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Porandubas nº 781

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Atualizado às 07:45

Cuidado com os semáforos apontando para a esquerda ou para a direita. E se estiverem todos juntos?

Abro com uma historinha sobre semáforos.

Os quatro semáforos

Certo prefeito de Santa Rita do Sapucaí, nas Minas Gerais, ao ver nomeado um amigo para comandar o DETRAN, correu a Belo Horizonte, e não se fez de rogado. Foi logo pedindo:

- Amigo, me arranje umas sinaleiras para minha cidade. Vai ser o maior sucesso. Vai ajudar muito a minha popularidade.

O diretor, tomado de surpresa, ante tão inusitado pedido, procurou administrar a euforia do prefeito, mas não tinha como escapar à pressão:

- Compadre, está difícil arrumar esses aparelhos. Tenho de fazer uma grande reforma aqui na capital. Mas vou me esforçar para lhe arrumar quatro semáforos. Mas, por favor, não espalhe. Insisto: não espalhe.

E assim foi. Ao chegar a Santa Rita, um mês depois da entrega, ficou embasbacado. Viu os quatro semáforos colocados no mesmo lugar: o centro da cidade. Perguntou ao alcaide: "por que você mandou colocar todos eles naquele lugar"?

Sorriso no canto da boca, o prefeito respondeu:

- Ora, compadre, você esqueceu? Me lembro bem: você bem que me pediu para não espalhar os faróis.

  • Panorama

Para onde?

O país caminhará em que direção? Para frente, para trás ou para os lados? Óbvio: caminhar para a frente é avançar na trilha, para trás é voltar, retroceder, e andar de lado significa permanecer na mesma posição, movendo os passos sem sair da linha horizontal.

O bem e o mal

Lula e Bolsonaro podem conduzir o país por qualquer uma dessas trilhas, afastando-se da dualidade entre o bem e o mal, erguendo a bandeira do progresso e da harmonia social ou seria isso um sonho? Terão envergadura para assumir compromissos com a ordem democrática e, mais que isso, a férrea determinação de inserir o Brasil na rota do futuro, meta que vai além do rol de promessas mirabolantes de campanha?

Perfil que o Brasil quer

O governante que o Brasil precisa deve assumir, de maneira clara, a defesa dos preceitos constitucionais, a partir dos direitos individuais e coletivos, a liberdade de expressão e a instauração de políticas voltadas para a pluralidade, a diversidade e a causa ambiental. E preservar o que de bom já foi feito em administrações passadas.

Lula

A banda de Luiz Inácio o considera autêntico defensor da democracia, por sua jornada de lutas contra a ditadura e por sua identificação com as demandas das massas carentes. Hoje, ainda é visto como extensão do socialismo clássico.

Bolsonaro

Já Bolsonaro lapidou seu perfil nos fornos dos anos de chumbo, servindo ao Exército, chegando ao posto de capitão. Na política, tornou-se um ícone da direita conservadora, expressando apoio à tortura e aos torturadores. O fiel soldado extremista acabou sentado na cadeira presidencial, na esteira de escândalos que assolaram o terreiro petista.

O passado e o futuro

O passado, desse modo, emerge como gigantesca sombra que acolhe ambos. Dessa textura, extrai-se a questão: não é possível passar uma borracha no passado. As pessoas mudam, mas certos valores continuam a balizar sua índole. Tem sentido votar e/ou rejeitar um candidato por feitos ou desfeitos de ontem? Sim. Mas o passado não pode ser apenas a chave da porta do poder. Urge saber o que pensam, hoje, os contendores, sob a crença de que alguns fenômenos do passado se tornaram obsoletos.

Os radicais

É claro que as bandas raivosas e ensandecidas, que atuam como tuba de ressonância dos candidatos, não têm interesse em resgatar o grande discurso, em superpor o substantivo sobre o adjetivo rancoroso. O ódio, a revanche, a falsidade são armas da campanha, usadas como anzol para fisgar eleitores incautos. Precisamos tirar da agenda os velhos cacoetes, o "nós e eles" e o "eles e nós". Lula precisa ouvir o sussurro das ruas e entender que já não basta construir muros na sociedade ou igrejinhas para o PT. Se quer consolidar uma frente ampla em defesa da democracia, deve acenar com a bandeira da união, da paz social e do progresso. Muito cuidado com o furo do teto de gastos e o controle da imprensa, coisas que integram a cartilha lulista.

Os tempos de chumbo

Bolsonaro não pode avocar as pérfidas ações dos tempos de chumbo, atraindo as massas com uma lengalenga que lembra a tensão da Guerra Fria, quando o lema era: "comunistas comem criancinhas". Os tempos são outros. Jair, que se diz amigo de Vladimir Putin, deve melhorar a retórica destrambelhada e assumir postura condizente com a liturgia do cargo. Cuidado com o assistencialismo populista, herança do passado e isca de pesca eleitoral. Luis Inácio: Venezuela, Cuba, Nicarágua ou Coréia do Norte são sistemas fracassados. Longe de serem alçados ao altar de referências. Aos dois candidatos, um conselho simples: interpretem as mensagens que o eleitor transmitiu com seu voto. Vejam que o 2º turno foi uma opção para analisar melhor os pleiteantes.

O que as massas esperam

As massas querem conforto, segurança, educação, serviços públicos de qualidade. Pergunte-se a um anônimo na multidão: "o senhor é de esquerda ou de direita"? Responderá com cara de espanto: "Como"? Só uma fração da comunidade é enrolada no lençol ideológico. Nesse momento, o que está em jogo em nossas plagas é a meta de proporcionar um PNBF maior (Produto Nacional Bruto da Felicidade) para o bem da coletividade. Queria ver pesquisas sobre a opção do eleitor - esquerda, direita, centro. Seria bem provável que apontasse para o bolso e para a barriga.

Para Lula ganhar

Precisa manter a estabilidade e aumentar seus votos em MG e no RJ. Ganhou em São Paulo e precisa manter os índices. Aqui e no Nordeste, onde mostrou uma distância de mais de 40% para Bolsonaro. Lula ganhou importante apoio de Waguinho, prefeito de Belfort Roxo, na Baixada Fluminense. E precisa Lula melhorar sua posição no Norte e no Centro-Oeste.

Simone como voz

A voz de Simone Tebet é crível. Por isso, em São Paulo ela poderá atrair mais votos para Lula. Mas sua atuação mais forte deverá ser no Centro-Oeste, onde ela atua. Simone sai maior da campanha do que entrou.

Os votos de Ciro

A maior parte vai para a sacola de Lula, a menor para o bornal de Bolsonaro. Ciro será um grande consultor depois das eleições.

A abstenção

O preparado consultor Antônio Lavareda faz o alerta: olhem a abstenção, olhem a abstenção. Concordo com o amigo. Quanto maior, pior para Lula. A recíproca é verdadeira. Os Institutos não aferem abstenção. No Nordeste, contingentes carentes fogem mais às urnas.

Estabilidade

A essa altura, ainda não dá para dizer quem ganha. Distância entre 6% a 10% entre um e outro.

Voto duplo

Tirar um voto de um adversário vale por dois. O que chega aumenta o total dos votos de um bornal e diminui do outro. Assim, ganhar dois milhões de votos é ganhar quatro.