Abro a coluna pré-carnavalesca com uma historinha do Ceará. Nesse tempo de sismos, é bom ficar alerta.
Terremoto em Icó
O governo brasileiro instalou um sistema de medição e controle de abalos sísmicos no país. O Centro Sísmico Nacional, poucos dias após entrar em funcionamento, detectou sinais de um grande terremoto na zona de Icó. Enviou um telegrama à delegacia de polícia da cidade, no Ceará, com a seguinte mensagem:
"Urgente. Possível movimento sísmico na zona. Muito perigoso. 7,5 na escala Richter. Epicentro a 3km da cidade. Tomem medidas e informem resultados".
Somente uma semana depois, o Centro Sísmico recebeu um telegrama com os seguintes dizeres:
"Aqui é da polícia de Icó. Movimento sísmico totalmente desarticulado. Richter tentou fugir, mas foi abatido a tiros. Desativamos as zonas. Todas as prostitutas estão presas. Epicentro, Epifânio, Epicleison e os outros cinco irmãos estão detidos. Não respondemos antes porque teve um terremoto da porra aqui".
Caldo começa a entornar
Às vésperas do carnaval, o presidente Lula, de volta dos Estados Unidos, põe a mão nas bocas do fogão para tentar amainar o fogaréu que ameaça entornar o caldo nas bases de seu governo. Traduzindo: o União Brasil e o PSD pedem que Sua Excelência entre na paisagem de articulação política para ceder espaços do segundo escalão. Alegam que não adianta ficar com os dirigentes das Pastas, sem direito de nomear os assessores. Não estão conseguindo nomear quadros para as estruturas ministeriais porque o PT reivindica tais lugares. Querela grande.
Ocorre que...
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, anuncia um "freio de arrumação" nos partidos da base governista. A questão envolve áreas do segundo escalão. Os partidos da base querem abocanhá-las. E o PT não quer ceder tanto território ao Centrão. Gleisi sabe que, a depender da gula dos partidos da base, não sobrarão fatias gordas para o Partido dos Trabalhadores.
Água para esfriar
Essa fogueira e seu resfriamento balizarão os passos da política durante todo o mandato de Luiz Inácio. O presidente entra em ação, joga um balde d'água no fogo, abaixa as chamas, até que o fogo suba outra vez de intensidade. E assim, entre jorros de contenção, a administração terá sequência, ensejando dúvidas sobre as pautas governamentais no Congresso e sua aprovação. Deve respingar na agenda. A conferir.
Invasão do território Yanomami
Outra frente de resistência será o paredão dos garimpeiros. Expulsos das terras Yanomami, saem, mas não deixam dúvidas que, mais cedo ou mais tarde, voltarão. Prova disso é a tentativa de se esconderem. Infiltram-se, aqui e ali, e mesmo com seus equipamentos destruídos, com queima de aviões e embarcações, resistem. Tentam se refugiar nas Guianas. O poder econômico não se subordina à ordem. Furam as defesas das forças policiais e voltam ao seu antigo refúgio. Este escriba conhece bem a história da garimpagem ilegal desde os idos de 1990.
Objetos não identificados
Mais três objetos não identificados foram derrubados nos espaços da América do Norte, depois da queda do balão chinês destruído pela força aérea norte-americana. O que seriam esses OVNIS? Alienígenas? Pouco crível a hipótese. Devem ser outros balões de tamanho e formato menores que o primeiro. O mundo espera uma resposta do presidente dos EUA, Joe Biden. E que venha antes do ex-presidente Donald Trump anunciar sinais da China para uma Terceira Guerra Mundial...
E a guerra, hein?
A guerra entre Rússia e Ucrânia chega nas bordas de um ano de lutas sangrentas. Milhares de mortos. Putin, arrogante e meio perdido, deve arremeter com fúria nos próximos tempos. Sob o risco de completa humilhação. Leio que a Rússia perdeu nas últimas semanas uma brigada de elite de cerca de cinco mil soldados. Falta de preparo. Improvisação tática. Generais russos completamente atabalhoados. A OTAN se une em torno da Ucrânia. Mais equipamentos, mais tanques, mais caças. E assim caminha, esvaindo-se em sangue, a Humanidade.
35 mil, 70 mil?
