Começo a coluna pinçando historinhas do ex-governador de MG, o folclórico Newton Cardoso.
Pasteurizar
Preocupado com as notícias de que o leite estava contaminado, Newton pegou um pastel e começou a mexer dentro da xícara. Um assessor perguntou:
- "Por que você está fazendo isso?" Respondeu:
- "Para pasteurizar o leite."
Porquinos
Newton no palanque: "Minas sempre se preocupou mais com a criação de bovinos e equinos. Agora, eu vou cuidar também da criação de porquinos".
Uso o M
Newton, numa entrevista: "Precisamos acabar com a fila do IMPS."
O assessor cochicha:
- "Não é IMPS, é INPS."
- "Nada disso. Desde lá de Brumado que eu aprendi que antes de P se usa M."
Raposa e leão
"Um príncipe precisa usar bem a natureza do animal; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos." Conselho de Maquiavel, que arremata: "não é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las."
Breve leitura
Fevereiro começa com a temperatura eleitoral um pouco mais elevada. A corrida eleitoral ganha volume, os protagonistas se movimentam, o eleitorado começa a tomar pé nas ondas que se formam nos Estados, onde os partidos focam nas composições e alas. Na linha de frente da política, o ator Luiz Inácio continua a ter o maior desempenho no palco, recebendo a maior atenção midiática.
O arco de Lula
É evidente que seu favoritismo chama a atenção dos próceres da política, eis que a ideia que os move é a conquista do poder, custe o que custar. O Centrão não tem tanta certeza de que perfilará ao lado de Jair Bolsonaro até o fim da corrida. Agirá sob os impulsos do pragmatismo, o que abre grandes dúvidas em seus líderes. Isso significa a alternativa de poder se bandear para o lado vencedor, lá mais adiante. Haverá, claro, a correia partidária que segurará os indecisos, mas sempre aparecerá uma saidinha à brasileira, que é a de piscar um olho para a direita, outro para a esquerda. Lula se aproveita dessa tendência para fechar um arco de alianças com os centristas.
A nova carta aos brasileiros
Esta é a nova carta de Lula aos brasileiros: alianças aqui e acolá, diluindo o vinagre petista, que parte considerável do eleitorado se recusa a provar. Com o aceno ao centro e à direita, Lula espera quebrar as barreiras que ainda restam como oposição ao petismo. As massas não estão preocupadas com ideologia, indo ao encontro do perfil que restaure para elas a esperança. Mas os setores médios, integrados por fortes correntes de profissionais liberais, pequenos e médios proprietários, setores da intelligentzia, núcleos da educação e da mídia, executivos da iniciativa privada, entre outros, ainda exibem rejeição ao lulopetismo.
O Busílis
O problema do PT ainda se concentra no território da confiabilidade. Escrevo há tempos sobre o refrão: primeiro, eu, segundo eu, terceiro, eu. Assim raciocina o PT. Tornou-se uma religião fechada. Quem não é petista, é inimigo que merece o fogo do inferno. Os outros é que roubam, praticam ilegalidades. Por quatro décadas, temos visto este manto sagrado cobrindo o PT. Como confiar no fato de que não mais prega a luta rancorosa de classes, a velha clivagem ideológica, a defesa intransigente do regime cubano, o elogio à "democracia" venezuelana? Para efeito eleitoral, o PT é mutante. Porém, e depois? Lula se esforça para retocar as paredes do petismo.
Conservadorismo radical
Já o contraponto é o presidente Jair Bolsonaro, que deseja ressuscitar a polarização de 2018. Sim, teremos uma campanha muito polarizada, em alguns aspectos até mais contundente que a de 2018. É a alternativa que sobra a Bolsonaro: ele e o outro, o outro, representando a maldade e ele, representando o dragão montado no cavalo de São Jorge. Radicalizar, para ele, significa ganhar visibilidade, apresentar-se como o guerreiro que luta contra o comunismo, combate a ciência e defende obscurantismo.
O paradoxo
Eis o paradoxo de nossos tempos: nunca a ciência avançou tanto no campo das descobertas das vacinas, nunca os laboratórios se dedicaram com tanto afinco às pesquisas científicas. Nunca os conhecimentos foram tão repartidos pelos habitantes do planeta. A Sociedade da Informação nos acolhe. No entanto, mesmo vivenciando esse Novo Iluminismo, propagam-se a mentira, as falsas versões, as inverdades, a desinformação. A ignorância se alastra formando camadas de estupidez aqui e alhures. Populistas se aproveitam da incerteza das massas para jogar iscas e atrair os incautos. Esse é o paradoxo desse novo mundo que se descortina.
