O QUE EU SOU ?
O caso é engraçado, mas verídico. O farmacêutico Claodemiro Suzart, candidato do PTB à prefeitura de Feira de Santana, decidiu fazer o comício de encerramento da campanha na rua do Meio, na zona do meretrício. E jogou o verbo : "o povo precisa estudar a vida dos candidatos, desde o nascimento deles, os lugares onde nasceram, para saber em quem votar direito.
Por exemplo, Alnold Silva, da UDN, nasceu em Palácio, nunca falou com o povo. O que ele é ?
- Candidato dos ricos - gritava a multidão
- É isso mesmo. Não pode ter o voto de vocês. E Fróes da Mota, candidato do PSD, nunca sentiu o cheiro de povo. Só gosta mesmo é do gado de sua fazenda. O que ele é ?
- Candidato dos fazendeiros - delirava a galera
- Isso mesmo. Não pode ter o voto do povo. Já eu, meus amigos, nasci aqui, nesta rua do Meio, a mais popular de Feira de Santana. E eu,meus amigos, o que eu sou ?
Lá do fundo da turba, um gaiato soltou a voz:
- Filho da puta.
O comício acabou ali.
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À guisa de provocação:
Você imaginaria Jesus Cristo sem barba ?
E Abraham Lincoln, seria o mesmo sem a barba ?
Que tal um Ghandi cabeludo ?
Elvis Presley sem o topete teria o mesmo charme ?
O código estético é o primeiro a se infiltrar na mente.
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A LOGOTIPIA HUMANA
O discurso é um composto que agrega conteúdo e forma, semântica e estética. Figuras históricas permanecem em nosso sistema cognitivo sob a salvaguarda da memória. Os mantos cognitivos que guardamos em nossa mente para vestir personagens reúnem tecidos de muitas texturas. Não dá para imaginar Martin Luther King sem a contundência do discurso. Cristo sem barba é uma versão inacreditável. Não resistiria. Ghandi com cabelo não expressaria a imagem carismática que aprendemos a admirar.
AMIN, SKAF E LEMBO
Um pacote de cabelo na careca de Esperidião Amin, ex-governador e ex-senador de Santa Catarina, seria uma tragédia. A careca é o logotipo de Esperidião. Querem mais ? O narigão encurvado de Paulo Skaf, presidente da FIESP, é seu guarda-chuva. Sem ele, esse aspirante a político toma um banho. Claudio Lembo, ex-governador de SP, sem aquelas sobrancelhas que mais parecem garras cabeludas contra a cara do interlocutor, seria uma espécie de Sansão de cabeleira raspada, sem força para conquistar Dalila.
A LOGOTIPIA MUTANTE
Há, porém, uma logotipia que rompe as barreiras da rigidez. Trata-se do logotipo de perfis que ainda não construíram por inteiro sua Identidade. E cuja imagem é suscetível a aperfeiçoamentos. Políticos imberbes estão dentro desse vocabulário estético. Políticos maduros também têm licença para burilar a estética, contanto que os novos desenhos não borrem muito a foto antiga. Pequenos acertos, ajustes de traços com a finalidade de aparar excessos negativos - até que são bem aceitos. A exceção ocorre quando a pessoa possui um traço - mesmo feio - que funciona como um cartão de visita.
O RETOQUE DE DILMA
Sob essa malha explicativa, Dilma Rousseff acertou no ajuste facial. Não ganhou uma paginação suficiente para descaracterizar o perfil. Vale lembrar que Lula também expurgou os excessos. Chegou a serrar os caninos, que lhe conferiam certo jeito - com perdão da palavra e respeitosamente - demoníaco.
O CARÁTER NACIONAL
Afonso Celso, estudioso do ethos nacional, cita os valores do brasileiro: a) sentimento de independência, levado à indisciplina; b) hospitalidade; c) afeição à ordem, à paz; d) paciência e resignação; e) doçura, desinteresse; f) escrúpulo para cumprir obrigações contraídas; g) caridade; h) acessibilidade que degenera, às vezes, em imitação do estrangeiro; i) tolerância, ausência de preconceitos de raça, religião, cor, posição e j) honradez no desempenho de funções públicas ou particulares. É engraçado, mas o brasileiro de Afonso Celso é irreconhecível.
