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Porandubas nº 872

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Atualizado em 18 de dezembro de 2024 14:17

Abro a coluna com uma historinha dos mineiros, contada por Sebastião Nery.

Desde que o dinheiro venha

Mais uma da matreirice mineira. Benedito Valadares chegou a Curvelo/MG, para visitar a exposição de gado do município. Na hora do discurso, atrapalhou-se:

- Quero dizer aos fazendeiros aqui reunidos que já determinei à Caixa Econômica e aos bancos do Estado a concessão de empréstimos agrícolas a prazos curtos e juros longos.

Lá do povo, alguém corrigiu:

- É o contrário, governador! Empréstimo a prazo longo e juros curtos.

- Desde que o dinheiro venha, os pronomes não têm importância.

  • Parte I - Ecos do passado

Gilberto Freyre e José Américo

Cordeiro de Farias, ministro do Interior do Brasil no governo de Castelo Branco, entre 1964 e 1966, convidou um grupo de intelectuais e jornalistas para participar de uma reunião da Sudene na ilha de Fernando de Noronha. Na comitiva, se faziam presentes o ex-governador, romancista (A Bagaceira), cronista, advogado, folclorista e sociólogo José Américo de Almeida, e o grande Gilberto Freyre. Eu também estava lá. Dirigimo-nos ao Palácio do governo, onde despachava o interventor do território. No alpendre do casarão branco, deitaram-se Gilberto Freyre e Zé Américo em espreguiçadeiras, para estirar as pernas, em breve descanso da viagem. De repente, uma lagartixa põe a cabeça na murada e começa a se mexer de maneira indolente, como estivesse muito cansada. Como se estivesse sambando. Zé Américo aponta para o animal e fala:

- É o embalo da velha nostalgia africana. Deve ter vindo num navio negreiro.

Gilberto ri e concorda com a sábia observação. A conversa girou em torno de outros animais existentes na ilha. Não havia cobras.

General Albuquerque Lima I

O general Afonso de Albuquerque Lima era um militar da "linha dura", interessado em fazer com que a "revolução" (o golpe de 64) retornasse aos seus objetivos iniciais. O general esteve desde o início de sua carreira militar envolvido em ações políticas do Exército. Foi adepto do tenentismo, movimento que procurava combater as oligarquias dominantes com reformas políticas.

General Albuquerque Lima II

Em 1954 participou da conspiração contra Getúlio Vargas, assinando o Manifesto dos Coronéis, que protestava contra a exiguidade dos recursos destinados ao Exército, condenando a elevação do salário-mínimo em 100%. Entre 1959 e 1961, desempenhou funções administrativas em órgãos que visavam o desenvolvimento do Nordeste. Participou no Codene (Conselho de Desenvolvimento do Nordeste), da criação da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), e ocupou o cargo de diretor-Geral do DNOCS (Departamento de Obras contra as Secas).

General Albuquerque Lima III

Com a aproximação do fim do mandato de Castelo Branco, intensificou-se a luta sucessória, e os nomes indicados pelo presidente não foram aceitos pela oficialidade jovem que, sob a liderança de Albuquerque Lima, ajudou a impor a candidatura de Costa e Silva. Na posse deste, tornou-se ministro do Interior, com a meta principal de atenuar os desequilíbrios regionais.

General Albuquerque Lima IV

Queria realizar a reforma agrária na zona da agroindústria açucareira de Pernambuco. Em agosto de 1969, quando Costa e Silva teve uma isquemia cerebral e uma crise sucessória iniciou-se dentro das Forças Armadas, Albuquerque Lima, aproveitando a insatisfação das camadas inferiores da oficialidade, impôs-se como candidato desses setores. Seu antiamericanismo nacionalista agradava aos jovens militares.

General Albuquerque Lima V

As Forças Armadas dividiam-se entre a candidatura de Albuquerque Lima e a tendência dos oficiais mais antigos. Na prévia eleitoral realizada junto às Forças Armadas, Albuquerque Lima recebeu expressiva votação entre os almirantes e foi bem votado também na Aeronáutica. No Exército, obteve o quarto lugar, sendo suplantado por Garrastazu Médici, Orlando Geisel e Andrade Murici. Sob essa teia explicativa, conto uma historinha.

