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Porandubas nº 863

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Atualizado às 09:17

Abro com uma historinha de Leonardo Mota.

Idôneo, o comandante

Em certa cidade fluminense, o chefe local era um monumento de ignorância. A política era feita de batalhas diárias. Um dia, o chefe político recebeu um telegrama de Feliciano Sodré, que presidia o Estado:

- Conforme seu pedido, segue força comandada por oficial idôneo. O coronelão relaxou e gritou para a galera que o ouvia:

- Agora, sim, quero ver a oposição não pagar imposto: a força que eu pedi vem aí. E quem vem com ela é o comandante Idôneo.

(Historinha contada por Leonardo Mota, em seu livro Sertão Alegre)

  • Parte I

O "Pai Nosso" de Lula

Assustado com os poucos votos obtidos pelo PT no primeiro turno, Lula pegou Janja e correu até a Catedral de Brasília, onde rezou como nunca tinha rezado. Fez um apelo aos céus com uma prece inspirada no Pai Nosso. Pelo que se sabe e foi ouvido de muitas bocas, foi mais ou menos assim. "Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome. Proteja o PT, meu Pai, por ter sido muito castigado pelos votos no primeiro turno, com derrotas severas em São Paulo, no berço onde nasceu, o ABC paulista, e até em Araraquara, onde a candidata petista, a enfermeira Eliana Honain, apoiada por meu amigo Edinho Silva, perdeu a eleição para o doutor Lapena, do PL".

Por que, meu Deus

Por que, meu Deus, meu PT conseguiu sustentar sua fortaleza eleitoral apenas no meu Nordeste? Ali, elegemos prefeitos em 168 municípios, contra 91 em 2020. Não fosse os bons resultados no Piauí, Ceará e Bahia, teríamos amargado uma grande derrota. Fico aqui pensando, pensando, pensando, por que fizemos apenas 248 prefeitos este ano, pouco mais dos 183 que elegemos em 2020. Será que minha popularidade está escasseando, meu Senhor?

Não mudei, será isso?

Sabe como é que é, só os imbecis são incapazes de mudar, como lembrava um tal de Ortega Y Gasset. Mas eu não mudei. Faço minha terceira gestão com os mesmos instrumentos e com o mesmo pensamento da primeira. Será isso, Senhor, que está puxando os votos para o buraco? Sei que não sou santo, mas a minha fé é a mesma. E tenho a consciência de que tenho feito muito bem ao país. Foi o que conclui de meu exame de consciência durante as quatro horas que fiquei rodando sobre a cidade do México quando meu aerolula ficou capenga de uma turbina.

Venham a mim todos

Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no céu. Venham a mim, meu Pai, todos os políticos, principalmente os do Centrão, mais profissionais, aqueles que desenham horizontes diferentes dos meus. São eles os que me dão mais motivos de alegria, na forma de votos e apoio. Mais votos que eles, eu não tenho, mas tenho a faca para cortar o bolo, sou dono do cofre do Tio Patinhas, donde despacho uns trocados para uns e outros partidos. Nunca gostei mesmo de tucano. Por isso, com certa alegria, estou vendo o ninho dos tucanos, o tal do PSDB, cair da árvore. A ave que confesso admirar é o condor, que gosta dos pontos mais altos do poder, perdão, das montanhas.

Estou me vendo em 2026

Começo a achar que no fundo do coração, adoro me sentar na cadeira principal do país. Agrada-me o poder, atrai-me a ideia de ser o centro das coisas. Pelo meu Reino, perdão, pela minha reeleição em 2026, sou capaz de fazer a vontade dos outros, mesmo que os feitos sejam contra a minha vontade. Mesmo que meu PT não concorde, tenho de distribuir alguns presentes, alguns retalhos do orçamento, entre os que começam a se manifestar a favor de minha reeleição em 2026. Por isso, a administração caminha aos trancos e barrancos. Quem se queixa muito dos solavancos é o cabeleira, quero dizer, o Haddad, um mão-fechada.

Minhas bolsas

Bem sei, Senhor, que os interesses de meus aliados congestionam o balcão de trocas. E até prejudicam meus pacotes sociais, o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida. Eu quero botar mais grana nessas áreas, mas aí vem o Haddad choramingar na minha mesa. Mas acredito que elas, minhas bolsas sociais, vão ter fôlego para chegar às eleições de 2026, apesar de certos economistas acharem que vem mais adiante uma crise econômica profunda, que pode beneficiar um tal capitão Jair ou um palhaço que me recuso a citar o nome. Que essa crise, meu Pai, não aconteça, nem aqui no Brasil nem em outras plagas governadas por amigos.

