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Porandubas nº 689

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Atualizado às 08:57

Abro a coluna com a Paraíba.

Aloísio Campos foi candidato a senador três vezes e três vezes foi derrotado por Ruy Carneiro. Em 66, o governador João Agripino encarregou Ivan Machado e Osvaldo Trigueiro do Vale de coordenarem a campanha de Aloísio na capital. Já no fim, planejaram uma grande concentração popular no bairro da Torre, onde o candidato faria o pronunciamento final. Ivan e Osvaldo desdobraram-se. No dia, nove da noite, João Agripino e Aloísio dirigiram-se para o bairro da Torre. Uma decepção. Palanque, luzes, escola de samba, tudo lá, mas povo quase nenhum. Aloísio mandou chamar Osvaldo:

- Tudo bem, Osvaldo?

- Tudo bem, senador. Tudo arrumado, como o senhor mandou.

- Mas, e o povo, Osvaldo?

- Ora, doutor, eu consegui escola de samba, armei o palanque, fiz iluminação, preparei a lista de oradores. Agora, se ainda tivesse de trazer o povo, o candidato era eu.

Não houve comício. Nem voto para Aloísio.

(Causo do grande contador de histórias Sebastião Nery)

A mesma coisa

"Plus ça change, plus c'est la meme chose". A expressão francesa é bastante conhecida: "quanto mais muda, mais é a mesma coisa". Com pequenas alterações, o que assistimos em matéria da campanha eleitoral em curso é um repeteco das coisas antigas: candidatos fazendo promessas, mostrando feitos, alguns tentando fisgar pelo chiste ou gestos toscos, outros disparando acusações indiretas a adversários. A pandemia nem parece que existe. Cenas de candidatos sem máscaras pipocam por todos os lados. E daqui a pouco, no dia 15, estaremos junto às urnas.

O grande eleitor

A Covid-19, tenho repetido, será uma grande eleitora. E no cabo de guerra formado em seu entorno, ela tende a favorecer aqueles candidatos reconhecidamente bem sucedidos na administração da pandemia. A recíproca é verdadeira. A polarização entre simpatizantes do bolsonarismo e seus contrários também estará entre os fatores determinantes do voto, principalmente nas metrópoles e grandes cidades.

A vacina obrigatória

O nosso estágio civilizatório será o pano de fundo do processo decisório. Que estágio temos nós? Racionalidade, de um lado, emoção, de outro, grupos raivosos, contingentes empobrecidos, classes médias que perderam parte de seus bens materiais, setores esclarecidos, intensa organicidade social, esquerda versus direta atuando em espaços da política e... até a questão da obrigatoriedade da vacina. É de arrepiar: vacina com a cor comunista, com a cor liberal, com a cor social-democrata etc. Meu Deus do céu: vacina não tem ideologia.

1 a cada 4 resiste

Cecília Machado, na FSP de ontem, levanta o véu do problema. Escreve ela: "As vacinas contra a Covid-19 ainda estão em fase de testes, mas cresce a desconfiança com relação a elas. No Brasil, 1 a cada 4 brasileiros resiste à ideia de tomar a nova vacina, conta pesquisa do Ibope. Nos Estados Unidos, o problema é ainda mais sério: o percentual de adultos que tomaria a vacina caiu de 72% para 51% de maio a setembro deste ano, segundo pesquisa de opinião do PEW Research Center".

A resistência

Continua Cecília: "Se vacinas fossem 100% eficazes - ou seja, se quem fosse vacinado ficasse completamente imunizado- faria menos sentido se preocupar com a imunização dos outros. Como não são, importa quem deixa de tomar a vacina, pois estes continuam transmitindo, inclusive para quem foi vacinado. De forma semelhante, se fossem 100% seguras, haveria pouca preocupação em torná-las obrigatórias. Como não são, cabe espaço para decisões que ponderam riscos e retornos de forma individual".

200 experiências

Há, hoje, cerca de 200 vacinas que estão testadas nos quadrantes do planeta. Ora, se uma, duas, dez ou vinte se mostrarem eficazes, seria o caso de descartá-las porque receberam insumos de países considerados socialistas, comunistas, esquerdistas? Galileu Galilei deve estar dando gargalhadas ante tal monstruosidade.

2ª onda

A segunda onda da pandemia chegou na Europa. Os índices mostram que a virulência tem sido maior quanto ao número de contaminados, não quanto ao número de óbitos.

STF em ação

A medida de uma democracia contempla a estabilidade de seu sistema normativo. Democracias mais novas costumam abarcar tensões e atritos. E não adianta dizer que isso só mostra que as nossas instituições estão funcionando. Não é bem assim. Viver em estado permanente de tensões entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário mostra que temos muito a caminhar na rota da institucionalização política. Parcela das arengas se arrasta sob a égide da Constituição de 88, plena de direitos e deveres, detalhista e ainda não totalmente desvendada, o que explica o acervo de questões que chegam ao STF. Por exemplo, a Corte vai decidir se tomar vacina contra uma perigosa epidemia é obrigação ou não do cidadão.

