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Porandubas nº 855

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Atualizado em 9 de julho de 2024 14:26

I Parte

Abro a coluna com os puxa-sacos e a farta de feição.

Tempos eleitorais. Tempos de fidelidade e infidelidade. Guararé era cabo eleitoral do governador Sebastião Archer, do Maranhão. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé argumentou:

- Cada um puxa quem pode. Eu puxo o senhor, governador Archer. O senhor já puxa o senador Vitorino Freire. E o senador puxa o general Dutra. É a lei da fidelidade partidária.

Farta feição

José Aparecido chegou à sua Conceição do Mato Dentro/MG, começou a romaria dos amigos. Entrou um coronel, mansos passos e chapéu na mão:

- Bom dia, doutor. Boa viagem?

- Boa. Como vão as coisas?

- Tudo correndo como de costume. Novidade aqui nunca tem e lá pra fora não sei, porque minha televisão está defeituada.

- O que é que aconteceu com ela?

- Não sei não. Às vez, farta prosa, às vez farta feição.

(José Aparecido foi deputado federal, ministro da Cultura, governador de Brasília e embaixador em Portugal. Excepcional figura, amigo de meu irmão, Ivonildo Torquato, médico-cirurgião, que o operou no HSE, RJ).

A grandeza de uma nação

A grandeza de uma Nação não é apenas a soma de suas riquezas materiais, o produto nacional bruto. É o conjunto de seus valores, o sentimento de pátria, a fé e a crença do povo, o sentido de família, o culto às tradições e aos costumes, o respeito aos velhos, o amor às crianças, o respeito às leis, a visão de liberdade, a chama cívica que faz correr nas veias dos cidadãos o orgulho pela terra onde nasceram. A anulação de alguns desses elementos espirituais faz das Nações uma terra selvagem. E isso se deve em grande parte à incúria dos políticos, cujo olhar se descola da realidade social para mirar o espelho narcisista das ambições pessoais.

A mesmice

A observação acima parte da análise dos sentimentos de nosso povo, a partir do descrédito nas instituições, revelado por pesquisas de opinião nesses tempos de tomada de pulso no ânimo da comunidade. A sensação é de mesmice. De falta de novidade.

Não são apenas as gritantes estatísticas de violência das metrópoles que assustam. Os assassinatos tornam-se eventos banais. O desânimo ronda as famílias e deflagra ondas de medo, corroendo energias e esperança. Os serviços públicos caem de qualidade, não passando de retórica ficcionista dos Governos apontar melhorias. As cenas de queimadas de tão recorrentes, não mais provocam compaixão. Pertencem a uma cosmética de destruição que coloniza nossas mentes.

Deterioração

Os bilhões que o governo anuncia para as áreas sociais não conseguem melhorar a saúde, a educação, o saneamento básico, os transportes urbanos, a segurança pública. Em alguns Estados, fabulosas cifras desaparecem como por encanto. E o que faz a maioria de nossos governantes? Ou não faz a lição de casa ou trava uma queda de braços com o Governo Federal. A polarização se espraia pelas redes sociais. Bolsonaro e Lula correm o país na busca de multidões. Lula, mais nos gabinetes; Jair Messias, mais nas ruas.

Tem faltado grandeza aos nossos políticos. A crise social continua tocando as entranhas de todos os setores da vida nacional. O escárnio de certos representantes chega às raias do absurdo. Uma luta se instala na Praça dos Três Poderes, em Brasília, escancarando atritos entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

É triste, muito triste. A vida no país não está sendo nem um pouco bela.

Adeus aos sonhos

Os sonhos dourados dão adeus. Um povo sem esperança é como uma árvore desfolhada, sem viço e com a cor das coisas mortas. O povo brasileiro pena suas amarguras no deserto frio das desesperanças. Um povo sem sonhos é uma entidade sem espírito e sem direção. Tiraram-lhe a vontade, a admiração pelos ritos da Pátria e o respeito às instituições. Os dois Brasis se mostram por inteiro. Um, grande e periférico, abriga estômagos famintos e bocas sedentas; outro, pequeno e central, ocupado por bocas gananciosas e mentes matreiras, ciosas de seu raio de ação, de seu poder e de sua capacidade de fazer amigos e influenciar pessoas.

A ilha da fantasia

O Brasil do centro conta com instrumentos poderosos. Seu pensamento penetra em vasos capilares e chega ao último dos pequenos mortais. Sua voz é tonitruante e multiplicada. O Brasil distante fala por meio de onomatopeias. As falas do grande silêncio jamais são ouvidas por ouvidos acostumados ao barulho dos grandes negócios. Por isso mesmo, as massas mais ouvem que dizem. Com um porém: há um momento em que, de tanto ouvir a mesmice e sentir a presença das mesmas pessoas, as massas chegam a um limite de saturação. Um bumerangue pode explodir na cara dos alto-falantes de plantão. Na Ilha da Fantasia, Brasília. O grande festival continua. Desfiles de siglas e pessoas se sucedem, no anfiteatro que junta gladiadores romanos, com espadas cortantes; filhotes de Maquiavel, com suas táticas sorrateiras; crentes de prontidão, dispostos a jogar sua alma ao (des) serviço da Pátria; e comerciantes de plantão, que jogam suas decisões na bolsa das trocas de ocasião.

II Parte

Raspando o tacho

Perfis em relevo

- Lula da Silva- Acredita, mesmo, que fez e faz o melhor governo de todos os tempos. Convencido que é o Salvador da Pátria.

- Messias Bolsonaro - Farto da cantilena: não vi as joias, não ouvi nada sobre suas vendas, não recebi grana nenhuma. Um inocente, que se esforça para ser o porta-voz dos desvalidos. Um "mito" no meio do mato....

- Fernando Haddad - Entre a cruz e a espada. Se gastar demais, o bicho pega; se gastar de menos, o bicho come.

- Simone Tebet - O grito preso na garganta é o esforço das circunstâncias. Olhando o futuro.

- Marina Silva - Um olho nas reservas de petróleo na foz do Amazonas, outro olho no cargo de ministra. Dois olhos perplexos e fixos na devastação do pantanal.

- O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, suspeito de corrupção, com um pé fora da Esplanada dos Ministérios.

- Geraldo Alckmin, o vice - Elogiado pela discrição. Um monumento ao bom senso.

- Michele Bolsonaro, ensaiando entrada no palco senatorial do DF, de 2026. Piscando para o palco presidencial, no lugar do marido.

- Flávio Bolsonaro, ensaiando entrada no palco senatorial do RJ, de 2026. Quer ser reeleito.

- Eduardo Bolsonaro, ensaiando entrada no palco senatorial de SP, de 2026.

- Carlos Bolsonaro, olhando para palcos senatoriais em Mato Grosso e Santa Catarina, de 2026.

- Tarcísio de Freitas, tentando avaliar se o cavalo passará em frente do Palácio dos Bandeirantes, em 2026, e se teria condições de montar no animal.

- Ronaldo Caiado - Botando a mão na testa para vencer os raios de sol e correr o país na tentativa de se fazer conhecer pelo eleitorado brasileiro. Em 2026, o país poderá ter uns 160 milhões de eleitores. Ou mais.

- Marcio Macedo, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, provavelmente voltando para Sergipe, de olho nas eleições municipais de outubro próximo.

O mundo gira e a Lusitana roda.