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Porandubas nº 102

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Atualizado às 08:41


COITADA DA BEZERRA

Marcos Valério, o publicitário careca, para justificar contas astronômicas valeu-se do gado. Disse que eram recursos oriundos da venda de bovinos. O senador Renan Calheiros seguiu a trilha do curral e, da mesma forma, inflacionou a arroba da carne bovina. Alagoas é campeão nacional do gado de primeira. O senador Roriz também foi buscar no pasto o argumento para cobrir um cheque de R$ 2,2 milhões que recebeu de Nenê Constantino, dono da empresa aérea Gol. Ou seja, na ausência de uma boa prova, chama-se a bezerra.

A IMAGEM DO PECUARISTA NO BREJO

A cada novo escândalo envolvendo boi no pasto ou bezerra premiada, o maior perdedor é o bom pecuarista, aquele que cumpre as normas, tem Declaração do Nascimento do Gado (DNG) e Guia de Transporte Animal (GTA). E a imagem do bom pecuarista se atola no brejo.

RENAN NAS CORDAS

Os aliados do senador Calheiros vibram com a novilha do senador Roriz, na crença de que o novo escândalo bovino faça esquecer o Renangate. Esquecem que Roriz, também bom de briga, poderá dizer : Por que eu sozinho ? Os episódios se juntam no foro da crítica social. Perdoar um e condenar outro será difícil. Ou ambos serão arrastados para o pico da montanha da indignação ou escondidos no baú da arrumação corporativa. Ao contrário do que se pode imaginar, Renan está balançando nas cordas do ringue.

O ABRAÇO DA MORTE

Por isso mesmo, o affaire Roriz está mais para o abraço da morte do que para o V da vitória.

SIBÁ E RUI

O senador sem voto Sibá Machado, ex-presidente do Conselho de Ética do Senado, não gostou do puxão de orelhas que o senador Rui Barbosa lhe deu, quando lhe receitou o conceito de decência. O velho Rui disse que nunca a política iria torná-lo rico, pois jamais abriria os portões da coisa pública para o ingresso da ambição privada, ao que Sibá, sob os aplausos do cabeludo senador sem voto Wellington Salgado, teria retrucado : "Eu cumpro ordens".

PRA LIQUIDAR A FATURA

Se era "pra liquidar a fatura", Sibá Machado poderia ter escolhido como relator o senador Gilvam Borges (PMDB-AP). Pois esse folclórico senador, que anda de sandálias pelo Senado, diz por todos os lados que é pau mandado : "Não precisa nem de três (relatores), basta ser eu, porque posso liquidar a fatura". Ou, noutros termos : por Renan ele faz tudo. No Parlamento da eternidade, sentados nos camarotes, Afonso Arinos, Afonso Pena, Joaquim Murtinho, Joaquim Nabuco e o velho Rui espiavam a cena, boquiabertos; nas arquibancadas, viam-se Franco Montoro e Mário Covas balançando a cabeça.

O ATLETA SALGADO

O senador sem voto Wellington Salgado diz ser educador e atleta. Com aquele cabelo todo descendo pelas costas, está mais para DJ de danceteria.

LULA PERDE OU GANHA ?

Renan desce a ladeira. Roriz desce o serrado. O Senado está numa sinuca de bico. Se o cenário parlamentar é cinzento, qual a cor que ilumina o Palácio do Planalto ? Verde esperança. Lula ganha com a crise. Pode dizer : "Não tenho nada com isso." E é salvo pela cevada que forneceu à base da Pirâmide. Quanto mais sujo o Parlamento, mais limpa se torna a imagem do chefe do Executivo. Lula ganha. Vejam essa última pesquisa CNT/Sensus : a aprovação de Lula chega a 64%, resultado que bate com o de abril, que era de 63,7%.

MAIS UMA VEZ É DELE A FATURA

Nada cola nele. Depois de dar um prazo de 48 horas para equacionar a crise da aviação, eis que o país atravessa meses de apagão aéreo. E aí Lula, saindo do limbo, engrossa a voz e manda punir os líderes dos controladores do sistema aéreo. Ganhou palmas gerais. Fatura mais uma vez. Até parece que, há 9 meses, não foi ele a dar as ordens para a crise acabar.

OS TRÊS BURROS DE SERRA

De um grande empresário, ouve-se o cochicho em tom de queixa : "José Serra é um grande administrador e um perfil político de respeito. O problema é que ele administra ao mesmo tempo três frentes : o governo do Estado, a Prefeitura de São Paulo e a candidatura à presidência da República. Ora, quem toca três burros ao mesmo tempo acaba deixando um para trás".

MARCO MACIEL, O NOME

A crise no Senado passa pela disputa interpartidária. Os nomes do PMDB em condições de assumir a presidência da Casa geram polêmica. José Sarney é visto como o mais próximo a Renan. Pedro Simon teria postura oposicionista. Falta densidade ao nome de Gerson Camata. Nomes do PSDB e do DEM seriam vetados pelo fato de fazerem oposição. Mas haveria um perfil em condições de abrir forte diálogo : o discreto senador Marco Maciel. Um grande acordo suprapartidário, no entanto, é um parto muito difícil, para não dizer, impossível.

