Eles queriam melhorar o mundo
Sérgio Vieira de Mello e Luiz Carlos da Costa. Nunca estive pessoalmente com eles. Mas, com eles, os dois, tive importantes contatos por telefone e por escrito. Ambos tiveram papel significativo em minha vida institucional. Sérgio e Luiz Carlos, com suas assinaturas, suas palavras, suas decisões, influenciaram os rumos de meu pequeno trabalho na ONU para o heroico Timor-Leste no início do ano de 2000.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Atualizado em 25 de janeiro de 2010 13:51
Eles queriam melhorar o mundo
Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza*
Sérgio Vieira de Mello e Luiz Carlos da Costa. Nunca estive pessoalmente com eles. Mas, com eles, os dois, tive importantes contatos por telefone e por escrito. Ambos tiveram papel significativo em minha vida institucional. Sérgio e Luiz Carlos, com suas assinaturas, suas palavras, suas decisões, influenciaram os rumos de meu pequeno trabalho na ONU para o heroico Timor-Leste no início do ano de 2000.
À época, Luiz Carlos da Costa era o eficiente Chefe de Recursos Humanos do Departamento das Operações de Paz das Nações Unidas. Sérgio Vieira de Mello era o grande Administrador da ONU para o Timor-Lest (Untaet).
Ao primeiro - Luiz - devo a minha seleção final para a nobre tarefa de assessor judiciário junto àquele pequeno país tão sacrificado pela ocupação indonésia. Dele guardo o documento que me incorporou ao staff da ONU e me possibilitou o deslocamento e o apoio para a missão em Darwin, na Austrália. Lembro-me de minha preocupação às vésperas da viagem e de sua palavra tranquilizadora diretamente de Nova Iorque.
Do segundo - Sérgio - tenho colecionadas cartas de elogio e reconhecimento por meu trabalho jurídico: o anteprojeto do capítulo do Judiciário para a Constituição timorense. Nesses escritos, oficiais e coloquiais ao mesmo tempo, vê-se o seu altíssimo espírito humanitário, o seu cavalheirismo, a sua cultura.
Tragicamente, em agosto de 2003, vítima de estúpido atentado suicida, Vieira de Mello morreu debaixo dos escombros do quartel-general da ONU no Iraque. Tinha 55 anos de idade...
Agora, nesta brutal calamidade que se abate sobre o pobre Haiti, o Brasil perde outro cidadão maiúsculo. Luiz Carlos da Costa, vice-representante da ONU (Minustah) naquela antiga colônia francesa. Morreu debaixo dos escombros da sede da própria Organização. Tinha 60 anos de idade...
Ambos tiveram brilhantes carreiras como servidores da verdadeira diplomacia, enfrentando postos dificílimos nos mais perigosos e conturbados pontos do planeta. Releio os documentos que tenho comigo. Examino grafologicamente as saudações e assinaturas, a demonstrar perfis decididos e firmes. Eles queriam melhorar o mundo. Sinto as perdas...
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*Professor e Jornalista. Editor-Adjunto da Editora Del Rey
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