Abro com mais uma hilária historinha do Sebastião Nery.
Cambada de ladrões....!
Cabralzinho, líder estudantil em Campina Grande, foi passear em Sobral, no Ceará. Chegou em dia de comício. No palanque, longos cabelos brancos ao vento, o deputado Crisanto Moreira da Rocha, competente orador da província:
- Ladrões!
A praça, apinhada de gente, levou o maior susto.
- Ladrões! Ladrões, porque vocês roubaram meu coração!
Cabralzinho voltou para Campina Grande, candidatou-se a vereador. No primeiro comício, lembrou-se de Sobral e do golpe de oratória do deputado, fechou a cara, olhou para os ouvintes com ar furioso:
- Ladrões!
Ninguém se mexeu. Cabralzinho sabia que política em Campina Grande era briga de foice no escuro. Queria o impacto total.
- Cambada de ladrões!
Foi uma loucura. A multidão avançou sobre o palanque. Pedra, pau, sapatos. O rosto sangrando, acuado, Cabralzinho implorava:
- Espera que eu explico! Espera, vou explicar!
Explicou. Ao médico, no hospital.
Panorama
Quatro meses
O governo Lula 3 chega aos quatro meses com uma nota 6 na escala 0 a 10. Referência deste analista. Número que deve ser 10 na contagem de um membro do PT, 6 a 7 na visão de um esquerdista moderado e 1 a 2 na opinião de um bolsonarista. Ou seja, a avaliação da administração lulista depende da origem da fonte. O posicionamento do participante da enquete explica má ou boa avaliação. Tento explicar minha posição.
Arcabouço confuso
Começo com o eixo que constitui o calcanhar de Aquiles do governo: o arcabouço fiscal. Trata-se de uma peça meio solta na engrenagem. Não está firme. O ministro Fernando Haddad se esforça para chegar a um ponto de equilíbrio, entre o controle dos gastos e a busca de novas fontes de receitas. Os últimos movimentos mostram a tendência da administração em taxar riquezas/investimentos no exterior e melhorar a condição do bolso das classes no pátio inferior da pirâmide social. Para tanto, melhoria do salário-mínimo e aumento do teto do IR para efeito de taxação.
Nem lá, nem cá
O trabalho da equipe econômica, que parecia mais robusto por ocasião dos primeiros informes, se estiola ao longo dos dias, a denotar a dificuldade do governo em agradar gregos e troianos. Por mais que Lula se esforce para arrumar um discurso convincente para satisfazer às classes médias, não tem melhorado sua avaliação. Ao contrário, a cada dia, o presidente insiste em resgatar o velho discurso de pobres contra ricos e a levantar bandeiras vermelhas dos tempos d'outrora.
Ousadia
"Desde o condutor dos transportes e o tocador de tambor até o general, a ousadia é a mais a nobre das virtudes, o aço verdadeiro que dá à arma o seu gume e brilho". (Clausewitz, em Da Guerra).
IPESPE
O Instituto do pesquisador Antônio Lavareda, na pesquisa de abril, encomendada pela Febraban, mostra certa estabilidade na avaliação do governo Lula. A aprovação cai 1 ponto, de 40 para 39 (ótimo e bom) e a desaprovação fica em 28 pontos (ruim e péssimo). A área da saúde e a de emprego e renda lideram as demandas por maior atenção.
Vermelho
É fato que, sob a paisagem estética, Lula aboliu o vermelho de suas roupas, que ostentam a cor branca, com desenhos e arremates cromáticos, mas a vermelhidão continua forte nos grupamentos do MST e da CUT, reunidos nos eventos de massa. Lula tem usado o palanque para atingir sua antiga plateia, a quem faz acenos com uma adjetivação polarizada. Daí as urras de "mito, mito, mito" que Messias continua a produzir em seus primeiros movimentos na volta dos Estados Unidos.
Bolsonaro emerge
Explicam-se, assim, os passos do ex-presidente Bolsonaro, saltitantes em função do tiroteio que continua a receber de Lula. Quem está pondo lenha na fogueira é Luiz Inácio. Jair conta com o tom agressivo do presidente para despontar como o comandante geral das oposições. E, nessa condição, espera construir massa de pressão contra a inelegibilidade, que ganha viabilidade junto aos membros do Tribunal Superior Eleitoral.
Escapando
Bolsonaro se coloca na condição de vítima. Incrível, mas verdadeiro. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito será um palanque para o discurso oposicionista, espaço em que Lula será marcado como conivente (pois sabia dos riscos de depredação ocorridos em 8 de janeiro) e ele, Bolsonaro, longe do país, longe dos acontecimentos, teria nada a ver com a tragédia. Mesmo com o domínio do governo sobre a narrativa na CPMF, os bolsonaristas abrirão um berreiro. A conferir.
Comunicação ruim
O governo Lula 3 tem uma comunicação falha. O ministro Paulo Pimenta ainda não encontrou o fio da meada. Lula deve iniciar uma live semanal, quando, de maneira informal, dará informações e opiniões. Tudo a ver com o resgate de imagem.
Amorim
O assessor especial de Relações Internacionais, Celso Amorim, irá à Ucrânia. Mas terá dificuldades em arranjar um discurso que agrade a Zelensky, da Ucrânia, e a Putin, da Rússia. Interessante: o chanceler Mauro Vieira desapareceu. Amorim é o real ministro das Relações Exteriores. P.S. As declarações de Lula sobre a guerra na Ucrânia, apesar da mudança de fala, inviabilizaram o papel do Brasil na condução de uma política de paz.
Tebet
Simone Tebet, ministra do Planejamento, baixa na escala de visibilidade. Está contida.
O agro
O agronegócio está de costas viradas para o governo. Bolsonaro faz festa com os empreendedores do setor.
Charles III
Lula se prepara para ir ao Reino Unido. Vai assistir à coroação de Charles III, que, segundo se lê, dorme abraçado ao seu ursinho de pelúcia. E, ao escovar os dentes, já encontra 1 cm de pasta na escova, medido por seu mordomo.
Doenças respiratórias
Tempos de pólen no ar. Tempos de doenças respiratórias. Tempo de maior cuidado com as crianças.
Pornografia
No Brasil, 22 milhões de pessoas assumem consumir pornografia - 76% são homens e 24% mulheres. Assistir a cenas pornográficas, segundo estudo publicado pela revista alemã Psychiatry, pode atrofiar partes do cérebro, deixando o órgão menos eficiente. Vídeos eróticos podem estar mascarando problemas físicos ou emocionais. "Uma válvula de escape". Deu no site fatorrrh.com.br.
Invasões
As invasões de propriedades pelo MST serão uma dor de cabeça para o governo Lula. Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas promete agir com força.
AFIF
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Governo de São Paulo, Guilherme Afif, despontava como o motor da administração. É hábil e senhor de sua área de atuação. Prefere agir de modo low-profile.
Viabilidade
Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos:
a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário.