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Porandubas nº 811

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Atualizado às 08:23

Abro com o Largo da Carioca

Precisamos trabalhar

O brigadeiro Eduardo Gomes fazia, no largo da Carioca (Rio de Janeiro), seu primeiro comício da campanha presidencial de 1945. A multidão o ouvia em silêncio:

- Brasileiros, precisamos trabalhar!

Do meio do povo, uma voz poderosa gritou:

- Já começou a perseguição!

Bagunça geral. O comício quase acabou.

Tratados são papéis

Simon Bolívar lapidou o conceito; "não há boa fé na América, nem entre os homens nem entre as nações. Os tratados são papéis, as constituições não passam de livros, as eleições são batalhas, a liberdade é anarquia e a vida um tormento". Puxando para nós o pensamento. A vida nacional está se tornando cada vez mais um tormento e parcela desse sofrimento tem muita coisa a ver com a desordem institucional que nos cerca.

Não há boa fé

A boa fé foge de nosso alcance. Basta verificar a política de emboscadas que inspira o relacionamento entre os partidos nacionais. Na base governista, as dissensões se acentuam a cada dia. O Centrão quer o maior naco. O PT quer conservar os seus. O arco ideológico está esgarçado. Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário vivem às turras, energizados por visões que parecem inconciliáveis a respeito de temas polêmicos. Critica-se o Judiciário por judicializar a política.

CF, fonte de litígios

A Constituição brasileira é um livro cheio de detalhes. Quando foi produzida, refletia o caldeirão de pressões da sociedade. Por ser uma Carta muito descritiva, propicia polêmica em demasia e abre espaços para uma infinidade de litígios. Hoje, é criticada pelo fato de muitos de seus artigos e incisos não serem obedecidos. E uma lei maior que deixa de ser cumprida acaba plasmando uma cultura de perniciosidade, impunidade e desorganização. Dessa forma, os tratados constitucionais perdem razoável parcela de força, transformando-se em letra morta.

As eleições já estão nas ruas

Nem bem termina uma eleição, a próxima ganha as ruas. As eleições constituem uma batalha acirrada, onde não faltam os impropérios, denúncias contra adversários, calúnia e difamação, a compra de votos, cooptação pelo empreguismo e pela distribuição de benesses. A política, como exercício democrático da defesa de um ideário social, como missão para salvaguarda dos interesses coletivos, está cada vez mais assemelhada ao empreendimento negocial, voltado para o enriquecimento de indivíduos e grupos.

Improvisação

O conceito de liberdade confunde-se com liberalidade, a baderna gerada pela permissividade extrema, tocada pela improvisação, pela irresponsabilidade, pela invasão dos espaços privados e até pelo denuncismo exacerbado da mídia. Quando o escopo libertário foi esculpido, no bojo da Revolução Francesa, carregava consigo o eixo da promoção dos valores do homem, da defesa dos direitos individuais e sociais, da dignidade e da Cidadania. O inimigo que se combatia era o Estado opressor, o absolutismo monárquico e a escravização que fazia do ser humano. Erigiu-se o altar das liberdades que, ao longo da história, tem sido conspurcado por outras formas de vilania e torpeza.

Desigualdade

As pesquisas evidenciam: as desigualdades entre classes são um abismo. A opressão econômica, a subordinação dos valores e princípios espirituais ao prazer das coisas materiais, a miséria absoluta que maltrata parcelas significativas da sociedade, a desigualdade de classes, o descompromisso de governos e representantes do povo para com os destinos da coletividade, entre outros elementos, contribuem para corroer o sentido da liberdade e da dignidade do Homem. As reformas, como a tributária, são gestadas para atender a grandes interesses.

Governantes inescrupulosos

Os governantes fazem sua agenda com um olho nas próximas eleições. Começam prometendo mundos e fundos. Parecem ter pressa. Vejam Lula pedindo aceleração na ferrovia leste-oeste, que ligará a Bahia ao centro-oeste. A construtora prometeu para 2027. Lula quer inaugurá-la em 2026. O saneamento do Estado tem muito dribles. O compromisso maior é com a gastança. No terceiro ano de governo, a ordem é cumprir uma agenda de obras aceleradas. Queimam-se etapas. Elefantes brancos são deixados ao próximo governante.

