Abro a coluna com uma deliciosa historinha de Pernambuco.
"O carro se atolou-se"
Walfredo Paulino de Siqueira foi um típico coronel da política pernambucana. Escrivão de polícia, comerciante, deputado, industrial, presidente da Assembleia, vice-governador de PE. Era uma figura folclórica, como conta Ivanildo Sampaio, ex-diretor de redação do Jornal do Commercio, de Pernambuco, e meu contemporâneo na faculdade. Um dia, dois vereadores discutiam sobre o uso da partícula "se". O exemplo era com um automóvel que ficara preso em meio a um atoleiro. O primeiro afirmava que a forma correta de se expressar era falar que "o carro atolou-se"; o outro insistia que não; o correto era "o carro se atolou". Consultado, Walfredo deu a sentença salomônica:
- Escutem aqui. Se os pneus que ficaram presos foram os dois da frente, o correto é dizer que "o carro se atolou". Se foram os pneus traseiros, a gente fala assim: "o carro atolou-se". Mas, acontecendo de ficarem presos os quatro pneus, os da frente e os de trás, então, meus filhos, a forma correta mesmo é "o carro se atolou-se"...
Conter o ímpeto
A prisão da chefona dos 300 do Brasil, Sara Giromini (de apelido Winter), dá uma segurada nesse movimento, que vinha desautorizando a ordem pública em Brasília. O tom desaforado com que a armamentista Sara tratou o ministro Alexandre de Moraes, prometendo desferir nele socos e porradas, e a confissão de que seus patrulheiros usavam armas, exigiam urgentes providências. Parecia, até, que a senhora "inverno" queria ser presa e subir ao palco das vítimas bolsonaristas. A prisão provisória (por 5 dias) pode ser transformada em preventiva, podendo permanecer mais tempo trancafiada. Sara tem evidente interesse em pavimentar a esfera da política. Vai ser alvo de manifestações e apoios de alas radicais. E, claro, sob as palmas da deputada Zambelli. P.S. Já foi do DEM, de onde foi expulsa, e candidata a deputada Federal. Teve 17 mil votos. Uma franco-atiradora.
STF sob ataque
Nunca se viu tanto desaforo ao STF quanto nesse ciclo bolsonariano. Pedidos de fechamento da Corte, frases desbocadas contra quadros, notas oficiais de generais ministros, notas de militares da reserva emolduram a paisagem em torno do Judiciário. Até a figura do presidente da República dá a impressão de que atiça a querela. O presidente do Supremo, Dias Toffoli, rebate, Gilmar e Celso de Mello também manifestam contrariedade, Marco Aurélio faz pontuações acuradas e o vice-presidente Luiz Fux, em nota, ensina que as FFAA não exercem o papel de poder moderador, ensejando resposta em nota de militares da reserva. Essa tensão deve continuar. No pano de fundo, vê-se o inquérito das Fake News, a cargo do ministro Alexandre de Moraes. Ministro que está dando bem o recado. Elogiado desempenho. Atendendo à solicitação da PGR, autorizou busca e apreensão em uma leva de atiradores contra a democracia.
Ministério das Comunicações
A recriação do Ministério das Comunicações abrirá um novo espaço no capítulo da imagem do Governo. Como se sabe, as Comunicações, assim mesmo no plural, abrigam as estruturas técnicas, a saber: a radiodifusão, a teledifusão, as estruturas das comunicações telefônicas, os Correios, a Anatel, a política das telecomunicações - os leilões da banda larga etc. A novidade é a absorção pelo Ministério da fatia da Comunicação Social (no singular). Este universo é composto pelas áreas tradicionais de pesquisas de avaliação, mensagens, enfim, os conteúdos produzidos pela administração Federal e consequente transmissão desses pacotes para as mídias massivas, mídias regionais e redes sociais.
Um desafio
Um desafio e tanto. Para dominar essas duas frentes, foi escolhido o deputado Fábio Faria (PSD-RN). Trata-se de um parlamentar jovem, bem articulado e com facilidade no trato com os colegas, conhecedor dos meandros da política, filho do ex-deputado estadual e ex-governador Robinson Faria. E genro de Silvio Santos. O deputado terá a missão de burilar um espaço que, até agora, tem sido um problemão para o governo: a questão da imagem. Significa mexer em casa de abelhas por se saber que a área é povoada por quadros de grande influência junto ao presidente. Tem muitos mandões nesse departamento de imagem. Gente com poder destruidor. O general Ramos tira do colo um fardo. O jeitoso Fábio Faria calibrará as engrenagens desse poderoso motor? E mais: vem aí a disputa pelo domínio do 5G no Brasil. Chineses ou americanos? Fábio vai ter que aprender a dançar na corda bamba.
Pandemia e política
Infelizmente a Covid-19, esse bichinho microscópico, tem vestido o traje da política em nosso país. Não fosse isso, até poderia estar sendo derrotado. Mas, por interesses políticos, o danado está expandindo seu desfile de mortes. Os números crescem assustadoramente. O Brasil, por enquanto, só fica atrás dos EUA. Já passou o Reino Unido. São Paulo começou a flexibilização. Há quem projete aumento de 75% de vítimas na esteira da abertura de lojas, comércio de rua e shoppings. Nesse ano eleitoral, o Brasil sobe ao pódio da irresponsabilidade.