A CRÍTICA DE AÉCIO

Aécio Neves, sempre conciliador, abriu o bico tucano para uma forte crítica ao governo Lula. Com todas as letras, o mineiro denuncia : "Herança de Lula é o aparelhamento do Estado". O presidente fechará a cara. Com a denúncia, Aécio resgata uma força que perdia entre os tucanos. Estratégia de linguagem unificada.

A CRÍTICA DE SERRA

José Serra lança programa de recuperação de estradas no valor de R$ 457 milhões e faz forte crítica a Lula. Com todas as letras diz : "Não é um simples tapa-buraco". Foi uma referência direta ao programa do governo federal para recuperar a malha viária. Estratégia de linguagem unificada.

BICOS AFIADOS

Se os tucanos não afiarem o bico, verão a banda passar. Perderam vetores de peso. Perderam a capacidade de fazer pressão. Perderam a veia crítica. Por isso, começam a resgatar a identidade.

MAIA, CABRAL E O PAN

César Maia e Sérgio Cabral têm pela frente uma loteria da sorte ou um corredor da morte. Se o Rio de Janeiro violento der as cartas por ocasião do PAN, sobrará para eles o prejuízo. Imagine-se um acidente/incidente envolvendo atletas estrangeiros. A imagem do Rio de Janeiro, já precária, descerá ao último andar do inferno. Se tudo correr às mil maravilhas, poderão abrir grandes horizontes. A conferir.

ALCKMIN NAS AMARELAS

A entrevista do ex-governador Geraldo Alckmin, nas páginas amarelas da revista Veja, deixou aberta a possibilidade de vir a disputar a prefeitura de São Paulo, em 2008. Lembre-se que já foi candidato a esta vaga, perdendo por pouco para Paulo Maluf. Será ruim para ele aguardar até 2010.

OUTRAS APOSTAS

Nesse caso, seria candidato a senador, deixando a vaga de governador para nomes como Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil, ou Alberto Goldman, vice-governador. A outra vaga de senador, pela coligação governista, seria disputada por Guilherme Afif. E Serra seria o nome tucano para a presidência da República. Esse trato garantiria a Gilberto Kassab candidatura à reeleição. Como se deduz, Alckmin e Aécio são os "poréns" da história.

PRIMEIRAS FICHAS PETISTAS

As primeiras fichas no jogo sucessório começam a ser jogadas sobre a mesa. No campo petista, as fichas são apostadas em Patrus Ananias, o ministro do Desenvolvimento Social, em Dilma Roussef, ministra da Casa Civil, e no governador da Bahia, Jaques Wagner. O tucano Aécio Neves, saindo do PSDB e ingressando no PMDB, poderia ser o candidato da base governista. Neves, porém, começa a atacar Lula e a embaralhar o jogo. Ou seja, um mais um, menos um, "neves" fora, o jogo acaba empatado.

MENSAGEM À GARCIA

Pois é, o Marco Aurélio Garcia, a respeito das críticas sobre o dízimo cobrado pelo PT aos seus filiados, diz : "O dinheiro é meu e dou a quem eu quiser". Ele esqueceu que as críticas se referem à engorda do Estado com filiados do PT. Nesse caso, a operação cheira à lama : bota-se uma montanha de gente nas estruturas estatais e, ao final, enchem-se os cofres de um Partido que, nesse caso, é financiado pelo próprio Estado. Uma excrescência.

ANDRÉA, O SUBPREFEITO

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, conta com um trator para endireitar as curvas e aplainar os obstáculos à administração : trata-se do secretário das Subprefeituras e subprefeito da Sé/SP, Andréa Matarazzo, que se diz presente em quase todas as frentes da batalha municipal, a partir da campanha pela Cidade Limpa e resgate de espaços históricos. Andréa, além de exibir perfil de bom executivo, é um quadro que transita em todas as alas tucanas. Um nome para ocupar o lugar certo no momento adequado. A conferir.

TARSO VESUS DIRCEU

As bandas petistas se preparam para a grande batalha que será travada na arena do 3º Congresso do partido, a se realizar em agosto. José Dirceu, o incansável, e Tarso Genro, o maior intelectual do partido, são os comandantes de duas grandes alas. Será difícil uma conciliação entre ambos.

SOB AS BENÇÃOS DO STF ?

E por falar em José Dirceu, a abreviação do "tempo sabático" a que foi condenado pode ser conseguida, se o Supremo Tribunal Federal julgar logo seu caso. Aliás, essa é a meta pela qual luta o ex-comandante petista e hoje consultor bem sucedido. Espera ser absolvido. Se atravessar, incólume, os corredores do STF, Dirceu encampará a campanha pela anistia. No espaço de um mês - não mais que isso - ele conseguirá mobilizar as estruturas capilares do PT e adjacências (Movimentos Sociais) e juntar 1,5 milhão de eleitores. Chegando à Câmara, o projeto de iniciativa popular deverá ser apreciado e julgado. Dirceu voltará à liça antes do prazo previsto.

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