Abro a coluna com "causos" do Pará. Um pouco de humor para adoçar nossa amargura nesses tempos turbulentos.
E as crianças?
O Pará já teve políticos muito engraçados. Um deles, João Botelho, foi interventor, deputado e constituinte. Certo dia encontra um cabo eleitoral:
- Como vai? E a senhora sua esposa? E as crianças?
- Tudo bem, deputado. Minha mulher está ótima. Mas, por enquanto, é só um menino, certo?
- E eu não sei que é um filho só? Mas é um menino que vale por muitos. Então, como vão os meninos?
Outra figura folclórica do Pará foi Magalhães Barata, revolucionário em 1924 e 1930, interventor, constituinte em 46, senador e governador. Tinha ele um candidato a prefeito de Santarém. Mas o diretório local do PSD queria outro. Ia perder. Foi lá, conversou, pediu votos. Não teve jeito. Perdeu a eleição no diretório: 15 a 5. Pegou o microfone:
- Meus senhores, pela primeira vez a minoria vai ganhar. Está escolhido o candidato que perdeu.
A plateia bateu palmas. O velho Barata encerrou os trabalhos:
- E, pela primeira vez, a minoria ganhou por unanimidade.
Sinais de distância
Tudo de acordo com o esperado. O Centrão começa a dar mostras que não é um bloco tão firme como alguns imaginam. É como um iceberg imenso descolando de uma geleira. Afasta-se suavemente do lugar e, ao sabor de ventos e vendavais, procura um lugar no oceano, agarrando-se a outros imensos pedaços de gelo. O Centrão não está muito contente com o governo Bolsonaro. O presidente da Câmara não conseguiu que sua indicada, dra. Ludhmila Hajjar, fosse escolhida para o Ministério da Saúde. A pandemia avoluma caixões nos cemitérios todos os dias. Cerca de três mil mortos por dia. Lula dá sinais de que ambiciona voltar ao Palácio do Planalto. E o Centrão passa a peneira em todos esses eventos. Para complicar, aparece Lula com seu discurso moderado, uma nova modalidade de Carta aos Brasileiros, expediente usado em tempos passados, quando cooptou o empresariado.
E as fatias de poder?
Alguém poderá objetar: e as fatias de poder já entregues aos partidos que compõem o Centrão? E as conversas intermitentes que o líder do Centrão, senador Ciro Nogueira, mantêm com o presidente Bolsonaro? Mas outros começam a raciocinar: que adianta acumular poder hoje se amanhã tudo poderá virar pó? O Centrão olha à direita, à esquerda, e avalia o espaço que ocupa. Seguirá em 2022 a onda do vento, a dinâmica da política. Vê, por exemplo, que o presidente cede pouco aos apelos para amainar o discurso radical e tomar decisões mais duras para dominar o diabo que poderá matar 500 mil brasileiros em curto espaço de tempo. O Centrão não é suicida. Pragmático, será parceiro do protagonista que melhores condições reúna para chegar ao pódio em 2022.
Guedes mais fraco
Paulo Guedes, comandante da economia, vê seus quadros voltando ao mercado: mais de 15. E essa debandada significa frustração de economistas de proa, insatisfeitos com o andamento da carruagem, decepcionados com o fato de que é difícil ganhar batalhas na arena de um governo que parece tatear na escuridão. Some-se a tudo isso o fato de que o tom do governo mostra desafinamento com os toques da banda de música das faixas sociais, à espera de avanços. As margens aguardam o auxílio emergencial. E haverá muita grita quando perceberem que seus bolsos continuarão vazios, mesmo com as parcelas do adjutório.
Articulação capenga
É evidente o esforço do ministro da Articulação, general Luiz Eduardo Ramos, para limpar os entulhos do caminho entre as Casas Congressuais e o Palácio do Planalto. A articulação é frágil por se saber que o presidente é de veneta: compromissos são desfeitos, a palavra que vale é a dele, não se subordina às pressões. "Vamos que vamos". Parece ser o refrão governamental, o que dá a entender um estilo improvisado de governar, empurrar de barriga, tampar buracos aqui e ali, sem saber quais os buracos rasos e fundos. Os basistas (que integram as bases do governo) desconfiam do prometido. Ou confiam com um pé atrás.
Desaparecidos
Há ministérios de peso, como o da Educação. Como é mesmo o nome do ministro da Educação? Um picolé de assaí para quem souber. O ministro do Meio Ambiente, por onde anda? O teor polêmico que saía das trombetas de alguns ministros arrefeceu. E se concentrou no protagonista que habita o 3º andar do Palácio do Planalto.
Terceira via
As pesquisas deixam ver um amplo espaço para uma terceira via, um candidato que possa quebrar a polarização entre os protagonistas das margens. Quem, quem, quem? Os atuais que poderiam disputar o lugar da terceira via criaram muitas arestas.
