Abro a coluna com uma historinha das Minas Gerais.
No confessionário
Numa cidadezinha de Minas, Padre Elesbão estava esgotado de tanto ouvir pecados, ou, como dizia, besteiras. Decidiu moralizar o confessionário. Afixou um papelão na porta da Igreja, dizendo:
O Vigário só confessará:
2ª feira - As casadas que namoram
3ª feira - As viúvas desonestas
4ª feira - As donzelas levianas
5ª feira - As adúlteras
6ª feira - As falsas virgens
Sábado - As "mulheres da vida"
Domingo - As velhas mexeriqueiras
O confessionário ficou vazio. Padre Elesbão só assim pode levar vida folgada. Gabava-se:
- Freguesia boa é a minha... mulher lá só se confessa na hora da morte!
(Leonardo Mota em seu livro Sertão Alegre)
- Panorama
Sinais das pesquisas
Como temos escrito, resultados de pesquisas exibem sinais trocados. Há duas semanas, Bolsonaro aparecia diminuindo a distância para Lula. Empuxado pelos impactos do Auxílio Brasil, Vale Gás e dinheirama dos candidatos, alocados no orçamento eleitoral (R$ 40 bilhões), a tendência seria a de crescer mais ainda e se aproximar de Lula. Porém, no início desta semana, aparece a pesquisa BTG/FSB, mostrando a hipótese de Lula liquidar o pleito no 1º turno. Lula subiu quatro pontos com a desistência de André Janones. E Bolsonaro teria estagnado. Alerto: muita água correrá por baixo da ponte, com possibilidades de cheia e pororoca. O Senhor Imponderável está à espreita.
O medo
O medo balizará o sistema decisório. Lembro os quatro instintos do ser humano, descrito por Pavlov: combativo, nutritivo (ambos ligados à conservação do indivíduo); e os impulsos sexual e paternal (ligados à preservação da espécie). O medo faz parte do primeiro, pois o ser humano luta para afastar os riscos; a necessidade de garantir as boas condições do estômago faz parte do segundo impulso, o nutritivo. Serão esses dois primeiros que balizarão o processo decisório.
Rejeição
A rejeição é um fator a se considerar no processo decisório. Lula, com 44% de intenção de voto, tem 33% de rejeição. Bolsonaro tem 32% de intenção de voto, mas 46% de rejeição, segundo última pesquisa do Ipec. Em São Paulo, Fernando Haddad (PT) lidera com folga a intenção de voto, com 29%, mas tem 32% de rejeição. Seus adversários, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro, e Rodrigo Garcia (PSDB), governador, carregam, respectivamente, 12% e 9% de intenção de voto, com rejeição de 12% (Tarcísio) e 11% (Rodrigo).
Duas correntes
Os analistas brigam com as hipóteses. Uns defendem a ideia de que os programas da teia social (Auxílio Brasil, Vale Gás etc.) já não alavancam o candidato governista, eis que os eleitores os consideram moeda eleitoral. Outros acham que os programas de distribuição de renda ajudam, sim, o candidato Bolsonaro. Minha análise. As massas carentes sentem-se aliviadas e recompensam o candidato. Mas certa parcela das margens, influenciada pelo meio da pirâmide, já não entra nessa onda. Votará com Lula ou outros (as) candidatos (as).
"Maria vai com as outras"?
Os tempos do "Maria vai com as outras" (conceito ultrapassado) são outros. A racionalidade altera o processo de decisão do eleitorado. A razão puxa as ferramentas da comparação de perfis; a autonomia, que carrega a vitamina da autoestima; o sentimento de pertinência, que faz o eleitor se considerar dono de seu destino e de sua individualidade. Essa carga valorativa mantinha seu habitat no meio da pirâmide social. Nos últimos tempos, porém, desceu alguns degraus em direção à base da pirâmide.
Sombra esgarçada
O candidato enfrenta um grande desafio: fazer chegar sua identidade aos eleitores. Identidade é um composto de pensamentos e ideias, experiências, história, atitudes e valores (plano semântico); e maneira de se vestir, de falar, de gesticular (plano estético). Identidade se ampara no sufixo idem (do latim), que significa semelhante, igual. Identidade, portanto, é a verdade da pessoa. Já imagem é a sombra da identidade, a projeção. Quando a sombra está muito distante da pessoa, cria-se uma dissonância. A imagem não corresponde à verdade. Por isso, candidatas e candidatos, procurem ajustar as imagens que desejam transmitir aos eleitores à identidade.
A campanha
Começou, ontem, oficialmente a campanha de rua, mesmo que os candidatos tenham burlado a lei e iniciado, antes, o pedido de votos. Cumprirão intensa agenda nas regiões, principalmente em bolsões de maior densidade eleitoral. Alguns fazem a campanha nos moldes tradicionais, sem enxergar os novos fenômenos que balizam o eleitorado, dentre os quais seleciono os seguintes.