Famintos, que exagero

O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

Ajude-me, Senhor, a manter o pãozinho francês e o frango na boca dos milhões dos despossuídos (não deve ser 35 milhões, como inventam as pesquisas). Enquanto estiverem mastigando, terei a certeza de que as elites vão recuar em suas críticas contra meu governo. Não vai ter gente de barriga vazia. Quanto aos críticos, rezo para que eles comam o pão que o diabo amassou, pois assim fazendo estarão devorando o prestígio de prefeitos e governadores. Quanto ao meu desgaste, vou me recuperar. Tenho certeza.

Um palanque?

- Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles que nos têm ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.

Sei que falo demais, dizem que transformo o Planalto num palanque. Ora, é porque tenho saudades do estádio de Vila Euclides, onde eu reunia a galera e falava, falava, falava, até mesmo mais que Fidel Castro, que não sabia a hora de parar em seus quilométricos discursos. Gosto de dizer o que sei. Uso minha boca como instrumento de poder. Sou respeitado mundialmente. Até Barack Obama já me chamou de "o cara". O "cara" do momento mundial.

Aerolula novo

Meu Pai, cometo pecadilhos. Xingo, digo e até desdigo. Sei que prometo, na intimidade, muitas coisas a aliados. Às vezes, esqueço. Perdoe-me as mentirinhas, e eu vou perdoar todas as promessas de apoios feitas por eles. Por tudo que é sagrado, tampe a boca dos destemperados que querem tirar pelo de ovo. Meu governo está indo bem. Pode ser um governo de gastança. Vou ter de comprar um super Boeing. Não quero mais sofrer a ameaça de despencar das nuvens como no velho aerolula que rodopiou nos céus do México. Me ajude, Senhor. Amém.

Fiz bem

Quer ver uma coisa, meu pai? Fiz bem em tirar o Silvio, aquele ministro que andou fazendo assédio sexual e importunando até uma ministra do meu governo. Fui elogiado pela forma rápida como decidi. Como já se viu tanta descompostura? Um ministro de Direitos Humanos cometendo esse tipo de infração?

  • Parte II

Raspando o tacho

- Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, tem um olho voltado para o Palácio dos Bandeirantes e outro para o Palácio do Planalto. Qual olho mais aceso?

- O apagão em São Paulo impacta a campanha do prefeito Ricardo Nunes. Mesmo que o prefeito tenha sido um dos primeiros a pregar o afastamento da Enel, concessionária, vai ser cobrado pela poda das árvores, que não teria sido bem-feita.

- O apoio de Lula a Guilherme Boulos, em São Paulo, não agregará muito. O presidente perdeu muito de sua popularidade.

- Os Tribunais Eleitorais precisam passar um pente fino na miríade de institutos de pesquisam que infestam o terreno eleitoral.

- O segundo turno nas capitais retomou o clima eleitoral, que está morno. Sem engajamento de eleitores.

- Eduardo Paes deixará o cargo de prefeito para se candidatar a governador em 2026. O mesmo se espera de João Campos, prefeito do Recife.

Fecho com citações.

Pão e circo

"Os povos gostam do espetáculo; através dele, dominamos seu espírito e seu coração". Luís XIV.

- Maquiavel já aconselhava ao Príncipe "divertir e reter o povo em festas e jogos". Os tiranos que surgiam nas cidades gregas entre os séculos VII e VI A.C. já utilizavam intensamente as festas populares em benefício de sua propaganda.

O luxo do funeral

"O luxo do funeral e a suntuosidade do túmulo não melhoram as condições do morto; satisfazem apenas a vaidade dos vivos". Dante Veoléci

Mineirinhas

Frases de Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas - político, industrial, filósofo e, antes de tudo, udenista ortodoxo da linha bilaqueana (Bilac Pinto, o Bilacão, seu dileto amigo). Sempre infernou a vida de seus adversários, com as suas atitudes destemidas e sua natural mineirice.

"Quando estamos no governo, todo adversário que quer se encaixar, diz ser técnico".

"O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro".

"Há um fato na política que a torna bastante interessante: o choque dos falsos políticos com os políticos falsos".

"Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado".

"Muita campanha eleitoral se parece com sauna: depois do calorão vem uma ducha fria".

(Pinçadas de A Mineirice, de José Flávio Abelha)