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Porandubas nº 859

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Atualizado às 11:41

  • Parte I

A velha era do "novo"

Lideranças políticas e organizações são porta-vozes da era que o planeta vive: a "era pós" - pós-liberal, pós-marxista, pós-social-democrata, pós-qualquer coisa - tempo em que os governos buscam incessantemente o conceito de "novo". Os rótulos perdem sentido em um mundo em que o poder político está a reboque do poder econômico.

Tecnodemocracia

Na verdade, estamos mergulhados nas águas da tecnodemocracia, a democracia das vastas organizações econômicas, do gerenciamento burocrático dos técnicos, dos negócios globalizados, dos capitais voláteis, das unidades interdependentes. Sobre essa vertente, procura-se impor o conceito de "novo". E que "novo" é esse? Fazer arranjos nas bases partidárias com o objetivo de garantir aprovação de emendas constitucionais? Abrir o cofre aos políticos para conseguir apoios? Piscar um olho para o correligionário e tomar café com um possível concorrente?

O dinheiro

A política na era do "pós-qualquer coisa" coloca o interesse geral como salvaguarda de certos interesses privados. Como sempre, o dinheiro puxa a decisão política. O "novo" tão festejado é aquilo que Maurice Duverger chama de "simbiose inter-burocrática", a política e a economia se imbricam, fazendo a geleia partidária. Os partidos deveriam representar partes da sociedade. Respirar doutrina, ideologia. Basta perguntar: qual o oxigênio que os alimenta? Até o velho PT de guerra, de antigas nítidas feições, é um Frankenstein desconjuntado. A banalização da atividade partidária sonoriza os palanques na era do "novo".

Redistribuir riquezas?

Qual a receita para a redistribuição de riquezas? Lula responde: usar programas populistas, tipo Bolsa Família. Estourar os cofres do Tesouro Nacional. Em ano eleitoral, egocentrismo e desunião dão chabu. Para um governante que procura compor a maior base de apoios, o discurso da intermediação, da unidade, do amor e da fraternidade vem a calhar. Nenhum líder (existe isso?) usa expressões no sentido litúrgico, inspirado no civismo e no fervor pelo social.

Cadeirada é o "novo"?

Na minha infância, corria atrás do palhaço, em sua chegada à cidade. Ele saia às ruas, empoleirado numa perna de pau, cadenciando os passos, à direita e à esquerda, e puxando a galera de crianças, que respondiam aos gritos do palhaço no alto-falante:

- Hoje, tem espetáculo?

- Tem, sim senhor...

- Às 8 horas da noite...?

- Tem, sim senhor.

- E o que é que o circo tem?

- Muita festa e muito riso.

Pois é, ganhávamos o ingresso, caso acompanhássemos a caminhada do palhaço pela cidade. Minha mãe acabava rasgando o ingresso. Hoje, o circo entra nas nossas casas às 8h30 da noite. E o que podemos ver?

- Arranque do Datena. Cadeirada no Marçal.

A política é espetáculo. Mambembe.

O Estado Espetáculo

A sobrecarga das demandas sociais aumenta as frustrações com o desempenho dos protagonistas, levando grupos a procurar mecanismos de recompensa psicológica. Não necessariamente por isso, mas certamente tendo alguma coisa a ver com essa abordagem, imensos contingentes nacionais são atraídos por conteúdos diversionistas que funcionam como contrapontos compensatórios nesses momentos de crise. E quanto maior a crise, maior é o sucesso dos atores. Criticam-se seus atos e gestos, mas há muita curiosidade sobre suas extravagâncias. As massas querem ver sangue e fogo.

Pirotecnia

À fragilidade do Estado-provedor do bem-estar contrapõe-se o Estado Espetáculo, com seu teatro de formas lúdicas e elementos ficcionais. Trata-se de um território deteriorado, com instituições frágeis, conteúdos sociais amorfos, descrença geral na política, carência de cidadania, pirotecnia. O que se vê é o Estado dos Pablos Marçais, das cadeiradas datenianas, dos arroubos planejados para criar manchetes midiáticas.

Deterioração

São bastante visíveis os sintomas da crise, expressa pela deterioração de programas sociais, principalmente nos capítulos da segurança, educação, saúde e habitação. Só em São Paulo, contabiliza-se um efetivo de milhares de policiais militares desviados das funções constitucionais de efetuar o policiamento ostensivo e preservar a ordem. Ficam recolhidos nas repartições públicas, exercendo funções burocráticas. A sociedade passa a cumprir missão do Estado, arcando com o alto custo de uma segurança privada. Os "exércitos" privados se multiplicam empurrando as forças públicas para um segundo plano.

A marginália se expande

A marginália se expande e o medo se espraia, entrando nos horizontes de todos os segmentos. O desfile de caras e bocas nos programas eleitorais, além de mecanismos catárticos para diversionismo das massas, expressam a agonia da política. Não há como deixar de se constatar a disfunção narcotizante do efeito teatral sobre o psiquismo de grupos. Quem faz o melhor espetáculo? Sem segurança, sem saúde, com educação precária, sem serviços essenciais básicos eficientes, o cidadão fragiliza-se e perde autonomia. E se perde autonomia, atenua o sentido crítico e a vontade de fazer valer direitos. Os gastos sociais do Estado tendem a ser direcionados mais para os setores com poder de pressão do que para os segmentos menos favorecidos.

Só vejo o beco

As massas procuram encontrar equilíbrio nas manifestações coletivas e no ludismo, seja nos esportes, seja na programação grotesca da TV. Os líderes não são mais perfis proeminentes portando valores essenciais, como decência, respeitabilidade, honra, ética e civismo. São figurantes televisivos com porretes na mão, banquetas nas mãos, personagens exóticas, outsiders, elementos canhestros, gente que faz do drama a comédia, da dor o escárnio e da escatologia o alimento rotineiro. Manuel Bandeira, o poeta, exclama: "que adianta a glória, a poesia, a beleza, a linha do horizonte? Eu só vejo o beco".

  • Parte II

Raspando o tacho

- A Rede TV fez o seu debate. Um esculacho. Acusações recíprocas e gritaria. Fixou cadeiras com parafusos no chão. A brigalhada não cedeu.

- A política chega ao fundo do poço. Que triste Brasil.

- Nos EUA, a política também é palco de violência. Mais uma tentativa de atentado contra a vida de Donald Trump, que ganha as manchetes.

- O Brasil é um fumaceiro de norte a sul, de leste a oeste. E ainda se fala numa tal Autoridade Climática. É pra rir. Ou chorar...

- A guerra Rússia versus Ucrânia não dá sinais de arrefecimento. - A guerra Israel versus Palestina continua com carnificina. O planeta ensanguentado.

- A crise climática desorganiza as leis da natureza. O mundo em destroços. Secas aqui, chuvas acolá.

- São Paulo respirando o pior ar do planeta. Um troféu indesejado.

- Um dia de frio - 14ºC. Dias de extremo calor - 36ºC. Os dias se sucedem em pulos estratosféricos.

- O ministro Flávio Dino, do STF, determina a pauta do Executivo. É o Brasil do samba do crioulo doido.

- O mundo gira e a Lusitana roda...