Abro a coluna com a historinha de um gaúcho bem "esperto".
Na barbearia
Certo dia, chega à barbearia juntamente com um menino, ambos para cortar o cabelo.
O barbeiro, gente mui buena, faz um corte da moda no gaúcho, que aproveita para aparar a barba, a sobrancelha, os pelos do nariz, enfim, um trato geral. Depois de pronto, é a vez do guri. Diz o gaúcho ao barbeiro:
- Tchê, enquanto tu corta as melena do guri, vou dar um pulo até o bolicho da esquina comprar um cigarrito e já tô de volta.
- Tá bueno! - diz o barbeiro.
Termina de cortar o cabelo do guri e o matreiro não aparece.
- Senta aí e espera que teu pai já vem te buscar, diz ao moleque.
- Teu irmão, teu tio, seja lá o que for, senta aí.
- Ele não é nada meu! - fala o guri.
O barbeiro pergunta intrigado:
- Mas quem é o animal, então?
- Não sei! Ele me pegou ali na esquina e perguntou se eu queria cortar o cabelo de graça!
- Parte I - O caminhar das eleições
Os sem-discurso
Por todas as regiões do país, ao lado dos Sem-Emprego, Sem-Terra, Sem-Teto, Sem-Escola, cresce a categoria dos Sem-Discurso. Trata-se da leva de pré-candidatos que levarão para os eleitores, nas eleições de outubro, uma boca cheia de intenções, um bolso cheio de dinheiro e uma cabeça carente de ideias. Geralmente os Sem-Discurso são ricos, administram interesses de grupos e são usados por partidos como financiadores de campanhas. São inexperientes em política e acreditam que o poder do dinheiro é capaz de operar milagres e colocá-los no pedestal mais alto. São centenas entre os 5.570 prefeitos de cidades brasileiras.
A despolitização
Não há exceção. Todos os Estados possuem candidatos Sem-Discurso, até porque eles se multiplicam nas sombras da abundância da sociedade industrial, que se caracteriza pela despolitização. Nas últimas décadas, vemos as doutrinas fenecerem, as utopias falecerem e as tecnocracias se expandirem. A administração das coisas tem substituído o governo dos homens. Os Sem-Discurso constituem a graxa de um ciclo, onde a densidade ideológica da competição política é cada vez menos forte.
Parlamento e Executivo
Por uma dessas contradições da cultura brasileira, os Sem-Discurso se fazem mais presentes na Câmara Federal e no Senado, na Câmara de vereadores, nas prefeituras e governos estaduais. Vejam o caso do Senado, um céu, segundo dizia o velho senador Dinarte Mariz, da ex-UDN do RN. Dos 81 senadores que ali chegam, há um grande grupo de suplentes que entram na cúpula convexa por causa do afastamento de titulares, guindados a governos de Estados e a ministérios. No Senado, a divisão entre senadores de primeira e segunda classes é mais expressiva que a distinção entre o alto e o baixo cleros na Câmara.
Inexpressivos
Muitos ex-governadores se sentam ao lado de figuras inexpressivas no campo da política e da administração pública. Esfacela-se, assim, a imagem de grandeza do Senado, que, desde o Império Romano, é, por excelência, a casa que abriga nomes de maior respeito de uma Nação. Por isso, justifica-se um antigo projeto de lei - atualmente engavetado - que redefine critérios para eleição de suplentes. Há, até, a ideia de se levar para o Senado, na vaga do titular afastado ou licenciado, o deputado Federal mais votado no Estado.
Os "recursados"
Enquanto isso não acontece, cresce, nos Estados, a procura por figuras Sem-Discurso, porém Com-Recursos, para azeitar as campanhas. É o que veremos no pleito de 2016. Teremos, portanto, um vasto espaço para oba-oba, reuniões sociais e empresariais, encontros que buscam engajamento e solidariedade em torno de candidatos que mal sabem recitar as funções de um senador. Que ninguém se iluda. Já na campanha municipal deste ano, nomes, propostas, projetos, experiências e atitudes serão conferidos a rigor pelo eleitorado. Se os mal alinhavados candidatos a prefeito e vereador quiserem um bom conselho, aí vai: procurem um discurso, uma identidade, um diferencial. Abandonem a linguagem tatibitate, patética e mirabolante.