Trajano
A empresária Luiza Trajano, do conglomerado Magazine Luiza, tem mais vocação para estilingue que vidraça. Este analista teve oportunidade de conhecer Luiza em eventos empresariais. Tem a língua bem afiada. Sabe ir ao ponto, o centro da questão. Grande líder. Tirocínio. Não lhe convém entrar na liça de baixarias, truques e emboscadas. Por isso, é crível quando ela arreda a hipótese de compor chapas presidenciais. Seria um trunfo: mulher, bem-sucedida e articulada.
Ciro
Ciro Gomes é uma metralhadora ambulante. Atira bem. Mas seu estilo amedronta. Pode ser um nome a crescer nas margens esquerda e direita do centro.
Vacinação
As vacinas chegam a conta-gotas. Virão, não no ritmo que se espera. Mas milhares de brasileiros ainda morrerão por conta de um cronograma capenga.
O pior
De Jamil Chade, no UOL: "Na pior semana da pandemia no Brasil e sem um cenário de queda no número de novos casos, o país somou 25% das mortes no mundo no período entre 15 e 21 de março. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que, no total, 60,2 mil pessoas foram vítimas da Covid-19 no planeta nesse período -15,6 mil delas apenas no Brasil, país que representa apenas 2,7% da população mundial".
Brasil invade EUA
Desculpe se você se assustou. A variante brasileira da Covid-19 chegou aos EUA sem avisar. Uma invasão não detectada. Desembarcou em Nova Iorque. O caso foi identificado por cientistas do Hospital Mount Sinai, Nova York, e verificado pelo Departamento de Saúde do Wadsworth Center Laboratory. P.S: invasão brasileira nos EUA? Jamais. Só mesmo por meio de doenças.
Efeitos
Resultados projetados para os próximos tempos.
1. Queda no número de mortos e contaminados
2. Tombo nas atividades econômicas
3. Frustração das margens com o auxílio emergencial, pois será bem menor e não dará para pagar nem um terço da cesta básica. Entre R$ 150 e R$ 375 - durante quatro meses; no ano passado, foram pagas cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300.
4. 48 milhões de pessoas serão atendidas pelo auxílio emergencial, contra 68 milhões no ano passado
5. Crescimento do PIB de 3,2%.
Renda básica e vacinas
O Movimento Convergência, que agrega importantes figuras da área econômica, lança ofensiva junto aos Poderes Executivo e Legislativo para viabilizar um programa de renda básica. Os recursos viriam das privatizações e da reforma administrativa, considerada central para reduzir gastos com recursos humanos do Estado. Outro Movimento, reunindo banqueiros e economistas, faz uma Carta Aberta aos Poderes da República cobrando a adoção de medidas efetivas contra a Covid-19. As lideranças parecem despertar da letargia. Estão apavoradas. A carta dos economistas foi rechaçada pelo presidente.
PT e PSDB
Minha querida mãe sempre me dizia: "nunca diga - desta água não beberei". Aprendi o ditado e não me surpreendo com a gangorra da política. Para derrotar Bolsonaro, o PT abre diálogo com o PSDB. Sabemos que, nos últimos tempos, tucanos de alta plumagem fizeram intenso bombardeio sobre Lula e o petismo. Se há certa trégua, hoje, é porque as oposições, dispersas, perceberam que o todo é maior que as partes. A conferir o que ocorrerá na temporada de emboscadas que vai se estender até outubro de 2022.
Visibilidade
O governador do Rio Grande do Sul é destaque entre tucanos. Ganhou boa visibilidade com o recrudescimento da pandemia no Estado. Expressa uma linguagem de bom senso. João Doria continua no marco da visibilidade como "o senhor da vacina brasileira". O governo Federal teve de engolir a realidade da imunização liderada pela vacina Coronavac/Butantã.
10 dias de lazer?
Essa decisão de governantes de juntar os feriados e formar um calendário com 10 dias de folga é considerada uma estratégia para diminuir a circulação de pessoas, evitando aglomerações. O RJ determinou que vai adotar um feriado de dez dias a partir da próxima sexta, 26. Os prefeitos do Rio e de Niterói endurecem medidas. Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas faz o mesmo. Será que vai funcionar? E o ethos do homus brasiliensis, voltado para a farra e a quebra da ordem?
Cena
Hospitais do DF têm corpos armazenados no chão e fila de 400 pessoas esperando leitos de UTI. O Sistema de saúde no Distrito Federal vive situação de calamidade pública. Outros Estados também registram o colapso.
Lei de Segurança
A Lei de Segurança Nacional está defasada. Vem lá de trás. Não condiz com a contemporaneidade. Merece passar pelos filtros dos direitos e deveres. Uma adaptação à realidade fará bem.
Alerta ao Brasil
A pandemia do novo coronavírus somada a uma grave crise institucional fez com que indicadores da Turquia entrassem em pane, alertando para os riscos que grandes interferências podem ter na saúde econômica. A interferência do presidente brasileiro na Petrobras e no BB também deixa os agentes do tal "mercado" com a pulga atrás da orelha.