A construção da racionalidade
Tempo de eleição é tempo de emoção. O engajamento de um eleitor se dá, inicialmente, pelo coração. O eleitor descobre em seu candidato preferido elementos que os torna próximos, designados pela psicologia como identificação e projeção. Os candidatos escolhidos são aqueles que mais se identificam com as demandas dos eleitores, aqueles que são os mais aptos a suprir as carências dos conjuntos sociais. Esse processo tem muito a ver com emoção. Mas também há uma dose de racionalidade, que serve para efeito de comparação entre perfis e decisão de voto. A construção da racionalidade emerge, não com tanto ímpeto, mas começa a brotar nas searas sociais.
A terceira via
Diante dessa moldura, pode ocorrer uma decisão coletiva que tenha como foco uma via que se afaste do único corredor do pleito. Essa via dependerá das circunstâncias, entre elas, o esgotamento dos palanques radicais, a exaustão de discursos polarizados, a fragilidade da economia, menos dinheiro no bolso das massas, a estética da miséria aumentando seus pontos de visibilidade.
Miséria
A moldura da miséria se apresenta na paisagem destroçada que se torna mais nítida nesses tempos de pandemia e chuvas torrenciais que matam famílias e destroem seu habitat. A pandemia continua subindo ao teto, com a variante ômicron massificando a contaminação. Mas o cidadão já não tem tanto medo como na primeira onda da variante delta. Já a paisagem de desolação e destruição por causa das chuvas é a estética que toma conta dos meios de comunicação. O problema será jogado no colo dos governantes, que mostram suas caras nos espaços destruídos, mas não foram capazes de implantar programas de prevenção.
A economia
Já a economia aparece com dados que sinalizam soerguimento, recuperação. As contas públicas reagem com um saldo positivo de mais de R$ 64 bilhões. Os dados do PIB tendem a subir um pouco. O emprego começa a reagir, quadro mostrado pelo aumento no número de carteiras de trabalho assinadas. O tal auxílio Brasil acalma os ânimos das populações mais carentes. Ou seja, a economia se mostra reagindo bem às intempéries.
Segundo turno
Esse é o desenho que anima Bolsonaro e suas bases. Daí sua confiança em entrar no segundo turno. Lula sabe que se for para uma segunda rodada, com a economia em recuperação, será difícil levar a melhor. As pesquisas, hoje, o apresentam como favorito. Hoje, repito. Tendências eleitorais são como nuvens. Mostram figuras diferentes de minuto a minuto. Mas este analista acredita que se um novo figurante entrar em um segundo turno, com ele estarão as chances de vitória.
Fecho a coluna com uma observação sobre o marketing de campanha.
Marketing não ganha campanha
Marketing não ganha campanha. Quem ganha campanha é o candidato. Marketing ajuda um candidato a ganhar a campanha, ao procurar maximizar seus pontos fortes e atenuar seus pontos fracos. O profissional de marketing é importante, na medida em que funciona como um estrategista a definir linhas de ação, orientando a escolha do discurso, ajustando a linguagem, definindo padrões de qualidade técnica, sugerindo iniciativas e ponderando sobre o programa do candidato, os compromissos e ações a serem empreendidas. Esse figurante precisa, sobretudo, ser um profissional com visão sistêmica abarcando todos os eixos do marketing. Que não entenda uma campanha apenas como apelo publicitário, proposta de programa televisivo. Que seja capaz de visualizar os novos nichos de interesse de uma sociedade exigente, crítica e sensível aos mandos e desmandos.
O protagonismo capenga
Não adianta um bom marketing se o candidato é um boneco sem alma. Candidato não é sabonete. Tem vida, sentimentos, emoção, tristeza e alegria. Muita coisa depende dele, de sua alma, de seu fervor, de suas crenças, enfim, de sua identidade. Protagonistas da política não são produtos de gôndolas de supermercado. As inserções publicitárias na mídia até podem exibir um candidato de forma genérica, por falta de tempo para expor conteúdo. Mas o eleitor não se conformará com meros apelos emotivos e chavões antigos, como aqueles que embalam perfis saturados - candidatos beijando crianças e apertando a mão de pessoas, tomadas em câmera lenta mostrando o candidato no meio do povo.