O terremoto que devastou a Turquia e parte da Síria já registra cerca de 35 mil mortes. Há quem preveja o dobro. A pior tragédia de séculos na região. Qual a diferença entre uma centena de mortos e milhares? A banalização da morte impermeabiliza nossos sentimentos. As camadas de insensibilidade devastam nossos sentidos.
Sorriso de esperança
Porém, uma criança sendo retirada dos escombros do terremoto, depois de dias soterrada, e ainda com um sorriso estampado no rosto, é um sinal da grandeza humana. A esperança no ser humano é infinita.
Eu e Deus
O "causo" ocorreu em Conchas/SP. Era a audiência de um processo - requerimento do Benefício Assistencial ao Idoso para um senhor alto, velho, magro, negro, humilde e muito simpático, tipo folclórico da cidade. Antes da audiência, o advogado lembrou ao seu cliente para afirmar perante o juiz morar sozinho e não ter renda para manter a subsistência. Nisso residiria o sucesso da causa. Na audiência, veio a pergunta:
- O senhor mora sozinho?
- Não! respondeu ele (o advogado sentiu que a coisa ia degringolar).
- Hum, não? Então, com quem o senhor mora?
- Eu e Deus, respondeu o matreiro velhinho.
O advogado tomou um baita susto. Mas a causa foi ganha. O juiz considerou procedente a ação.
(Historinha enviada por Éder Caram e contada pelo pai dele).
Menos 4 bilhões
Leio que Jorge Paulo Lemann, um dos homens mais ricos do mundo, perdeu de uma dia para outro quatro bilhões. De dólares ou de reais? Ora, para que saber isso? Perder um dólar ou bilhões de dólares, para magnatas como Lemann, não vai abalar sua riqueza. O bolso dele não ficará murcho. Estará sempre cheio.
Comam menos
A restrição alimentar pode retardar o envelhecimento e prolongar os dias de vida das pessoas. Leio: um estudo, designado como CALERIE, foi feito para avaliar o impacto à restrição da ingestão calórica de 25% ao longo de dois anos entre indivíduos saudáveis. Atenção, gulosos. Comam menos se desejam viver mais.
Carnavalizando
Teremos dias de folia na próxima semana. Gritos represados, farras contidas. A epidemia segurou a índole folgazã das massas. O carnaval abrirá a catarse nacional. Estruturas de consolação descerão dos céus à terra para agasalhar a farra coletiva. Um carnaval sem excessos para todos. (Se existe carnaval contido... rs).
Fecho a coluna com a gloriosa Paraíba.
Traçando o ingrês...
Brejo das Freiras é uma Estância Termal nos confins da Paraíba, perto de Uiraúna e Souza. Trata-se de um lugar para relaxamento e repouso. O governo da Paraíba tinha (não sei se ainda tem) um hotel, com uma infraestrutura para banhos nas águas quentes. Década de 70. Apolônio, o garçom, velho conhecido dos fregueses da região, recebe, um dia, um hóspede de outras plagas. Pessoa desconhecida. Lá pelas tantas, quase terminando a refeição, o senhor levanta a mão, chama Apolônio e pede:
- Meu caro, quero H2O.
Susto e surpresa. Anos e anos de serviços ali no restaurante e ninguém, até aquele momento, havia pedido aquilo. Que diabo seria H2O? Apolônio, solícito:
- Pois não, um instante!
Aflito, correu na direção da única pessoa que, no hotel, poderia adivinhar o pedido do hóspede. Tratava-se de Luiz Edilson Estrela, apelidado de Boréu (por causa dos olhos grandes de caboré), empedernido boêmio, acostumado aos salamaleques da vida.
- Boréu, tem um senhor ali pedindo H2O. O que é isso?
Desconfiado, pego sem jeito, Boréu coça o queixo, olha pro alto, tenta se lembrar de algo parecido com a fonética e, desanimado, avisa:
- Apolônio, sei não. Consulte o Freitas.
Freitas era o diretor do Grupo Escolar, o intelectual da região. Localizado com urgência, o professor tirou a dúvida no ato:
- H2O é água, seus imbecis. Quer dizer água.
Apressado, Apolônio socorreu o freguês com uma jarra do líquido. Depois, no corredor, glosando o feito, gritou em direção a Boréu:
- Ah, ah, ah, esse sujeito achava que nós não sabia ingrês.... Lascou-se!