Tinta na caneta

Fruem as delícias do poder da caneta. Surpreendendo-se com a força do cargo, vai testando as capacidades de mandar, solicitar, nomear, desnomear, receber atenção. Mil e um cargos. É assessor por todos os lados em 37 ministérios e uma batelada de autarquias e empresas. Devem dormir contando carneirinhos, aliás, pedintes que entram e saem pela porta do curral, ou melhor, salão de despachos.

A onda publicitária

Saem do confinamento dos palácios e prefeituras, correm para canteiros de obras, lambuzam-se de poeira, visitam cidades, compram super-aviões, fazem um périplo pelo mundo, visitam obras, alguns chegam a despachar nas ruas, com as massas aplaudindo as obras. O governo é um território delimitado por placas, frases de efeito e logomarcas. As fotos de um governante suorento e trabalhador (símbolo do obreirismo faraônico) inundam redações para transmitir a imagem de uma administração transformada em canteiro de obras.

A arrogância

As caras dos mandatários expressam o próprio ciclo de vida da administração. Da simplicidade, da primeira fase de governo, à arrogância, da última fase, eles retratam a incultura política do país. Entram como inquilinos dos espaços públicos e saem como proprietários de feudos. Impregnam-se de onisciência e onipotência. Em muitos Estados, vestem-se de deus. A coisa pública (res publica), para muitos deles, se transforma em fazenda particular. Muitas vezes, a falta de preparo do governante torna-o refém de um grupo de donatários, que faz a partilha do governo, distribuindo cargos, benesses e posições.

Este escriba, perplexo, ouviu de um alto empresário: malas de dinheiro voltaram a frequentar gabinetes e esconderijos. A corrupção voltou multiplicada. ???

II Parte

Raspando o tacho

- A reforma tributária, nos termos em que está escrita, é um golpe de morte no setor de serviços - Lula tem pressa. Quer obras, reformas, arcabouço fiscal, conquistar a simpatia de países que se afastaram do Brasil, ter grande base de apoio. Parece voar nas asas da autossuficiência.

- Lira não conseguirá domar os apetites do centrão.

- Tarcísio e Zema correm na dianteira na direção de 2026.

- Importante secretário de Tarcísio confessa a este analista. O governador de SP vai, primeiro, disputar a reeleição em 2026 e, em 2030, a presidência.

- Geraldo Alckmin cresce no escurinho dos contatos e articulação.

- Nunes, MDB, prefeito de São Paulo, trabalha para ser conhecido como o "fiscal da cidade".

- A CPMI do 8 de janeiro vai arrefecer sua força.

- José Paulo Cavalcanti Filho, o grande jurista pernambucano, membro da Academia de Letras, tomará posse, em novembro na Academia Portuguesa de Letras. Viva!

- Nos últimos tempos, os jornais passaram a manchetar sobre mortes misteriosas de jovens e casais em suas residências. A violência entrando nos lares.

- Aumenta a quantidade de crimes com o uso de ferramentas tecnológicas.

- Preparem-se para aguentar intenso calor no próximo verão, provocado pelo fenômeno El Nino. Segunda foi o dia mais quente na história da temperatura do planeta.

- Perguntinha marota: os órgãos de controle conseguem apurar e descobrir onde estão as torneiras mais abertas da corrupção?

- Os irmãos Gomes travam uma batalha no Ceará: o senador Cid trabalha para ser parceiro do PT; o ex-candidato à presidente quer levantar a bandeira do PDT, ficando longe do PT. Não é jogo de aparências. Os irmãos estão brigados.

- Ser grande e forte nem sempre significa ser todo-poderoso. Pescadores acabam de flagrar piranhas atacando e comendo um jacaré no rio Javaés. Um grupo de abelhas atacam e matam.

Fecho com as Minas Gerais

Desde que o dinheiro venha

Mais uma da matreirice mineira. Benedito Valadares chegou a Curvelo/MG, para visitar a exposição de gado do município. Na hora do discurso, atrapalhou-se:

- Quero dizer aos fazendeiros aqui reunidos que já determinei à Caixa Econômica e aos bancos do Estado a concessão de empréstimos agrícolas a prazos curtos e juros longos.

Lá do povo, alguém corrigiu:

- É o contrário, governador! Empréstimo a prazo longo e juro curto.

- Desde que o dinheiro venha, os pronomes não têm importância.