Weintraub quase fora
É possível que durante a leitura desta nota, o ministro da falta de educação, Abraham Weintraub já esteja fora do ministério. Quem se habilita a ingressar nesse ninho de cobras? Bolsonaro quer acarinhar o amigo com um cargo na estrutura. O sujeito vai estar na linha de frente do bolsonarismo. Entrará na política. Está na cara. A conferir.
Trump tragado?
Há quem esteja apostando da derrota de Donald Trump nas eleições americanas de novembro próximo. Não estaria comandando com sucesso a luta contra o novo coronavírus e tem sido um desastre na condução da política contra o racismo. Os EUA passaram a abrigar, quase todos os dias, manifestações contra o brutal assassinato de George Floyd. E mais um jovem negro foi morto por policiais semana passada. Trump representa o oposto ao que defendem as massas norte-americanas. Só tem agrado para suas bases conservadoras. Se a economia não melhorar e se a pandemia não arrefecer, sua derrota será inexorável. E o que dirá o nosso chanceler Ernesto Araújo ante a derrota do seu ídolo? O governo Bolsonaro perderá a biruta.
Fux no comando
Luiz Fux passa a comandar o STF em setembro. Considerado de linha mais dura, da ala punitivista, Fux pode mudar a cara da Suprema Corte, agindo com mais rigor na defesa da Casa. Depois dele, o tribunal será comandado por Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e o relator da Lava Jato, Edson Fachin. Quem vai para o lugar de Celso de Mello, a sair em novembro? Quem é o perfil "terrivelmente evangélico", anunciado pelo presidente como o perfil que deseja?
Nomes
Um dos nomes mais cotados para preencher a vaga de "ministro evangélico" é o do atual ministro da Justiça, André Mendonça. Considerado técnico e discreto, Mendonça é pastor da Igreja Presbiteriana em Brasília, servidor de carreira da AGU e possui bom trânsito tanto entre integrantes do STF e parlamentares. Outros nomes cotados para a vaga são o do ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o juiz Federal Marcelo Bretas e o procurador Guilherme Schelb, entusiasta do projeto Escola sem Partido, uma das bandeiras do presidente.
Pagamento pelo WhatsApp
O fim da moeda física está à vista. A cada dia, o uso de cédulas diminui. Agora, vem o pagamento via WhatsApp. O Brasil será o laboratório nessa área, promete Mark Zuckerberg, o programador e empresário norte-americano, que ficou conhecido internacionalmente por ser um dos fundadores do Facebook, a rede social mais acessada do mundo. "O WhatsApp é muito usado no Brasil, tanto por pessoas como por pequenas empresas", disse. "Acreditamos que podemos ajudar a aumentar os pagamentos digitais para pequenas empresas e apoiar a inclusão financeira".
Chances
Questões postas ao analista em lives e interlocuções nos últimos tempos. Afinal, quais são as chances de fulano, beltrano e sicrano em 2022. Respondo: é muito cedo. O que posso é sugerir um roteiro de ideias. Vamos lá. Sem dar nomes aos bois, levantemos algumas hipóteses.
Uso as variáveis:
1. Economia recuperada às margens de outubro de 2022.
2. Economia no fundo do poço às margens do fundo do poço.
3. Produto Nacional Bruto da Felicidade (PNBF)- Alto: abrange satisfação social, estabelecimentos de saúde atendendo bem a população, mobilidade urbana sem congestionamentos, paz e harmonia social.
4. PNBF - Baixo. Clima de indignação social.
5. Surtos e ondas da pandemia aqui e ali. Ressurgência da crise.
6. Segurança Pública- Menor violência.
7. Segurança Pública - Expansão da violência.
Medição
Uma régua de 0 a 100 cm.
Perfis
A) Candidato da situação - Direita radical
Alternativa 1 - Economia recuperada - Régua de 0 a 100, 80 cm.
Alternativa 2 - Economia no fundo do poço - Régua de 0 a 100: 20 cm.
Alternativa 3 - PNBF alto - Régua de 0 a 100: 80 cm
Alternativa 4 - PNBF baixo - Régua de 0 a 100: 10 cm
Alternativa 5 - Régua de 0 a 100: 30 cm
Alternativa 6 - Régua de 0 a 100: 70 cm
Alternativa 7 - Régua de 0 a 100: 30 cm
B) Candidato da oposição - Esquerda tradicional
Alternativa 1 - Régua: 15 cm
Alternativa 2 - Régua: 70 cm
Alternativa 3- Régua: 20 cm
Alternativa 4- Régua: 70 cm
Alternativa 5 - Régua: 40 cm
Alternativa 6 - Régua: 20 cm
Alternativa 7 - Régua: 40 cm
C) Candidato do centro - Grandes e médios partidos
Alternativa 1- Régua: 50 cm
Alternativa 2 - Régua: 80 cm
Alternativa 3 - Régua: 70 cm
Alternativa 4- Régua: 80 cm
Alternativa 5- Régua: 60 cm
Alternativa 6 - Régua: 60 cm
Alternativa 7 - Régua: 70 cm
Post Scriptum
- Como se percebe, o esgotamento da polarização eleva as chances (pontuação melhor) para uma candidatura do meio.
- O candidato do PT teria extremas dificuldades. Nem que o partido seja recriado.
- Bolsonaro só leva a melhor se as alternativas acima lhe forem favoráveis.
Este painel é mero exercício de projeção. Sem rigor científico. Feeling. Observação de cenários.