"O homem sem ideais faz da sorte um ofício; da ciência, um comércio; da filosofia, um instrumento; da virtude, uma empresa; da caridade, uma festa; do prazer, sensualismo. A vulgaridade transforma o amor da vida em pusilanimidade; a prudência em covardia; o orgulho em vaidade e o respeito em servilismo" (José Ingenieros em O Homem Medíocre)
O BALÃO DE EXPECTATIVAS
Das eleições para cá, o balão de expectativas em torno de Barack Obama só inflou. Uma onda de esperanças se espraia nos espaços mentais dos norte-americanos. Obama é o porto para onde todos afluem, inclusive os republicanos. As esperanças chegam às alturas. E se o homem não conseguir atender à maré social ? O povo lhe daria um tempo a mais para cumprir as promessas. E se a crise continuar por muito tempo ? Bom, nesse caso, o melhor é parar de pensar.
IRRITAÇÃO DE LULA
Lula pode até se irritar com o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, por este ter lhe enviado uma carta protestando contra a decisão brasileira de conceder refúgio político a Cesare Batisti. Mas deve compreender as razões do presidente italiano. Que, aliás, se queixa do silêncio dos italianos no Brasil. Cada povo tem a sua pressão particular. Essa questão deveria ter sido melhor avaliada.
O demônio parte a tentação em bocadinhos quando sente que não a tragaremos por inteira. (Padre Manuel Bernardes)
FIDEL NAS ÚLTIMAS
A informação começa a correr sob os acordes da rádio boato : Fidel Castro estaria nas últimas. Deixou de escrever seus longos editoriais no Granma, jornal oficial de Cuba.
A TAÇA DE KAKÁ
Kaká casou-se no Templo do Cambuci da Igreja Renascer, cujo teto desabou, matando nove pessoas e ferindo 55. A Igreja possui 1200 templos no país, que abrigam 2 milhões de fiéis. Uma dúvida que inquieta os fãs do jogador do Milan : onde estará a taça que ganhou por ter sido escolhido o melhor jogador do mundo em 2007 ? Ele teria deixado a Taça no templo destruído.
TEMÍSTOCLES
Temístocles, o ateniense, era altivo porque levava muito a sério sua pessoa. Convidado em uma festa a tocar cítara, disse: "não sei tocar música, mas posso fazer de uma pequena vila uma grande cidade". Alguns homens se julgam capazes de tocar música, mesmo se forem analfabetos musicais. Outros são capazes de engrandecer um Estado. A diferença entre eles está no julgamento de suas capacidades. Na política, esse julgamento tende a ser enviesado.
MATANDO AS PRÉVIAS
Lula não quer prévias no PT para escolha do candidato do partido à presidência da República. Vai impor Dilma Rousseff como candidata. E não gostaria de ser contrariado. Até o renitente senador Eduardo Suplicy já recuou de sua histórica posição em defesa das prévias. Aécio Neves também quer prévias no PSDB. Mas José Serra, o pré-candidato mais forte dos tucanos, não quer realizar o exercício de aferição de posições. Neves, sem prévias, vai abrir o bico. E a floresta tucana poderá ouvir um barulho acima do normal. FHC será convocado a afinar a orquestra.
A paixão da carne é fogo e o fogo não envelhece nem deixa se prender em madeira carunchosa. (Padre Manuel Bernardes)
JOGADA DE SERRA
Esse José Serra está começando a mostrar a feição maquiavélica. Escolher Geraldo Alckmin como Secretário do Desenvolvimento foi uma jogada de mestre. Coloca o ex-governador sob sua batuta. Alckmin torna-se um servidor do serrismo. Cala a boca da insatisfação, adoça o coração de um tucano ressentido e desperta esperanças. E assim, o tucanato começa a se reunir sob a copa frondosa das principais árvores da floresta.
