Abro com uma historinha dos quatro "freis".
"Quatro freis"
Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história. E lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na Paraíba. Dentro, dois frades: Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto a do "padim" Ciço (Padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro:
- Esse carro disimbestado não tem frei?
Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo: disimbestado e frei (em vez de freio). Resposta lacônica na ponta da língua:
- Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro: frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião.
Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela.
As águas vão rolando
Dezembro se abre sob o signo de reversão de expectativas. O comércio não ganhou o que esperava no Black Friday. Muito menos. O Natal se apresenta acanhado. Sem os signos, os papais Noéis, sem as árvores e cores vermelhas que marcam o evento. A avenida Paulista está escura à noite. Tudo parece triste. Claro, veem-se bares cheios e ouvem-se barulhos. Mas o sentimento é de pasmaceira. Dolência.
A política tensa
O Congresso Nacional desafia o STF e continua a esconder os nomes dos parlamentares com emendas no Orçamento Secreto. O ambiente não respira ares de normalidade. Uma PEC mudando a antiga PEC da bengala, aprovada anos antes, agora reduzindo a idade de aposentadoria para 70 anos, ameaça acirrar os ânimos. A ministra Rosa Weber é o alvo.
Moro dá o tom
Quem deu um tom mais elevado na orquestração política foi o ex-juiz Sergio Moro, lançado candidato pelo Podemos. Fez um discurso plural. Agitou a cena. Já larga com 12 pontos. Pode recortar a banda da direita que apoia Bolsonaro, principalmente os arrependidos. E abriu conversa com as Forças Armadas. O general Hamilton Mourão, o vice de Bolsonaro, recebeu o aviso do próprio: arrume um paraquedas auxiliar.
Santos Cruz
O general Santos Cruz é ligeiro no gatilho. Dissera, semana atrás, a este consultor: "voto em Moro. Saúde". Ora, uma porta aberta para fazer ponte com as Forças Armadas. Cruz é respeitado e Mourão já presidiu o Clube dos Militares. Mourão está tecendo o seu paraquedas. Pode vir a ser candidato pelo Podemos a senador pelo RJ ou DF. O general tem se comportado com muita destreza no campo da articulação. Santos Cruz e Mourão são respeitados.
A chuva de pré-candidatos
Começou a chover forte na seara dos pré-candidatos. Vejam: Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes, João Doria, Luiz Henrique Mandetta, Rodrigo Pacheco, Sergio Moro, Alessandro Vieira, Simone Tebet, Luiz Felipe D'Ávila e André Jonanes. Claro, alguns querem apenas visibilidade para articular e ganhar espaço e força na parceria. Haverá um afunilamento.
Pacheco e Tebet
Dois nomes podem crescer com maior visibilidade. Rodrigo Pacheco, candidato do PSD de Kassab e presidente do Senado. Moderado, fluente, não usa linguagem tatibitate. E Simone Tebet, filha do ex-senador Ramez Tebet, querido amigo falecido. Simone teve bom desempenho na CPI da Covid-19, fala bem e tem o apelo simbólico da mulher. É papo furado dizer que mulher não vota em mulher. Os tempos são outros. O voto está subindo do coração para a cabeça.
Doria e sua meta
João Doria ganhou as prévias do PSDB, mas terá de unir as bandas divididas do partido. Não será fácil. João dá a ideia de um trator que passa por cima de quem não se alinhar com ele. É um governante determinado. E voluntarioso. O PSDB vive uma crise ideológica que vem lá de trás. Perdeu sua identidade nos corredores lamacentos da pasteurização política.
Eduardo Leite
O governador do RS, Eduardo Leite, teve um bom desempenho nas entrevistas que deu durante as prévias do PSDB. Surpreendeu pela fluência e ponderação.
Ruy Ohtake
Esta coluna presta suas homenagens a um dos maiores arquitetos do Brasil: Ruy Ohtake. São-paulino de coração, como este escriba, tem marca registrada e conhecida aqui e alhures: Hotel Unique e complexo de Cultura em Barueri, entre outros. Filho da artista plástica Tomie Ohtake e irmão do também arquiteto Ricardo, Ruy nasceu em São Paulo, em 27 de janeiro de 1938, e cursou arquitetura na FAU-USP. Formando-se em 1960, teve seu trabalho reconhecido com inúmeros prêmios, como o Colar de Ouro do Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB (2007).
Amor próprio
Um maltrapilho dos arredores de Madrid pedia esmolas com grande dignidade. Um transeunte lhe disse: "Não tem vergonha de exercer essa infame atividade quando pode trabalhar?" - "Senhor, respondeu o mendigo, peço-lhe esmola e não conselhos"; e tendo dito isto, deu-lhe as costas, com toda a empáfia castelhana. Era um mendigo orgulhoso esse; pouca coisa bastava para ferir sua vaidade. Por amor de si mesmo pedia esmola; e ainda por amor de si mesmo não permitia que lhe fizessem qualquer reprimenda. (Voltaire)
Caindo de fome
A manchete de um grande jornal, esta semana, causou comoção: pessoas na fila de postos de saúde desmaiam de fome. Um choque. A morte à espreita dos que têm fome. E tem gente dizendo que tudo está a mil maravilhas.
A economia como locomotiva
Este analista da política não se cansa de lembrar sua equação: BO+BA+CO+CA. Quem vai puxar o trem das eleições é bolso cheio, barriga satisfeita, coração agradecido e cabeça votando a favor de quem proporcionou o bem-estar. A recíproca é verdadeira. O PIB da Felicidade terá de subir muito para Bolsonaro ganhar. Paulo Guedes é a peça-chave. Suas ferramentas poderão abrir ou fechar as portas da reeleição.
PL arrisca
O PL de Valdemar da Costa Neto, o boy, é agora o PL de Bolsonaro. E de um montão de gente que vai se filiar ao partido. Um risco. A eleição de 2022 não será a mesma de 2018. E se as coisas derem para trás? Bolsonaro quer levar junto com ele os ministros Fábio Faria, Onyx Lorenzoni, Rogério Marinho, entre outros. E terá candidatos novos em alguns Estados. A política é uma nau sujeita a borrascas. A bonança nem sempre aparece no momento desejado.
Fecho com uma historinha de Zé Abelha.
As três pessoas
No confessionário, Monsenhor era rápido. Não gostava de ouvir muita lengalenga. Ia logo perguntando o suficiente e sapecava a penitência que, sempre, era rezar umas ave-marias em louvor de N. S. do Rosário. Fugindo ao seu estilo, certa feita ele resolve perguntar ao confessando quantos eram os mandamentos da lei de Deus.
- São 10, Monsenhor.
- E quantos são os sacramentos da Santa Madre Igreja?
- São 7, Monsenhor.
- E as pessoas da Santíssima Trindade, quantas são?
- São 3, Monsenhor.
Monsenhor, notando que o confessando só sabia a quantidade, pergunta rápido:
- E quais são essas pessoas?
A resposta encerrou a confissão:
- As três pessoas são o senhor, o Dr. Didico e o Dr. Zé Augusto.
(Historinha contada por José Abelha em A Mineirice).