Porandubas nº 871
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Atualizado em 11 de dezembro de 2024 13:40
Abro com uma historinha contada por Sebastião Nery
A prisão... suavemente...
José Maria Alkmin foi advogado de um crime bárbaro. No júri, conseguiu oito anos para o réu. Recorreu. Novo júri, 30 anos. O réu ficou desesperado:
- A culpa foi do senhor, dr. Alkmin. Eu pedi para não recorrer. Agora vou passar 30 anos na cadeia.
- Calma, meu filho, não é bem assim. Nada é como a gente pensa da primeira vez. Primeiro, não são 30, são 15. Se você se comportar bem, cumpre só 15. Depois, esses 15 são feitos de dias e noites. Quando a gente está dormindo tanto faz estar solto como preso. Então, não são 15 anos, são 7 e meio. E, por último, meu filho, você não vai cumprir esses 7 anos e meio de uma vez só. Vai ser dia a dia, dia a dia. Suavemente.
- I Parte
Terra de violência
Um policial militar de São Paulo arremessa um homem de uma ponte. Outro executa um jovem negro com 11 tiros pelas costas após furtar sabão de um mercado. Casos e mais casos de violência explodem em todos os quadrantes. O tema da segurança pública volta a liderar as promessas de governantes e eventuais candidatos no pleito de 2026.
O país encapuzado
As milícias agem abertamente. Fala-se do conluio entre políticos e o PCC. Que seria um território de grandes negócios. Bilhões passam a ser a expressão dos negócios, comércio de drogas, armas etc. A violência policial é estampada nas telas de TV, ao lado de denúncias de redes de corrupção fincadas nas estruturas administrativas de todos os poderes da República, algumas em maior evidência. O Brasil encapuzado e arbitrário emerge, abrigando polícias, milícias, usurpadores, criminosos, pilantras, oportunistas, cínicos, vivaldinos e "laranjas", categoria em crescimento, que fornece o caldo para lubrificação dos esquemas de apropriação ilícita do dinheiro público.
O poder invisível
Estourar o Brasil da Arbitrariedade é meta quase impossível, mas diminuir seu tamanho é dever inarredável dos homens públicos e da sociedade organizada, sob pena de vermos cada vez mais fraquejar o ideal da democracia como governo do poder visível. A tarefa em desvendar os poderes ocultos e as malhas de corrupção e de violência institucionalizada, que se processa no âmbito político, tem sido didática e de alta relevância para a conscientização da sociedade. A estratégia de combate aos poderes invisíveis, voltados para a rapinagem, requer a força da pressão coletiva, mais que simples castigos aos criminosos.
O Brasil escondido
Toda mudança de cultura se ampara na vontade geral. E sabemos que para limpar a cara do Brasil escondido, que dá vergonha, é preciso que os sentimentos do povo se irmanem aos poderes normativos. Para que os tumores sejam extirpados sem deixar sequelas, há que se entender até onde vão suas metástases e os elementos que as provocam. Eles se repartem em diversos níveis e fluxos, intercambiando informações e realizando trocas e recompensas.
A tríade
Na área do Brasil escondido, são bastante disputados os jogos de interesse entre integrantes da tríade que exerce poder: políticos, grupos econômicos, e tecnocratas dos governos (federal, estadual e municipal). Os grupos se multiplicam em subgrupos, formando uma esteira que desce do topo até as bases da sociedade, onde nadam os "bagrinhos" levados pela onda dos grandes "tubarões". Na área do Brasil Arbitrário e Violento, o campeonato é disputado, ainda, por contingentes marginais das drogas e pelo aparato policial. Não se pense que o sistema jurídico está fora disso tudo. Vejam o caso dos juízes que vendiam sentenças em Mato Grosso.
Insensibilidade
Os comportamentos tortuosos de milhares de representantes e agentes de todos os setores da vida produtiva e do sistema institucional do país acabam estabelecendo uma densa camada de insensibilidade social e fortes manchas nos padrões morais e éticos. Além, é claro, de contribuírem para o estiolamento das instituições nacionais. A escalada do caos resulta na sensação geral de incredibilidade, descrença, frieza, mesmice, eixos da cultura de acomodação que amortece o tecido social.
Consciência coletiva
Os súbitos ciclos de sensibilização, fruto de violências explícitas do aparelho policial e de denúncias sobre grandes escândalos, chegam até a criar na sociedade um desejo de participação e um sentimento de indignação. Mas os sentimentos de repúdio tendem a cair no vazio, por não encontrarem mecanismos de continuidade capazes de deixar sempre acesa a chama da consciência coletiva. Essa meta só será conseguida quando o mais humilde dos cidadãos decidir abandonar o anonimato das massas para se transformar em agente ativo de sua própria história. Daria ele um gigantesco passo rumo à plena cidadania.
- II Parte
Raspando o tacho...
- A cirurgia no crânio do presidente Lula para drenar um hematoma, chamada de craniotomia, pelo que se sabe, não é de alto risco, conforme manchetes estrondosas de alguns sites. Foi bem realizada.
- Sou daqueles que defende uma licença para o presidente cuidar com mais calma de sua saúde. As tarefas rotineiras são estressantes.
- Geraldo Alckmin está preparado para assumir a agenda cotidiana. Discreto e leal.
- 2025 será o ano do "vai ou racha". Governantes haverão de turbinar a comunicação de seus governos para conseguirem entrar na arena de 2026. Se não fizerem uma boa comunicação, vão pro beleleu.
- Bashar Al-Assad, o ditador da Síria, que acaba de ser tirado da cadeira do poder, recebeu a maior condecoração brasileira, o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Quem entregou a comenda? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em junho de 2010. Naquele tempo, o ditador não tinha a imagem tão desgastada. Saiu deposto, após 50 anos de domínio de sua família.
- Poder360, de Fernando Rodrigues, lembra que a mais alta condecoração brasileira para estrangeiros também foi dada pelo petista ao ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica na 5ª feira (5.dez.2024).
- A França em festa, após a abertura da catedral de Notre Dame, recuperada depois do grande incêndio que destruiu parte de sua estrutura em 15 de abril de 2019. Lembrete: A construção da catedral de Notre Dame foi iniciada em 1163 durante o reinado do rei Luís VII. A igreja foi construída na Île de la Cité, uma ilha no rio Sena, no coração de Paris. Ao longo de 200 anos, a catedral foi ampliada.