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Porandubas nº 861

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Atualizado às 12:26

  • Parte I

Abro com uma historinha.

"Leu os livros errados"

Brasília, Congresso Nacional, 11 de abril de 1964. Castelo Branco não teve o voto de Tancredo Neves, seu amigo pessoal de longa data, companheiro na Escola Superior de Guerra, em 1956. Tancredo bateu o pé. Comunicou ao PSD que votaria em branco, apesar dos méritos e credenciais do general Castelo Branco. Questão de princípio: era contra o golpe. Não queria nem um minuto de regime militar, não abria mão da democracia. Conta-se que, esgotados todos os argumentos dos pessedistas para convencê-lo, o amigo e ex-chefe JK, então senador por Goiás, fez um apelo: "Mas, Tancredo, o Castelo é um sorbonniano, estudou na França. É militar diferente, um intelectual como você. Já leu centenas de livros!". Tancredo: "É verdade, Juscelino. Só que ele leu os livros errados".
Dois meses depois o governo cassou o mandato e os direitos políticos de JK, que partiu para o exílio e o sofrimento sem fim.

(Caso narrado por Ronaldo Costa Couto).

Vestiu a camisa do desenvolvimento e seu slogan "50 anos em 5" foi um sucesso. Colou. Seu sorriso era a estampa de um país feliz.

(História narrada por Isabel Lustosa)

Fim de linha

Daqui a poucas horas, veremos o eleitor depositando seu voto nas urnas. Desta feita, ainda cheio de dúvidas. Mais de 50% do eleitorado diz que só decidiu em quem votar nos últimos dias. E qual foi o meio que o ajudou a tomar a decisão? Programas de TV e rádio ou o corpo a corpo? Numa campanha, todos os projetos e ações têm seu devido peso, uns somando-se aos outros e tendo sua parcela de influência. Nas capitais e cidades maiores, os meios eletrônicos assumiram maior importância, pela dificuldade de um candidato se relacionar diretamente com grandes contingentes eleitorais. Na campanha deste ano, porém, o corpo a corpo ganhou espaço maior que na anterior.

Desconfiança, ceticismo

O eleitor, mais desconfiado e atento, quis sentir de perto o candidato, conferir a naturalidade/artificialidade de seu discurso, o clima que envolveu a candidatura. A comunicação foi o meio que transportou o programa do candidato até o eleitor. Mas não esgotou a necessidade de outros meios: a presença física do candidato, acentuada pelo sentido de organização social no Brasil. As entidades organizadas da sociedade civil - que se multiplicam por toda a parte - fecharam posições com candidatos, e este fato determinou o estabelecimento de compromissos por parte de candidatos, obrigando-os a sair de suas tocas burocráticas.

A mobilização de massa

Os eventos de mobilização das massas - que energizam as campanhas - foram mais direcionados, restritos a grupos de eleitores, multidões menos grandiosas. As campanhas foram pontuadas por eventos grupais, menos suntuosas, mais densas de conteúdo e menos retumbantes nas formas. Ou seja, os conteúdos passaram a ganhar da estética. As campanhas trabalharam com temáticas próximas do eleitor, deixando vez para a interpretação de que a federalização só ocorreu nos grandes centros.

Temas gerais

Mas certas temáticas mexeram nas esferas Federal, estadual e municipal, ao mesmo tempo. Por exemplo: a questão do desemprego, da segurança, problemas Federal e estadual, mas o município, por meio de seus programas de geração de postos de trabalho e fortalecimento das guardas municipais também tiveram sua parcela de responsabilidade.

Segurança

A segurança, nessa esteira, é um problema que mexe com o dia a dia do cidadão. Nesse caso, o candidato não pode simplesmente dizer que vai acabar com a insegurança, sob pena de ser considerado demagogo. Por isso, proposta nessa área foi muito vaga, sem muita criatividade.

O xingamento

A contundência, o xingamento, a denúncia deram o tom da campanha, principalmente em São Paulo. Tiraram votos, não acrescentaram. Viu-se uma linguagem desabrida. A contundência, no estilo de virar a mesa, acabou dando medo. O equilíbrio esteve longe. E quem tinha roupa suja para lavar, tentou jogar no colo do adversário. Mesmo aqueles que são exemplos de vida ilibada entraram nas baixarias.