Os novos polos de poder
A organicidade social faz com que as massas se fragmentem em grupos sociais com distintos interesses, diferentes demandas. Claro, prioridades nas áreas de saúde, educação, segurança, mobilidade, emprego são as mesmas para todos. Esses grupos, reunidos no entorno de categorias profissionais, constituem os novos polos de poder no país. Uso uma imagem: são ilhas circundantes de um arquipélago. Os candidatos, observa-se, trombeteiam discursos genéricos.
Defesa de categorias
O imenso contingente de profissionais liberais - médicos, engenheiros, economistas, pequenos e médios empresários, comerciantes, proprietários rurais, entre outros, - reparte-se em setores, criando fortalezas de defesa e ataque, geralmente sindicatos. Grupos em defesa de gênero, de raça e de cor, se multiplicam. O empoderamento se insere na representação das mulheres, em defesa da negritude, de integrantes da LGBTQIA+, gerando pressão junto às instituições do Estado. Trata-se do poder centrípeto fazendo pressão sobre o poder centrífugo. Os candidatos têm propostas para essas categorias?
A estudantada
Eis aqui um grupo que está completamente solto e disperso: os estudantes. Nas últimas décadas se afastaram da política, abrindo imenso buraco entre a classe estudantil e as esferas do poder. Ante a polarização que acirra ânimos, a estudantada ouviu os berros e urras, dando um avançado passo em direção à via política. Os jovens de 16 a 18, que ganham direito de voto, se farão mais presentes às urnas. Os candidatos estão conscientes sobre a nova moldura estudantil?
As mulheres
Eleitoras sobem degraus na escada do empoderamento. Chegam a 53% do eleitorado brasileiro. E dentro desse universo, também se repartem em territórios. A partir das donas de casa da base da pirâmide, que sentem os efeitos corrosivos da inflação sobre o parco dinheiro da família, as mulheres trombeteiam seus direitos, clamam por igualdade em todos os espaços da vida produtiva. Há uma miríade de organizações não-governamentais tocadas por mulheres. E no setor evangélico, sua voz chega aos lares mais modestos, sob o eco de um discurso messiânico. Bolsonaro tem como âncora, a mulher Michelle.
Proximidade
Será um elemento definidor de voto. O candidato que se mostrar, provar e comprovar sua proximidade com o eleitor, - bairro, cidade, região -, terá boas chances de ser bem votado.
A carta
A Carta em Defesa da Democracia, lida nos espaços da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, em São Paulo, deixou a hipótese de golpe no próximo 7 de setembro bem distante da viabilidade. Numa régua de 0 a 10, caiu de 4 para 1.
Fake news
As fake news inundarão os vãos e desvãos da campanha. Não sigo a interpretação da maioria dos analistas. Em minha visão, são armas do arsenal dos candidatos e servirão mais para consolidar as convicções das bases adversárias do que para capturar votos. A polarização se acirra, mas não atrairá novos eleitores.
Moraes
Alexandre de Moraes tomou posse, ontem, na presidência do TSE. Será um dique para conter as marés vazantes dos excessos de candidatos e discípulos de suas correntes. Barreira de contenção.
Vitória no 1º turno
Pesquisas de diferentes institutos mostram grande folga de ACM Neto (União Brasil) na Bahia. Probabilidade de ganhar a eleição no primeiro turno é de 95 na régua que vai de 0 a 100. É o que deduzo desta pesquisa que o Instituto Paraná Pesquisas acaba de me mandar. Obrigado, Murilo Hidalgo.
Duas mulheres
Uma das disputas mais acirradas para o Senado se dará no Distrito Federal envolvendo duas ministras do governo Bolsonaro: Flávia Arruda (PL), apoiada pelo presidente e integrante de seu partido, e Damares Alves (Republicanos), que contaria com o apoio de Michelle Bolsonaro, primeira-dama. Flávia lidera hoje a intenção de voto, com 36%, enquanto Damares tem 15%.
Indicadores de peso
No maior contingente eleitoral, São Paulo, que tem 36 milhões de votos, Lula lidera com 38%, enquanto Bolsonaro ostenta 28%. Em Minas Gerais, com mais de 16 milhões de votos, painel do Brasil de acordo com a tipologia eleitoral, Lula lidera com 40%. Já Bolsonaro tem 35% de preferência. Em minha visão, esses dois Estados definirão o vencedor.
Segundo turno
Reitero: a campanha deverá entrar numa segunda rodada. A ocorrer dia 30 de outubro. Contar com o tal do voto útil para liquidar a campanha no primeiro turno é sonho petista.