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Porandubas nº 768

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Atualizado às 07:23

Abro a coluna com o folclore político de Minas Gerais e fecho com uma historinha do Piauí, onde, em 1986, coordenei a campanha de um candidato ao governo do Estado.

Proibindo eclipses

O coronel Zé Azul, chefe político de São Gonçalo do Abaeté, em Minas, era candidato a prefeito pela UDN. O calendário marcava: vésperas de um eclipse do sol que a imprensa vinha prevendo para começo do ano seguinte, como o mais forte já visto no Brasil. O medo generalizou-se. Espraiavam-se relatos de crianças que iam nascer defeituosas, galinhas que deixariam de pôr ovos, cabritos que não mais berrariam e a cachaça que ficaria envenenada. No dia 1º de outubro, o coronel Zé Azul fez o último comício da campanha e acabou com um juramento sagrado:

- Pode ser que, na prefeitura, a partir de janeiro, eu não consiga fazer tudo que pretendo por esta terra. Mas juro para vocês que meu primeiro decreto será proibir definitivamente eclipses em São Gonçalo do Abaeté.

Ganhou a campanha. No Brasil, candidatos ainda continuam com coisas desse gênero.

Panorama

O estuprador

Um crime que desafia os compêndios da criminalidade. Um médico, um profissional que jura defender a honra, a ética e a moral, comete um ato de barbárie contra uma parturiente. O anestesista exagerava nas doses de sedação. E foi flagrado em uma cena horripilante. Pena de 15 anos de prisão? É pouco, muito pouco, se for essa a condenação.

Bilhões de sóis e estrelas

O terrível acontecimento no Paraná ocorre no momento em que a sociedade mundial contempla, embasbacada, a visão de outras galáxias, captada pelo telescópio James Webb, da Nasa, o mais poderoso que já se construiu. Bilhões de sóis e estrelas esperam ser descobertos. Um longo passeio por outros espaços será iniciado. O futuro começa a se mostrar sob a sombra gigantesca da barbaridade que assola nosso planeta.

A tensão aumenta

A polarização ganha volume com o impulso expressivo do presidente Jair. Para quem o duelo das ruas, os tiros e emboscadas farão bem à campanha eleitoral que já está nas ruas. O assassinato de um policial no Paraná é o primeiro ato de uma peça que se estenderá para além de 2 de outubro. O dirigente do PT, apoiador de Lula, morto por um bolsonarista, é o chamariz para uma luta que tende a incendiar o país, se não for contida a tempo.

O bolsonarismo pegou

Não se enganem, leitores (as). A semente da árvore bolsonarista foi plantada e começa a vicejar. Vai se espalhar por aqui e ali, sob o empuxo de grupos radicais que destilarão ódio e violência. Jair Bolsonaro pode, até, perder as eleições, mas seu pensamento vingará. A extrema direita, que se mantinha calada nas últimas décadas, encontrou um ícone, ou como chama, "o mito". As bancadas das extremidades do arco ideológico engrossarão o caldo na próxima legislatura. A conferir.

Nome ainda indefinido

Este analista diverge da maioria dos intérpretes da política, que apostam na eleição de Lula, no primeiro ou no segundo turno. A campanha não está decidida. Temos o restante de julho, e dois meses fatais - agosto e setembro. As águas tumultuadas de 7 de setembro podem servir de pretexto para arrombamento de barragens. Lula e o PT ainda não diminuíram seus altos índices de rejeição.

A cooptação

Bolsonaro também tem alta rejeição. Com desaprovação maior que aprovação. Mas detém o poder da caneta. O Auxílio Brasil será aumentado com mais R$ 200. E cerca de mais dois milhões de pessoas deverão ser incorporados ao programa. A cooptação será intensa. A vantagem de Lula tem diminuído. Algumas pesquisas mostram uma vantagem de menos de 10 pontos. O ar está muito embaçado. Horizontes turvos.

Triângulo das Bermudas

Minha hipótese é de que o vencedor no Triângulo das Bermudas será o comedor das batatas. Sentará na cadeira presidencial. O Triângulo é formado por São Paulo, com cerca de 35 milhões de eleitores; Minas Gerais, cerca de 16 milhões e Rio de Janeiro, cerca de 13 milhões. O total do eleitorado é de aproximadamente de 150.000.000 dos quais 79.224.596 são mulheres e outros 78.444.900 são homens.

