na Universidade de Washington sob a supervisão do seu mestre, Professor Victor Hamburguer. Curiosamente o convite foi por seis meses para pesquisar células, que terminaram por isolar o fator de crescimento do nervo a partir de observações de certos tecidos cancerosos que resultavam no crescimento extremamente rápido das células nervosas. Este breve tempo para o qual Hamburguer convidara Rita, transformou-se em três dezenas de anos, ou seja, permaneceu em São Luiz por trinta anos, tendo chegado ao dignificante cargo de Professora Plena na Universidade.

Pesquisadores apontam que a curiosa e instigadora Rita Levi-Montalcini conseguiu o seu maior êxito, que resultou no recebimento do Prêmio Nobel de Medicina, por pesquisas iniciadas nos anos 50, no laboratório do Instituto de Biofísica da Universidade do Rio de Janeiro. Esse prêmio foi-lhe outorgado em 1986 e o recebeu das mãos do Rei Carlos Gustavo da Suécia. Em que consistiu ele? Dizem os entendidos que, a partir da pesquisa em parte feita no Brasil, ela conseguiu dar realce à existência de um fator de crescimento dos nervos, cuja sigla em inglês é NGF. É o próprio organismo que produz esse fluído. Fluindo, em contato com as células nervosas, como uma mágica, ele as faz crescer, sempre tentando traduzir os cientistas.

Através dessa brilhante trajetória de Rita e com os resultados conseguidos, atualmente, através do auxílio da engenharia genética abrir-se-ão possibilidades de cura das mais conhecidas doenças degenerativas do sistema nervoso que afetam tantos milhões de pessoas (mal de Alzheimer e mal de Parkinson).

Rita, a grande Rita, a elegante Rita, sempre foi fascinada por histórias de detetives os quais aguçaram os seus inatos instintos de investigadora. Foi feita, por Decreto Presidencial, na Italia, Senadora Enquanto Viver.

Muito atacada pela direita por ser judia e ativa militante da memória da comunidade hebraica italiana, para qual doou parte do dinheiro recebido com o Nobel, ela continua sendo uma mulher singular e participativa. Confessadamente aliada com a centro-esquerda italiana, deu apoio ao governo Prodi.

Trabalha diariamente em pesquisas, vive de forma espartana, está envolvida em inúmeras atividades sociais e filantrópicas, sobretudo por seu grande interesse na melhoria das condições de saúde dos países africanos. Em suma, seu objetivo na vida é sempre ajudar os seus semelhantes.

Um destaque especial: neste século, Rita Levi-Montalcini escreveu nove livros. Confesso, li três: Um Universo Inquieto; Tempo de Mudança e Tempo de Ações.

Não há nada melhor, nesta época de desânimo e de desencanto do que percorrermos seus livros, meditando sobre suas palavras, sobre suas propostas, sobre seus ensinamentos e sobretudo nos seus dignificantes exemplos.

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*Advogado e fundador do site Auditoria Jurídica



 

 

 

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