O Jogo dos 7 Erros
Quando criança eu adorava os Jogos dos 7 Erros, comuns em almanaques. Existia algo de fascinante para minha imaginação infantil em passar um tempo observando dois quadros aparentemente idênticos num primeiro olhar e, ao aprofundar a atenção, conseguir enfim encontrar as diferenças.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Atualizado às 09:08
O Jogo dos 7 Erros
Christina Montenegro Bezerra*
Quando criança eu adorava os Jogos dos 7 Erros, comuns em almanaques. Existia algo de fascinante para minha imaginação infantil em passar um tempo observando dois quadros aparentemente idênticos num primeiro olhar e, ao aprofundar a atenção, conseguir enfim encontrar as diferenças.
Mas por que erros? Qual quadro era o certo e qual era o errado. Isto também me intrigava.
Ainda movida pelo mesmo espírito, especialmente em tempos de "diversidade", proponho que observemos departamentos jurídicos e escritórios de advocacia, advogados e advogadas, e tentemos encontrar as diferenças.
Num primeiro momento, todos temos a mesma formação jurídica e trabalhamos com o Direito como ferramenta técnica. Assim, poderíamos dizer que há muitas semelhanças no que fazemos. Então por que às vezes ouvimos certas pérolas como: "advogado bom está em escritório de advocacia". Ou por que parece haver mais homens em posições mais altas nos escritórios e mais mulheres na liderança dos departamentos jurídicos?
Penso que a resposta está no fato de que para um (escritório) e para outro (departamento jurídico) há um conjunto de competências requeridas muito específicas, não melhores nem piores, apenas diferentes. Os profissionais que atuam em ambos ambientes devem conhecer as leis, os números e as práticas de negócios, pois o papel do advogado empresarial evoluiu muito tanto para advogados internos quanto externos, homens ou mulheres.
Sou mulher e desenvolvi toda a minha carreira profissional dentro de empresas, então prefiro falar daquilo que conheço de perto. A primeira diferença óbvia entre o advogado de departamento jurídico do advogado de escritório é que o primeiro "vive" dentro do cliente. Em Inglês, é o chamado in-house lawyer.
Este advogado faz parte da dinâmica da empresa, da qual recebe sua remuneração, e está intimamente atrelado à estratégia e ao desempenho da organização, tendo com esta - sua cliente - uma obrigação de lealdade.
Ele deve conhecer sua cliente profundamente, assim como o ambiente de negócio em que atua. Acaba em geral deixando de lado o conhecimento detalhado das leis, para ter uma visão de águia e conhecer um pouco de toda a legislação que possa, de alguma forma, afetar a empresa-cliente.
E tem que entender de gente, de alma, ter bom relacionamento, empatia, trânsito pela corporação, saber falar e, mais importante ainda, saber ouvir. Quantas vezes a simples presença do advogado interno em uma reunião é o que basta para transmitir à cliente a segurança necessária para uma boa tomada de decisão ou para definir os rumos de uma negociação.
Será que estas características são típica e exclusivamente femininas ou será que os jurídicos internos atraem mais mulheres por terem uma imagem mais estável, menos competitiva, mais favorável ao equilíbrio entre profissão e vida pessoal?
De outro lado, será que alguns homens destacam-se mais em escritórios porque as possibilidades de remuneração são quase infinitas, mas a cobrança por trabalho a qualquer tempo é também exacerbada?
Ouvi dizer que nos EUA é claríssima a preferência dos escritórios por contratar pessoas do sexo masculino, por conta do trabalho em qualquer dia ou horário e de uma baixa tolerância dos sócios a que o advogado se ausente para tratar de questões pessoais.
Curiosamente, também ouvi dizer que lá a maioria dos jurídicos internos é comandada por mulheres, e estas mulheres - clientes dos tais escritórios - passaram a exigir, e é esta a palavra, exigir que fossem atendidas por sócias do sexo feminino dos escritórios (não sei se mais por afinidade ou por algum sentimento de vingança...).
O tema dá pano para a manga, causa polêmica e não faço aqui uma análise técnico-científica do assunto. Apenas proponho uma lúdica reflexão: escritórios e jurídicos internos, homens e mulheres. Será que os 7 erros realmente existem?
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*Gerente Jurídico, Regulatório e Relações Governamentais da Edwards Lifesciences - Latin America e integrante do grupo Jurídico de Saias
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