BLACK POWER É ISSO
Ontem, um presidente negro, o 44º dos Estados Unidos, ganhou o poder de acionar o maior arsenal nuclear do mundo. Passou a ser o portador do computador que permite mobilizar 5 mil armas atômicas mantidas de prontidão para uso imediato. Poderá, se for necessário, acionar uma frota de 14 submarinos do tipo Ohio, armados com 24 mísseis cada um, sendo esse o mais importante sistema de ataque estratégico dos EUA. Terá, ainda, sob seu comando 500 mísseis intercontinentais Minuteman e 100 aviões capazes de realizar o bombardeio nuclear de longo alcance, entre eles os misteriosos Spirit, invisíveis ao radar. Obama tem, agora, um código que só ele conhece. Durante 1.460 dias, esse aparato mortal - suficiente para destruir o planeta - estará apenas 30 metros de distância de sua mão.
CINTRA E A NOVA VISÃO DO TRABALHO
O prefeito Gilberto Kassab é uma das boas cabeças políticas do país. Acaba de dar mais uma demonstração. Escolheu o professor Marcos Cintra como seu Secretário de Trabalho. Cintra é um dos maiores experts do país em matéria econômica. De alta formação acadêmica - com cursos na Harvard University - Marcos Cintra é o autor e defensor do projeto do Imposto Único no Brasil. Trata-se de um perfil consentâneo com os desafios da modernização institucional que o país carece. Vai ampliar o raio de ação da Pasta do Trabalho, a partir da incorporação do eixo desenvolvimentista. A expansão da esfera de ação da Secretaria abriga, ainda, a criação de uma Agência de Desenvolvimento. Essa é a visão moderna que a administração do trabalho, no Brasil, precisa incorporar.
A POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
Na era pós-industrial, a política banaliza-se reabsorvida dos ajustamentos empíricos e pontuais. A administração das coisas substitui o governo dos homens. As doutrinas murcham, as utopias falecem. Ficam alguns arabescos em torno da curva do crescimento. A alienação cresce com a abundância. A democracia declina com a expansão (Roger-Gérard Schwartzenberg).
PALAVRA DE SARNEY
José Sarney garantiu - umas seis vezes - ao senador Garibaldi Alves que não seria candidato a presidente do Senado de jeito nenhum. Disse a mesma coisa a Lula. Nesta semana, foi ao presidente comunicar sua candidatura. A seguir, dirigiu-se à casa de Garibaldi, onde comunicou o fato. O presidente do Senado retirará a candidatura ante a posição da bancada do PMDB, que deverá fechar com Sarney. A palavra na esfera política é um mutante desesperado à procura de sua verdadeira afirmação. Pelo menos quatro senadores peemedebistas - Pedro Simon(RS), Jarbas Vasconcelos(PE), Gerson Camata(ES) e Paulo Duque(RJ) - prometeram votar em Tião.
SIMULAÇÃO E DISSIMULAÇÃO
O Imperador Frederico costumava dizer: "como seria bom que meus conselheiros deixassem na porta do Palácio duas coisas; sem elas, entenderiam melhor o que me aconselham e eu saberia discernir entre os votos". Perguntado sobre as duas coisas, respondeu: "a simulação e a dissimulação".
CONSELHO AO MINISTRO CARLOS LUPI
Esta Coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos aos políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao senador José Sarney. Hoje, volta sua atenção ao ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi:
Em dezembro, foram cortados 654 mil empregos com carteira assinada.
Em face do desemprego - que ameaça se expandir - seria oportuno que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, revisse políticas e estratégias de ação de seu Ministério com vistas a:
- Ampliar as possibilidades de acesso ao emprego e diminuir os impactos da crise que já chega ao Brasil em ritmo de pororoca;
- Pensar em aprovar mecanismos voltados para a flexibilização da legislação trabalhista com garantias dos direitos dos trabalhadores;
- Articular a aprovação do projeto de lei 4.302/98, que trata da Terceirização de Serviços, o mais avançado PL em tramitação na Câmara dos Deputados e que se encontra pronto para votação em plenário.
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