Medidas
As consequências assustam, resultando muitas vezes até decepcionantes, sempre que descuidados e pensando mais em nós mesmos, cedendo à insaciável fome do nosso egoísmo, erramos nas medidas.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Atualizado em 19 de janeiro de 2010 14:46
Medidas
Edson Vidigal*
As consequências assustam, resultando muitas vezes até decepcionantes, sempre que descuidados e pensando mais em nós mesmos, cedendo à insaciável fome do nosso egoísmo, erramos nas medidas.
Para mais ou para menos, fora do prumo, erramos nas medidas, sem temor de conseqüências, quando avaliamos fatos ignorando as circunstâncias ou avaliamos pessoas sumáriamente, nos fazendo de cegos para os seus talentos e suas historias de vida.
Quanto a pessoas, na maioria dos casos, é como se pregássemos nela o perfil que melhor nos interesse passando a nos servir delas apenas naqueles limites que, a depender de nós, nunca consentiremos que sejam ultrapassados.
Dá-se aqui o erro de medição que sendo verbo está solto no mundo, liberado gratuitamente à conjugação geral - eu subestimo, tu subestimas, ele subestima, nós subestimamos, vós subestimais, eles subestimam.
É neste ponto que começa a desgraceira.
A pessoa mal avaliada, ou seja, subestimada, percebe e sofre sob a ilusão de que o tempo lhe dará, um dia, o melhor momento para provar que é muito mais que aquilo, e então havendo o reconhecimento haverá, por conseqüência, a confiança e o espaço próprio para o promissor exercício dos seus talentos.
Isso acontece com as pessoas em todo lugar - na escola, na empresa, no sindicato, no partido, no clube, e até mesmo entre a família e entre os amigos.
Os estudiosos do direito criminal sabem que isso é também muito ocorrente entre os que se organizam em quadrilhas ou bandos, e entre as famílias mafiosas.
Os estudiosos da ciência política sabem que isso é também muito ocorrente entre as oligarquias, que fazem dos erros de medição mais que um propósito - uma estratégia de sobrevivência.
Quererão a pessoa, sim, para o seu serviço, mas por mais talentosa e capaz que seja, será sempre como o negrinho do pastoreio, pau para toda obra, condenado a ser escravo a vida inteira. Mas até o negrinho da lenda, um dia, se libertou.
Como naqueles versos de Vandré, - mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo e nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando, as visões se clareando, até que um dia acordei...
Assim, erram também, e de propósito, quando superestimam, quando mesmo cientes da mediocridade em frente, emplumam com virtudes e talentos que o próprio idiota sabe que não os tem, nunca os teve e jamais os terá. Com o tempo, o coitado vai achando que ele é aquilo tudo mesmo.
O dono não se contenta com o poder sobre as suas coisas, sobre os seus pertences. Segundo o roteiro que a cada dia inventa, quer moldar a seu modo o destino dos outros.
Nosso erro, em geral, está em não saber medir as pessoas com respeitosa precisão.
Como ensinou Chaplin, - o bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão. Perder com classe e viver com ousadia. O triunfo é de quem se atreve E a vida é muito bela para ser insignificante.
Ou ainda como me ensinou Pearl S. Buck, um autor que li na adolescência num livro emprestado por Bernardo Almeida, - de todos os perigos, o maior é subestimar o inimigo...
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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA
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