O Nordeste

A região tem cerca de 40 milhões de eleitores, assim distribuídos: Alagoas: 2.121.081; Bahia: 10.531.439; Ceará: 6.325.143; Maranhão: 4.583.402; Paraíba: 2.887.698; Pernambuco: 6.515.670; Piauí: 2.388.725; Rio Grande do Norte: 2.401.415; Sergipe: 1.528.448. Luis Inácio detém, hoje, maioria na região. Mas uma incógnita está no ar: como se comportará a base da pirâmide com o Auxílio Brasil? Ao que se sabe, o eleitor das margens carentes ainda atribui a Lula o patrocínio e o mérito do assistencialismo.

Centro-Oeste/Norte/Sul

São as regiões onde Bolsonaro poderá obter vantagem. Hoje.

O mundo revirado

A guerra entre Ucrânia x Rússia está aprofundando um novo eixo geopolítico. Rússia + China x Oeste da Europa + EUA. O mundo dá voltas. O clima de tensão e de desconfiança tende a permanecer. E os conflitos, a ganharem intensidade. Uma nova ordem mundial se apresenta.

Vai e volta

O ex-governador e ex-senador José Roberto Arruda está dando a volta por cima. Deve ressurgir no pleito deste ano. A política é também a arte da ressurreição.

O IMREA

Por trás dessa sigla está um empreendimento dos mais importantes para a vida nacional: O Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - IMREA HC FMUSP. Trata-se de uma entidade do governo do Estado, que objetiva servir às pessoas com deficiência física, transitória ou definitiva, necessitadas de receber atendimento de reabilitação, desenvolvendo seu potencial físico, psicológico, social, profissional e educacional. Centro e referência em reabilitação. Nasceu em 1975.

Linamara

Em 2009, ganhou o status de hoje. conhecido por integrar a Rede Lucy Montoro de Reabilitação. Conta com 11 unidades em funcionamento. Comandado pela experiência e visão empreendedora da professora Linamara Rizzo Battistella. Linamara, para termos melhor ideia de seu conceito, é membro efetivo da National Academy of Medicine dos EUA. Este analista conhece a Instituição e constata a abnegação e o zelo de seus profissionais.

Fecho com a historinha do Piauí.

Que espetáculo de comício

1986. Comício de encerramento da campanha de Freitas Neto (PFL) ao governo do Piauí. Os carros de som anunciavam, desde cedo, o monumental comício de fechamento da campanha. Um espetáculo com showmício da grande cantora Elba Ramalho na praça do Marquês. Na época, as carretas com imensos aparelhos de som saíram do Rio de Janeiro, dez dias antes da data. Mas as fortes chuvas na região atrapalharam o transporte. A lama nas estradas atrasou a chegada. O som chegou quase em cima da hora do comício. Coordenador da campanha do candidato, cheguei ao local um pouco antes para ver o ambiente.

O toró...

Os técnicos se esforçavam para instalar os aparelhos e arrumar os grossos cabos. 18 horas. Um toró (como se diz no Nordeste) começa a cair. A chuva torrencial começou a fazer a festa. Praça lotada. Três mil piauienses pulavam entusiasmados sob a água que caía. As garrafas de cachaça corriam de mão a mão. De repente, um estrondo, seguido de outros. Fogo e fumaça nos cabos. Corre corre dos técnicos e o aviso: "Acabou o som. Não há condição". Não havia aquele tipo de cabo. Elba Ramalho foi logo avisando:

- Está aqui meu contrato. Sem som, não canto.

Conversa daqui, conversa dali, aflição por todos os lados. Depois de muita insistência, ela admite:

- Cantarei uma música, só, e me arranjem um acompanhamento.

Encontraram um cara com um banjo. O povão urrava:

- Elba, Elba, Elba, cadê a Elba ?

Bate, bate, bate, coração...

A cantora saiu de trás. A multidão explodiu. E lá vem a música:

- Bate, bate, bate, coração!

Nem bem terminou a estrofe, Elba parou. Presenciei, ali, uma das maiores aflições de minha vida, um esculacho na multidão:

- Seus imbecis, seus loucos, covardes, miseráveis. Como podem fazer uma coisa dessas?

O que era aquilo? Por que aquele carão? Olhei para o meio da multidão. E vi a cena: um sujeito abrindo a boca de um jumento, enquanto outro despejava nela uma garrafa de cachaça. Foi o toque que faltava para o anticlímax. Quanto mais Elba xingava a multidão, mais apupos, mais vaias. No dia seguinte, Teresina respirava um ar de gozação. O showmício de Freitas Neto foi um desastre. Senti o ar pesado. Pesquisas nos davam 3% de maioria sobre Alberto Silva, candidato do PMDB. Perdemos a campanha por 1%. O desastre virou o clima. Quando faço palestras sobre Marketing Político, costumam me perguntar:

- Professor, qual é o fator imponderável em campanha eleitoral?

Respondo:

- Um jumento bêbado no Piauí.