A micropolítica
Para candidatos a prefeito, também é oportuno lembrar a mudança no mapa cognitivo do eleitorado: a micropolítica (questões locais, regionais) ganha mais pontos que a macropolítica (temas generalistas e difusos). Dinheiro, sozinho, não ganha campanha. E inexiste sorte em política. A ponte mais sólida para chegar ao eleitor se faz, ainda, com a argamassa do discurso. É claro que há bolsões que ainda reagem à moda antiga, exigindo recompensas. Nesse caso, os Sem-Discurso concorrerão com caciques que sempre levam a melhor, porque contam com o voto de cabresto.
O discurso apropriado
A intuição está cedendo lugar ao planejamento. Aquilo que um candidato acha que pode dizer deve passar, previamente, pelo pré-teste da aferição popular. E quem quiser chegar mais perto dos números finais de campanha, deve se lembrar da aritmética eleitoral: cerca de 20% dos votos esperados normalmente desaparecem. Parte dos eleitores gosta de cometer uma "traiçãozinha", outra parcela é permeável às "pressões" de última hora. O voto mais seguro ainda é aquele compromissado com o discurso, a proposta, o ideário. Todo cuidado é pouco para quem gosta de fazer campanha à base de meros refrões publicitários. Fraseados e palavras bonitas, quando artificiais, não fazem a cabeça do eleitor. Frequentemente, transformam-se em bumerangue, voltando-se contra o próprio candidato.
- Parte II
Raspando o tacho...
- Lula quer ver o Brasil como potência no campo do petróleo, ao lado do Brasil, líder no campo da sustentabilidade, da energia verde. Algo não combina.
- O general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, deu o empurrão final: Jair Bolsonaro queria dar um golpe. E tinha conhecimento da minuta da "virada de mesa".
- O tenente-brigadeiro do ar, Carlos de Almeida Baptista Junior, também dera depoimento à Polícia Federal sobre os fatos apurados na investigação do plano do golpe. Teria confirmado.
- É questão de tempo. Bolsonaro deverá ser preso. E ganhar de vez o papel de vítima. O país continuará rachado.
- Trump não foi julgado pela Suprema Corte dos EUA, que decidiu sobre a competência dos Estados no veto à candidatos presidenciais. O mérito não entrou na decisão. Ou seja, os processos contra Donald Trump continuam em pauta.
- A França tomou direção oposta aos EUA. Inseriu na Constituição o direito das mulheres ao aborto. 86% dos franceses apoiam a constitucionalização do aborto, como demonstrou uma pesquisa do final de 2022 - taxa bem superior à do Brasil, onde a aprovação ao aborto é de 39%.
- O ano eleitoral escancara o cofre público. Uma dinheirama para a campanha municipal.
- O presidente do STF, Luis Barroso, disse que as Forças Armadas fizeram "um papelão" e foram "arremessadas" da política, por ocasião das últimas eleições presidenciais.
- As Forças Armadas inauguram a abertura de um novo ciclo de profissionalização.
- Chega de morticínio. Que os senhores das guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia entrem em um ciclo de paz. Urge cessar fogo.
Fecho a coluna com uma historinha de português (para gáudio da colônia)
Pregos Garcia - 2000 anos de garantia
Um português abre filial de sua loja de pregos em Roma. Como a propaganda é a alma do negócio, fez um outdoor com a figura de Cristo pregado à cruz e em baixo estava escrito:
- "Pregos Garcia - 2.000 anos de Garantia".
Foi aquele rebuliço. O Bispo de Roma foi pessoalmente conversar com o português e explicar-lhe que não podia fazer aquilo, um pecado mortal... Então o português resolveu fazer um novo outdoor. Colocou Cristo com uma das mãos pregadas na cruz e a outra solta, a acenar. Em baixo estava escrito:
- "Adivinhe em qual mão foi usado o Prego Garcia?"
Meu Deus do céu! Até o Santo Papa saiu do Vaticano e foi conversar com o português:
- Que heresia meu filho! Não se pode usar Jesus Cristo como personagem de propaganda... Inventa outra coisa e retire isto imediatamente!
O portuga pensou, pensou, pensou e...
- Ok se é assim, vou fazer um novo outdoor, desta vez sem a imagem de Cristo!
Colocou a foto da cruz vazia e em baixo o escrito:
- "Se o Prego fosse Garcia, o tipo não fugia..."
(Anedota sugerida por Maria Mouzinho).