Militares "abaixados" I

Os recentes episódios envolvendo os generais Ramos e Pazuello, dois ministros de Estado, tendo o primeiro sido comandante do II Exército, empanaram a imagem da instituição militar. Ramos foi agraciado com a expressão nada elegante de um colega, que pediu a ele para deixar o estilo "maria-fofoca". Mesmo com as desculpas do ministro Salles, do Meio Ambiente, a patada pública no general Ramos deixa marcas fortes.

Militares "abaixados" II

Já Pazuello foi publicamente desautorizado pelo presidente a fazer qualquer negócio com a China. Claro, o negócio seria a aquisição da vacina que aquele país e o Instituto Butantã, em parceria, tentam produzir e oferecer ao mercado brasileiro em primeira mão. O Ministério da Saúde havia se comprometido de adquirir 40 milhões de doses. Ficou feio para o ministro da Saúde receber um puxão de orelhas sob o olhar perplexo de governadores e da própria sociedade. Por quê? Porque quem está liderando as tratativas com a China é o governador João Doria, eventual adversário de Bolsonaro em 2022.

E os partidos, hein?

O maior número de candidatos a vereador é do MDB, que junto ao DEM, ao PSDB e ao PSD tem condições de alcançar boa performance eleitoral. Dependendo dos resultados, os três grandes partidos deverão ser um pêndulo na formação partidária, ou seja, poderão formar uma frente com vistas a 2022. O Centrão pode se desorganizar se essa equação for elaborada. O fato é que a movimentação partidária será intensa.

TV Globo em baixa?

Ouve-se por todos os lados. O Grupo Globo atravessa uma fase das mais críticas de sua existência. A entrevista do grande ator Antônio Fagundes na revista Veja foi um duro recado: a TV Globo está perdendo seu patrimônio. A saída de atores e jornalistas para outras emissoras é frequente. Tem algo a ver com perdas de verbas publicitárias do governo Federal?

Campanha eleitoral

O que motiva o eleitor?

Época de campanha, época de muitas perguntas, a partir de uma que é central: quais fatores influem no voto a um candidato? O primeiro é o bolso. Relaciona-se à luta pela sobrevivência e à necessidade do eleitor de garantir o bem-estar do estômago. Trata-se de um dos impulsos básicos do ser humano, que age principalmente em épocas de contenção, crise e desemprego. Quaisquer propostas para garantir o sustento de pessoas e famílias, quando feitas de maneira crível e objetiva, laçam o interesse das pessoas. Um bom emprego ou a perspectiva de melhorar de vida simbolizam o eixo desse discurso.

Proximidade

O segundo fator de interesse liga-se à região, ao município, ao bairro, à rua. Trata-se do fator proximidade, que, nos últimos tempos, tem despertado a intenção dos eleitores. O voto está ficando cada vez mais distritalizado, regionalizado. As pessoas querem ver melhoramentos nos espaços que as abrigam. Esses são fatores de natureza racional.

Experiência

O terceiro elemento está voltado para a experiência que o eleitor tem ou teve com o candidato. Trata-se, no caso, do conhecimento, que abriga, ainda, a tradição familiar, o grau de intimidade. É como o eleitor estivesse votando em alguém da família. Outro tipo de apelo, próximo ao anterior, relaciona-se às indicações feitas pelo grupo de referência do eleitor - seus próprios familiares, vizinhos, amigos e companheiros de trabalho. O grupo funciona como guarda-chuva do candidato.

Inovações

Outro conjunto diz respeito ao próprio candidato. A começar por sua história pessoal e profissional. Se tiver coisas a mostrar, ficha limpa, passado decente, ganha boa sinalização. Mas nada disso funciona, se o candidato não tiver visibilidade e não apresentar um programa inovador que venha bater no sistema de signos, interesses e vontades do eleitorado. Aspectos pessoais - formas de se vestir, falar, gesticular - chamam a atenção. A estética deve ser adequada às culturas regionais, não cabendo, no caso, exageros. Certos cuidados precisam ser tomados para que os perfis não provoquem imagens artificiais.

As circunstâncias

A onda das circunstâncias. Bons candidatos sempre recebem uma ajudazinha do clima dos momentos, formado por ventos que sopram a favor, e que o projetam como a pessoa que melhor cristaliza os sentimentos gerais e mais empatia provoca junto aos diversos grupos sociais. Combinar esses elementos requer uma química complexa. O caldo dos fatores de motivação de voto é uma ótima vitamina para candidatos anêmicos.

O segundo turno

Costuma-se dizer que o segundo turno é outra campanha. Não o é. Na verdade, trata-se da continuidade da primeira, observando-se essas características. O tempo de programa eleitoral será o mesmo, dando, assim, chances para uma comparação mais exaustiva e atenta entre perfis e programas. Os minutos que caberão aos dois candidatos serão suficientes para se ter uma avaliação mais completa dos ideários. É bem verdade que a semântica, a mensagem oral, o plano das ideias, deverão ser complementados pela estética da TV - na estratégia de embalar os perfis com celofane mais colorido.