General Albuquerque Lima VI

Certo dia, recebo uma ligação do amigo jornalista José de Anchieta Helcias, ex-secretário de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco e criador do complexo portuário de Suape. "Estou aqui com o general Albuquerque Lima, tomando um drinque. Venha nos fazer companhia". Peguei um taxi e corri para um hotel em Boa Viagem, onde o papo já estava pra lá de quente, por conta das águas destiladas de um Old Parr. Entrei na conversa com muita sede. A prosa se prolongou até meia noite, após o consumo de mais um litro.

General Albuquerque Lima VII

O general era um poço de mágoas. Sentia-se traído. Contou detalhes e mais detalhes de acordos, reuniões, conversas com protagonistas da sociedade, para endossar sua candidatura à sucessão de Costa e Silva. Como jornalista, lamento, ainda hoje, não ter escrito um livro sobre esse amargurado depoimento. Claro, as águas da Escócia atrapalharam o intento. O general queria continuar o relato em outro dia. Prometi levar um gravador para captar todas as palavras do general, mesmo que só pudesse descrever o que fosse "publicável". A promessa não veio a acontecer.

O medo e o riso

Entre as cenas inapagáveis de minha memória, uma faz questão de aparecer constantemente para me levar às proximidades da Faculdade de Direito do Recife. O Curso de Direito da capital pernambucana, como é sabido, é um dos mais antigos do país. Foi criado em 11 de agosto de 1827 por um decreto imperial, juntamente com a Faculdade de Direito de São Paulo. Até então, diz a pesquisa, a maioria dos bacharéis em Direito, juristas e advogados no Brasil era formada pela Universidade de Coimbra, em Portugal. Pois bem, os idos de 1964 são aqueles pesados, de chumbo grosso. Eu, no ardor dos 20 anos de idade, começando a jornada jornalística, vi a cena. Foi quando o medo se juntou ao riso: uma tropa de choque do Exército, montada em cavalos, correu, de maneira desbaratada, para reprimir os estudantes nas proximidades da Faculdade de Direito. O burburinho era alimentado por rojões, bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e pauladas. O medo ganhou ares de riso, quando dezenas de cavalos se desequilibravam com as milhares de bolinhas de gude jogadas pelos estudantes sobre as patas dos animais. Um festival de quedas espetaculares ali se instalou. Medo e riso, juntos, compõem a paisagem daqueles nebulosos tempos. O ciclo do medo se fecha com mais uma cena hilária.

D'água, d'água

Pernambucano audaz, Newton Coumbre passava em frente ao quartel de Obuzes de Olinda, logo depois do golpe de 64. Carregava uma bomba d'água enrolada em jornal. Dois guardas, fuzis em punho, avançaram sobre ele, aos pontapés:

- O que é isso?

- D'água! D'água!

Mandaram jogar o embrulho no chão e levaram-no até o coronel:

- O que é que tem no embrulho?

- Uma bomba d'água.

- Por que não disse logo e ficou dizendo "d'água"?

- Coronel, eu dizendo só "d'água" eles me bateram tanto; se dissesse "bomba" teriam me fuzilado.

  • Parte II

Raspando o tacho

- Será muito penoso para o presidente Lula correr o país em busca de uma reeleição em 2026.

- A primeira-dama, Janja, dará a última a palavra sobre esse desafio.

- Donald Trump vai começar seu governo apertando os calos das exportações brasileiras. Prega reciprocidade nas taxas e tributos cobrados dos produtos norte-americanos.

- O ex-ministro Braga Netto é o pivô de uma crise interna nos quartéis. Uns graduados a favor do ministro, outros, contrários.

- A família Bolsonaro é quase toda evangélica. O ex-presidente se declara católico.

- O tenente-coronel Mauro Cid desdiz uma parte do que disse na sua delação premiada.

- O ministro Luiz Fux tem faixa vermelha e branca de jiu-jítsu, a segunda mais alta. Duro na queda.

- José Dirceu, Sérgio Cabral e Antônio Palocci estão a um passo da anulação de casos em que estão envolvidos na Lava Jato.

O mundo roda e a Lusitana gira.