Autoelogio

Elogio em boca própria é vitupério, diz o ditado. Isso teve de sobra. A lengalenga sobre honestidade esteve presente no cardápio televisivo. O eleitorado vai às urnas sem a certeza de votar em perfis sérios, honestos, experientes, inovadores e com a bandeira da autoridade. Autoridade, é bom lembrar, é contraponto à desorganização, ao caos, ao loteamento de cargos, à corrupção. Tais atributos não foram reconhecidos pelo eleitor. Alguns projetos foram colocados na cesta da factibilidade, mera promessa marqueteira. Dinheiro foi importante? É claro que foi. Banners encheram as avenidas. Nessa área, o prefeito de SP, Ricardo Nunes, mostrou seu sorriso por quilômetros a fio. E tome dinheiro. Foi um esbanjamento. Em cidades pequenas do interior do país, campanha política também foi festa, cerveja e churrasco. A crise não fechou os estômagos.

  • Parte II

Raspando o tacho

- Lula aprecia muito viajar. Foi à ONU, em NY, voltou, foi ao México para a posse da presidente, está voltando, deve emprestar a voz para apoiar candidatos amigos nos Estados.

- O fato é que Lula foge dos ares poluídos de Brasília, cujo clima ultra seco faz mal à saúde. Escapa, também, das pressões do Congresso. Faz muito bem em viajar.

- PT teme não encher a bacia de prefeitos. Tem candidatos nas capitais que estão longe da praia.

- Uma curiosidade: quais uísques, afora os comuns e rasteiros (porém, bons), John Label 12 anos, Old Parr, também 12 anos, são servidos no avião presidencial? Será que servem também um Macalan ou um Blue Label? Uma viagem longa daria para tomar um porre... até o papa Francisco cometeria esse pecadilho, rsrsrs.

- Tenho um amigo que passaria ao largo desse anzol... o imortal José Paulo Cavalcanti, jurista de alto coturno, ex-ministro da Justiça, cm cuja garganta jamais desceu uma gota de álcool. E é porque ele é proprietário de uma vinícola em Portugal, que faz ótimos vinhos...

- Em São Paulo, campanha está indefinida. Disputa no 2º turno deve ser entre o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, e Guilherme Boulos, do PT. E Pablo Marçal? Não acredito em sua chegada ao pódio.

- João Campos (PSB-PE), prefeito do Recife, pavimenta sua caminhada política com uma vitória no 1º turno. O filho de Eduardo Campos tem futuro venturoso.

- Uma derrota de Boulos, em São Paulo, capital, cairá no colo de Lula.

- O relógio do juízo final andou um pouco nesses dias. Irã entra na guerra contra Israel. O oriente médio, em chamas, é o prenúncio de uma guerra alastrada e sem prazo para terminar.

- Rússia e Ucrânia se afastam da mesa de negociação.

- O Brasil perde sua posição de intermediário entre países em guerra.

Fecho com estas historinhas.

Getúlio, eu fico

Getúlio Vargas sempre conservou intenções continuístas. Um dia, foram procurá-lo para saber se era verdade. E ele:

- Não, meu candidato é o Eurico (marechal Eurico Gaspar Dutra); mas se houver oportunidade, eu mudo uma letra: Eu Fico.

(Isabel Lustosa)

O ciclo Kubitschek

Figura carismática, Juscelino Kubitschek era jovial, alegre. Encarnava o Brasil moderno. Em 1959, o palhaço Carequinha popularizou uma batucada de Miguel Gustavo - Dá um jeito nele, Nonô ("Meu dinheiro não tem mais valor/Meu cruzeiro não vale nada/Já não dá nem pra cocada/Já não compra mais banana/Já não bebe mais café/Já não pode andar de bonde/Nem chupar picolé/Afinal, esse cruzeiro é dinheiro ou não é?"). O clima ambiental era de descontração, como demonstra a historieta gráfica da revista Careta:

- Juscelino: - Preciso de divisas, ouro, seu Alkmim, para as realizações do meu governo.

O ministro:

- Ouro, seu Juscelino?! Eu sou Alkmim, não sou alquimista.